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    Copa no Catar acolherá público LGBTQIA+, garante presidente do comitê organizador

    Em meio a preocupações sobre direitos humanos, chefe da Copa do Mundo promete que país anfitrião será “tolerante” e “acolhedor”

    Nasser Al Khater, presidente do comitê executivo da Copa do Mundo do Catar
    Nasser Al Khater, presidente do comitê executivo da Copa do Mundo do Catar FIFA/divulgação

    Amanda DaviesGeorge Ramsayda CNN

    Faltando menos de um ano para o início da Copa do Mundo FIFA de 2022, as questões em torno da forma como o país anfitrião, o Catar, lida com questões humanitárias, mostra poucos avanços – especificamente no que diz respeito às leis anti-homossexualidade.

    Nasser Al Khater, o presidente-executivo do comitê organizador do torneio, insiste que o Catar tem sido tratado “injustamente” desde que conquistou o direito de sediar o torneio, há 11 anos.

    “Sabemos que a Copa do Mundo traz consigo uma certa dose de escrutínio. Já vimos isso no passado”, disse Al Khater a Amanda Davies, da CNN. “Mas se for algo que sirva como um catalisador para a mudança, somos todos a favor.”

    Entre os mais recentes críticos da Copa do Mundo do próximo ano, a primeira a ser realizada no Oriente Médio, está o jogador de futebol australiano Josh Cavallo, o único atual jogador assumidamente gay na primeira divisão do futebol masculino.

    No início deste mês, Cavallo disse que ficaria “com medo” de jogar no Catar, onde a homossexualidade é ilegal e pode ser punida com até três anos de prisão.

    Em resposta aos temores de Cavallo, Al Khater disse: “Pelo contrário, damos as boas-vindas a ele aqui no estado do Catar, damos as boas-vindas a ele para vir ainda antes da Copa do Mundo… Ninguém se sente ameaçado aqui, ninguém se sente inseguro”.

    Ele acrescentou: “A versão de que as pessoas não se sentem seguras aqui não é real. Eu já disse isso e digo novamente, todos são bem-vindos aqui. Todos são bem-vindos aqui e todos se sentirão seguros aqui. O Catar é um país tolerante. É um país acolhedor. É um país hospitaleiro”.

    Em outubro, o torcedor de futebol galês James Brinning disse à CNN que, por conta da sua sexualidade, “não se sentiria seguro” ao viajar para o Catar se o País de Gales se classificasse para a Copa do Mundo.

    “É realmente perturbador pensar nisso, porque, se isso acontecer, devo ser capaz de fazer parte de um momento tão importante na história do futebol galês”, disse ele.

    Esta não é a primeira vez que as leis anti-LGBTQIA+ durante a realização de um grande torneio de futebol causam preocupação.

     

     

    Em junho, o órgão que tutela o futebol europeu, a UEFA, recusou um pedido para iluminar a Allianz Arena de Munique com as cores do arco-íris para a partida da Euro 2020 entre a Alemanha e a Hungria, após uma lei anti-LGBTQIA+ ser aprovada pelo parlamento húngaro.

    Antes da Copa do Mundo de 2018, o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido avisou, antes do torneio, que os membros da comunidade LGBTQIA+ enfrentariam um “risco significativo” ao viajar para a Rússia.

    E o futebol não é a única comunidade esportiva a levantar preocupações sobre as leis anti-homossexualidade do Catar. Antes do Grande Prêmio do Catar de Fórmula 1 em 21 de novembro, Lewis Hamilton, que venceu a corrida, foi amplamente elogiado por usar um capacete com as cores que simbolizam o orgulho LGBTQIA+ – uma versão redesenhada e mais inclusiva da tradicional bandeira do arco-íris, que esteve acompanhada das palavras “we stand together” (nós permanecemos unidos, em tradução livre).

    Al Khater reconheceu que o Catar tem uma abordagem mais rígida em relação às demonstrações públicas de afeto em comparação com outros países e, quando questionado pela CNN sobre as leis do país, Al Khater se recusou a dizer que a homossexualidade é ilegal, dizendo apenas que, o casamento sexual é ilegal no Qatar “como em muitos países”, disse a autoridade catariana.

    “Em diferentes países, há mais leniência com as demonstrações públicas de afeto”, disse ele.

    “O Catar e a região são muito mais modestos, e o Catar e a região são muito mais conservadores. E é isso que pedimos aos torcedores que respeitem. E temos certeza de que os torcedores respeitarão isso. Respeitamos as diferentes culturas e esperamos que outras culturas respeitem a nossa.”

    Na última década, o Catar também esteve sob pressão em relação ao tratamento dos trabalhadores migrantes envolvidos na construção de estádios para a Copa do Mundo.

    A Organização Internacional do Trabalho (OIT) disse recentemente que o Catar está relatando e investigando de forma inadequada as mortes no local de trabalho.

    No início deste ano, Barun Ghimire, um advogado de direitos humanos baseado em Katmandu, no Nepal, disse à CNN que a situação dos trabalhadores nepaleses é “particularmente grave no Golfo”. Ghimire atua contra a exploração de migrantes nepaleses que trabalham no exterior.

    “Trabalhadores migrantes dos países mais pobres vão para o Catar em busca de emprego”, disse ele, acrescentando: “A Copa do Mundo do Catar é realmente a taça sangrenta – o sangue dos trabalhadores migrantes”.

    Ghimire ressaltou, porém, que a culpa não deve ser atribuída apenas ao Catar. Ele disse que o governo nepalês e outros países também deveriam ser responsabilizados por não fornecerem proteção adequada aos trabalhadores em seus países de destino.

    Em relatório divulgado este mês, a OIT disse que pelo menos 50 trabalhadores do Catar morreram em 2020, pois lacunas na coleta de dados pelas instituições do país impediram a organização de apresentar um número definitivo sobre o número de acidentes de trabalho fatais.

    Em um comunicado, o Ministério do Trabalho do Catar disse que “os números relatados na mídia sobre as mortes de trabalhadores migrantes têm sido enganosos”, enquanto Al Khater também refutou que há lacunas nas reportagens do Catar sobre mortes de trabalhadores.

    “Nossos locais de trabalho são limpos… Eles têm empreiteiros, eles têm equipes de bem-estar dos trabalhadores no local”, disse ele. “Se houvesse uma fatalidade, todos saberiam. Não é algo que você possa esconder.”

    O jornal britânico The Guardian relatou no início deste ano que 6.500 trabalhadores migrantes morreram no país desde que o Catar venceu sua candidatura para sediar a Copa do Mundo de 2010, muitos dos quais estavam envolvidos em trabalhos de baixa renda e perigosos, geralmente realizados em condições extremas de calor.

    O relatório, que a CNN não teve acesso, não conectou todas as 6.500 mortes com os projetos de infraestrutura da Copa do Mundo.

    Al Khater repetiu que refuta a veracidade do relatório, dizendo: “Eu nego categoricamente as declarações do The Guardian”.

    Ele acrescentou: “Isso é algo que precisa ser deixado absolutamente claro. Absolutamente claro. O número de fatalidades em estádios da Copa do Mundo relacionadas ao trabalho são três. Há pouco mais de 30 fatalidades não relacionadas ao trabalho.”

    Nos últimos anos, o Catar implementou políticas para reformar sua estrutura de trabalho.

    O sistema de patrocínio estatal, conhecido como kafala, foi desmantelado no ano passado, em parte permitindo que os trabalhadores migrantes mudassem de emprego antes do final de seus contratos sem exigir o consentimento de seus empregadores.

    O Catar também introduziu um salário mínimo de US$ 275 por mês que se aplica tanto a trabalhadores migrantes quanto a trabalhadores domésticos, uma política que afirma ser a primeira desse tipo na região.

    “O progresso feito nos 10 anos anteriores pelo estado do Catar não é comparável a nenhum progresso feito em qualquer lugar do mundo em um período de tempo tão curto”, disse Al Khater.

    “A aprovação de leis geralmente leva muito tempo. Ela foi aprovada muito rapidamente no estado do Catar. Elas foram colocadas (em votação) em um processo rápido para garantir que sejam implementadas.”

    Diversas seleções, incluindo Dinamarca, Alemanha e Noruega, já destacaram as questões de direitos humanos antes da Copa do Mundo.

    A Dinamarca é a última a se pronunciar depois que dois patrocinadores disseram que renunciarão ao direito de divulgação de suas marcas nos equipamentos de treinamento dos jogadores. As empresas pretendem trocar sua marca por mensagens destacando questões de direitos humanos no Catar.

    O sindicato do futebol do país também disse que vai reduzir ao mínimo o número de viagens ao Catar para evitar a promoção de eventos em torno da Copa do Mundo. Os protestos dos jogadores devem continuar na preparação e durante o torneio do próximo ano.

    “Estamos preocupados com isso? Não, eu não diria que estamos preocupados com isso”, disse Al Khater. “Mas acho que deve haver uma responsabilidade por parte desses jogadores e sobre essas federações ao garantir que, quando tomarem posições, façam isso de maneira precisa e refletindo a realidade.

    “Porque, independentemente do que as pessoas acham que são fatos, as pessoas também precisam reconhecer o progresso, elas precisam reconhecer a responsabilidade que o estado do Catar assumiu em relação ao progresso, para promulgar leis, para proteger os direitos dos trabalhadores, seu bem-estar.”

    Terça-feira (30) marca o início da Copa Árabe, que envolve 16 times de toda a região, que também verá a inauguração de duas sedes da Copa do Mundo – Al Bayt Stadium e Ras Abu Aboud Stadium – inauguradas no dia de abertura do torneio.

    Para o comitê organizador da Copa do Mundo do Catar 2022, o evento oferece a chance de testar alguns dos locais da Copa do Mundo antes da competição do próximo ano.

    “Será um grande teste, e muito útil”, disse Al Khater.

    O torneio do ano que vem, porém, terá uma escala diferente da Copa Árabe, com mais times, mais torcedores e mais olhos observando a partir de todos os lugares do mundo todo.

    Até o momento, 13 países já se classificaram para o torneio.

    (Texto traduzido. Leia o original aqui.)