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    Admirado por suas ideias, Bielsa volta ao templo de sua 1ª (e rara) consagração

    Técnico do Uruguai visita a Bombonera para enfrentar a Argentina, líder das Eliminatórias

    Melissa Velásquez Loaizada CNN

    “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”, diz o aforismo do filósofo pré-socrático Heráclito. Marcelo Bielsa de fato não estará nas mesmas águas, mas estará num palco em que o cenário e seus atores serão tão familiares quanto próximos.

    Com o Uruguai, Bielsa enfrentará a Seleção Argentina, que deixou de dirigir há 19 anos. O técnico de Rosario enfrentará outro rosarino, o craque Lionel Messi.

    Após 15 anos, o treinador volta a enfrentar a Albiceleste. A última vez foi no dia 15 de outubro de 2008, quando comandava o Chile, que venceu a Argentina de Alfio Basile por 1 a 0, em Santiago.

    “El Loco”, como é conhecido, derrotou o Brasil na quarta rodada das Eliminatórias, no lendário Estádio Centenario, após 22 anos sem vitórias da Celeste em casa diante da Seleção Brasileira. No mesmo icônico estádio, derrotou o Chile na estreia com uma vitória por 3 a 1. Como visitante, sofreu uma derrota para o Equador em Quito e empatou em Barranquilla contra a Colômbia.

    Dos 12 pontos em disputa, somou sete, mas o que mais conquistou foi a aceitação de seu método de trabalho e o status como responsável máximo pela seleção charrúa. Em seis meses à frente da Celeste, já impôs sua marca e reconhecimento.

    “Ele está calando todas as nossas bocas”, reconheceu Richard “Chengue” Morales, um veterano da seleção uruguaia.

    A Celeste e a marca de Bielsa: o futebol ofensivo

    Seu futebol vertical foi demonstrado na primeira partida contra o Chile, onde os jogadores mostraram a marca do jogo de Bielsa de pressão constante sobre o rival.

    “O Uruguai tem jogadores para tentar enfrentar um rival como a Argentina sem antes tomar precauções exageradas, o que faria com que uma das grandes virtudes que o Uruguai tem como equipe, o manejo de bola e a qualidade individual, tente vir à tona”, assegurou Bielsa.

    A Celeste conta com jogadores de grande qualidade técnica, entre eles Federico Valverde, que brilha no meio de campo do Real Madrid e que é o símbolo desta seleção, além de capitão. Destacam-se também Ronald Araujo, zagueiro do Barcelona, o atacante Darwin Núñez, que brilha pelo Liverpool na Premier League, Facundo Pellistri do Manchester United, entre outros.

    “Se não tivermos cinco ou seis jogadores nas melhores equipes e depois construirmos um projeto de jogo sem que esses jogadores tenham a possibilidade de tentar demonstrar o que sabem fazer, do meu ponto de vista ver isso seria um erro”.

    O desafio de enfrentar a seleção campeã mundial

    Na preparação para esse duelo cheio de história, Bielsa elogiou os campeões mundiais. “É um ciclo brilhante, não só nos resultados, mas na vontade de continuar vencendo e no tipo de futebol que constrói”, elogiou Bielsa.

    A comissão técnica da Seleção Argentina conhece muito bem Bielsa, já que o treinador e seus assistentes foram treinados pelo rosarino.

    Lionel Scaloni e seus auxiliares, formada por Walter Samuel, Pablo Aimar e Roberto Ayala, foram testemunhas diretas do estilo Bielsa. A marca do técnico foi elogiada publicamente por alguns deles. E o treinador campeão mundial não hesitou em elogiá-lo.

    “Para nós, para quem teve a oportunidade de ser treinado por ele, é uma referência. Sabemos bem como ele pensa, como analisa. Agradecemos muito”, disse Scaloni.

    [cnn_galeria active=”2047461″ id_galeria=”2047526″ title_galeria=”Veja imagens da comemoração dos jogadores da Argentina após a conquista da Copa”/]

    Lionel Scaloni também contou uma anedota que o marcou fortemente. Foi durante seu ciclo como jogador do Deportivo La Coruña, quando fez parte também da Seleção Argentina.

    “Na minha primeira conversa com Bielsa, no Japão, ele me chamou na sala e me fez assistir a um vídeo do La Coruña contra o Racing de Ferrol pela Copa do Rei. Tínhamos vindo de uma partida teoricamente ruim e Bielsa me disse: ‘Esta não é a atitude da Seleção Nacional, este não é um jogador da Seleção Nacional’. E ele tinha razão, são coisas que ficam contigo…”, analisou o jovem treinador campeão mundial.

    Pablo Aimar, auxiliar de Scaloni, é conclusivo sobre o que significou para ele ser treinado por Bielsa.

    “Quem passou pelas mãos dele sabe que saímos melhores jogadores do que quando entramos, é isso que ele deixa para você”, disse o ídolo de infância de Messi.

    Enfrentar a equipe que conquistou o Mundial no Catar será um desafio para o Uruguai, ao mesmo tempo que uma vitória pode dar maior força e status à equipe de Bielsa.

    “Não será um jogo simples, de forma alguma. O modelo de jogo da Argentina é totalmente claro, joga da mesma forma há muito tempo, com o mesmo nível e da mesma forma que tentaremos jogar”, disse Bielsa na prévia do duelo.

    Treinador “autor”, que vive do e para o futebol

    O comandante da Celeste é um técnico autoral. Suas equipes têm a intensidade que o define. Seu método de trabalho, dotado de um amplo cardápio de informações e com atenção aos detalhes, é conhecido mundialmente. Marcelo Bielsa é uma equipe à parte.

    “Para mim o futebol é tudo. Penso em futebol, falo sobre futebol, leio futebol e essa é uma vida que não pode ser vivida para sempre. É por isso que gostaria de moderá-la”, diz ele como uma de suas máximas.

    Nos quatro jogos que o Uruguai disputou nestas Eliminatórias, a seleção já deixou uma imagem clara sobre o que significa para os rivais jogar contra ela. É uma equipe uma equipa com uma dinâmica tremenda, que ataca em qualquer cenário e o seu estilo não muda independentemente de quem está à sua frente.

    “A única forma de entender o futebol é a pressão constante, jogando no campo do adversário e controlando a bola. Sou obsessivo por atacar. Assisto vídeos para atacar, não para defender. Você sabe qual é o meu trabalho defensivo? ‘Todos nós corremos'”.

    Contudo, nestes primeiros meses surgiu uma polêmica no Uruguai, já que dois emblemas da seleção não tinham sido convocados nos primeiros quatro jogos das Eliminatórias: Edinson Cavani e Luis Suárez.

    Bielsa elogiou os dois e os considerou “glórias” do futebol uruguaio, mas optou inicialmente por jogadores mais jovens, talvez pensando na projeção deles para a Copa do Mundo de 2026. Porém, convocou a dupla para este encontro duplo (Cavani, com uma lesão pelo Boca, foi cortado) e não hesitou em elogiar publicamente Suárez.

    “O desempenho de Suárez se expressa em gols. Se ele jogar muito bem e não converter, não se sentirá bem. Seu time é um dos primeiros colocados e faz parte do ataque mais goleador do Campeonato Brasileiro”, detalhando o bom desempenho do uruguaio no Grêmio.

    Volta ao templo da primeira consagração

    Ao enfrentar Messi em La Bombonera, “El Loco” retorna ao templo xeneize que lhe deu a primeira grande consagração e, consequentemente, sua primeira grande alegria no futebol argentino.

    Foi no dia 9 de julho de 1991, quando seu Newell’s Old Boys derrotou o Boca Juniors, comandado pelo uruguaio Óscar Washington Tabárez, na disputa por pênaltis. Vitória que marcou o seu primeiro título como treinador.

    Entre os vários desafios desta quinta-feira, há um que surge como inevitável: desmantelar a arte que o filho mais famoso de Rosario, Lionel Messi, cria no campo de jogo.

    “Não existe método ou fórmula infalível para marcar Messi… Teríamos que perguntar a ele o que seria conveniente para impedi-lo de jogar. E para o bem do futebol é melhor que assim seja”, concluiu.

    Bielsa, um treinador elogiado, criticado, admirado. Um técnico com ferramentas próprias e que até hoje gera discussões em seu país, um personagem único que não deixa ninguém indiferente.

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