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    Ex-Corinthians, Júnior Moraes se emociona ao falar sobre guerra na Ucrânia

    Dois anos depois do início do conflito, jogador contou à CNN relação dos filhos coma guerra e como trauma influenciou sua performance no Corinthians

    Júnior Moraes jogava no Shakhtar Donetsk e voltou ao Brasil devido à guerra
    Júnior Moraes jogava no Shakhtar Donetsk e voltou ao Brasil devido à guerra Reprodução/Instagram

    Ana Cristina Schwambachda CNN

    A guerra na Ucrânia, que completa dois anos neste sábado (24), afetou as mais diversas áreas do país, inclusive o esporte. Júnior Moraes atuava no Shakhtar Donetsk e teve que voltar ao Brasil depois do início do conflito.

    Mas se engana quem pensa que, ao pisar em solo brasileiro, a guerra ficou para trás. Em entrevista à CNN, o atacante contou que ele e a família sofrem ao ver o lugar onde construíram a vida ser destruído.

     

     

    “É uma dor que eu tenho dentro de mim nesses dois anos. É como se carregasse esse peso. A minha esposa ama o país, gostaria de estar vivendo lá ainda, meus filhos também. E logo que eu chego aqui no Brasil, eu vejo o lugar onde construí a minha vida, maior parte da minha carreira, onde meus filhos passaram o maior tempo de vida, sendo destruído, totalmente destruído. E não poder voltar, não poder acabar com isso”, explicou.

    Antes de atuar pelo Shakhtar Donetsk, Júnior Moraes já tinha jogado pelo Dínamo de Kiev e, em 2019, se naturalizou ucraniano. Os dois filhos do jogador viveram no país a maior parte da vida e a mudança para o Brasil não apagou o vínculo com a Ucrânia. Emocionado, Júnior Moraes revelou que os filhos rezam pelo fim da guerra.

    As orações dos meus filhos, toda noite, eles pedem pra Deus que acabe essa guerra. E não é uma coisa que eu pedi pros meus filhos falarem, isso partiu deles. É uma dor muito grande. Meu filho, na cabeça dele, os amiguinhos da escola que ele tinha estão mortos. E como explicar isso pra ele?

    Júnior Moraes, atacante

    O trauma de viver o início da guerra interferiu também na carreira de Júnior Moraes. Não só porque teve que deixar o Shakhtar, mas porque o estresse causado teve consequências psicológicas e também físicas.

    Depois de deixar a Ucrânia em março de 2022, o atacante assinou contrato de dois anos com o Corinthians, mas não rendeu o esperado em campo. O contrato foi rescindido em junho de 2023. Nesse mesmo mês, Júnior Moraes revelou ao podcast Denilson Show que desenvolveu uma alergia durante o período em que atuou no Timão. Hoje, o jogador tem a confirmação que os sintomas foram uma consequência do trauma da guerra.

    “Eu ia concentrar pros jogos e de repente de noite, de madrugada, minha cara começava a inchar, deformar mesmo, ficava enorme, nunca tinha tido essas coisas. E a princípio a gente achava que era algum alimento, até entender que não. Em menos de dois meses eu tive sete reações assim. Com o tempo a gente entendeu que eu estava com um processo de burnout, com estresse alto de cobrança, de eu mesmo, comigo mesmo, de querer jogar e performar e eu não estava conseguindo.”

    Juntou um trauma grande que eu passei com estresse e a pressão e o corpo estava gritando, uma forma de pedir ajuda.

    Júnior Moraes, atacante

    Depois da rescisão com o Corinthians, Júnior Moraes decidiu tirar um tempo para si mesmo e para a família. Hoje está 100% recuperado, já pensa no futuro e no próximo passo da carreira. O atacante revelou que está treinando no Santos para manter a forma.

    “Com o bom relacionamento que eu tenho dentro do clube com o presidente Marcelo Teixeira e todos que trabalham no clube. Passei muitos anos lá, né. Minha família jogou lá, meu pai, meu irmão e eu, então a gente tem uma história muito linda no Santos. Eles abriram a porta pra eu treinar a parte e hoje eu estou 100% e estou decidindo. Tenho algumas conversas adiantadas, mas até o começo de março quero decidir qual vai ser meu próximo passo.”

    Leia outras respostas da entrevista

    Havia possibilidade de ser convocado para a guerra por ser naturalizado ucraniano?

    “Naquela loucura eu não pensava nisso. No segundo dia, uma notícia saiu dizendo que eu teria que servir o exército. Realmente não foi uma notícia verdadeira e isso me abalou muito. Porque quando saiu essa notícia eu pensei que o país já estava em guerra, uma situação tão complicada, das pessoas verem isso como se eu estivesse fugindo e na verdade não foi nada disso. Fiquei muito triste com essa notícia, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça uma situação de ter que ficar lá e participar da guerra, até porque não tenho nenhum preparo pra confrontar ninguém.”

    “Acho que a melhor forma que eu tenho de colaborar é ajudando as pessoas que estão lá, olhando as necessidades básicas, no frio ajudando com geradores. Tem um instituto que eu ajudo há muitos anos, que eu sou um dos embaixadores, que ajuda crianças com câncer e que até hoje está funcionando, graças a Deus, a gente consegue ajudar e continuar o tratamento das crianças mesmo em meio a uma guerra. Essas crianças realmente são muito fortes, muito especiais. Porque além de estarem passando pela guerra pessoal, de passar por uma doença tão grave, também estão presenciando uma guerra. Então acho que a forma que posso ser mais útil é dar todo suporte e ajuda pros amigos que estão lá ainda e pras crianças que precisam, vou sempre fazer o máximo que puder.”

    Pretende voltar à Ucrânia depois da guerra?

    “São gerações que vão ser afetadas por isso. Porque eu fiquei três dias e meio ali e passei por momentos difíceis depois que voltei, muito complicados. Demorei pra voltar à vida normal em termos de aceitar o que estava acontecendo e ter que voltar a trabalhar e seguir a minha vida mesmo com tudo acontecendo. Fico imaginando como está sendo pras pessoas que continuam lá e que foram afetadas pro resto da vida, pessoas que perderam pai, mãe, sem falar outras coisas que durante uma guerra acontecem com crianças, com mulheres.”

    “Oro pra que tudo termine o mais rápido possível e que a Ucrânia volte a ser um país livre. É um país maravilhoso, vivi muitas alegrias lá, mantenho contato com muita gente, pretendo sim um dia voltar. Profissionalmente falando também, faltavam 20 gols pra ser o maior artilheiro do país. Meu sonho um dia voltar e fazer parte da reconstrução da Ucrânia.”

    Tratamento ajudou a superar trauma

    “Hoje eu quero falar sobre isso porque hoje eu estou bem. Depois que saí do Corinthians, parei um tempo pra estar com a minha família. Ficar fora pra estabilizar tudo e depois voltar a poder jogar, estar bem psicologicamente, mental e físico. O que eu quero falar sobre isso é que foi graças a Deus e aos profissionais da área que eu consegui recuperar. Fiz tratamento psicológico, foram pessoas incríveis que me ajudaram a recuperar, passar esse trauma. A entender o que estava acontecendo comigo, porque até então eu não tinha informação.”

    “É interessante falar que eu tinha preconceito e eu julgava isso como uma coisa que nunca ia me atingir. Eu achava que isso nunca fosse me atingir e realmente existe e é importante falar sobre tudo o que aconteceu pra que outros jogadores, outras pessoas que passem por isso, também procurarem ajuda profissional porque é muito importante, crucial pra seguir em frente. Então foi graças aos profissionais, o pessoal do Corinthians também foi muito incrível comigo, da área da saúde, o pessoal o tempo todo me ajudando. Hoje me sinto recuperado 100% desse diagnóstico que tive ano passado graças a esses profissionais.”


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