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    Após críticas, Copa “tranquila” é vista como crucial para o Catar

    Para a península árabe, sediar o mundial faz parte de uma estratégia mais ampla de desempenhar um papel descomunal nos assuntos globais

    Maya GebeilyAndrew Millsda Reuters

    Depois de um caminho acidentado para a Copa do Mundo marcado por críticas ao seu histórico de direitos humanos, o Catar tem muito em jogo para que o torneio transcorra sem problemas se quiser ser lembrado como um sucesso e ajudar a afirmar o lugar de Doha no cenário global.

    A controvérsia que há muito envolve a decisão de conceder ao Catar a Copa do Mundo aumentou, com o escrutínio implacável de seu tratamento aos trabalhadores migrantes e à comunidade LGBT+, levando o emir do Catar a acusar os detratores de padrões duplos e invenções.

    Enquanto o Catar se prepara para o pontapé inicial no domingo, a medida do sucesso será realizar um torneio apreciado pelos torcedores que termine sem grandes incidentes, permitindo que Doha desvie as atenções das críticas, dizem analistas.

    As apostas são altas para um pequeno estado do Golfo com uma população nacional tão pequena — os cataris são cerca de 350.000 — que poderiam caber nos oito novos estádios construídos para a ocasião.

    Para o Catar, que sobrevive como um estado independente desde 1971 em uma região muitas vezes hostil, sediar a Copa do Mundo faz parte de uma estratégia mais ampla de desempenhar um papel descomunal nos assuntos globais. Grande exportador de gás, abriga militares dos EUA, mediador em conflitos e financia a influente rede de notícias Al Jazeera.

    “Tem havido muita cobertura negativa com foco em direitos trabalhistas e direitos humanos. A realização da Copa do Mundo é a única oportunidade que o Catar vê para a redenção”, disse Marc Owen Jones, professor associado da Universidade Hamad Bin Khalifa.

    “Os marcadores de uma Copa do Mundo de sucesso seriam um exercício de marca nacional, para posicionar o Catar como um importante centro esportivo no Oriente Médio e no mundo árabe mais amplo”, disse ele.

    “No nível de soft power, vai demonstrar que o Catar é um ator global e multilateral.”

    “Hipocrisia”

    Primeiro país do Oriente Médio a sediar a Copa do Mundo, o Catar a saudou como um marco regional ao ser escolhido sede do torneio em 2010.

    Mas as autoridades do Catar parecem cada vez mais irritadas com o que consideram críticas injustas, incluindo pedidos de boicote.

    O ministro das Relações Exteriores disse que as pessoas que pedem tal mudança são de um punhado de países — dez, no máximo — que não representam o resto do mundo que está ansioso pelo torneio.

    “As razões apresentadas para o boicote à Copa do Mundo não batem certo. Há muita hipocrisia nesses ataques, que ignoram tudo o que conquistamos”, disse o xeque Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani ao jornal francês Le Monde.

    Várias equipes participantes do torneio estão tentando chamar a atenção para as questões pelas quais o Catar tem enfrentado críticas, incluindo os direitos LGBT+ no país onde a homossexualidade é ilegal.

    A seleção dos EUA está mostrando seu apoio à comunidade LGBT+ por meio de um logotipo da equipe com tema de arco-íris dentro de seu centro de treinamento, e as camisas usadas pela seleção holandesa serão leiloadas para apoiar os trabalhadores migrantes no Catar.

    As Associações de Futebol de dez países europeus, incluindo Inglaterra e Alemanha, pressionaram a Fifa a tomar medidas para melhorar os direitos dos trabalhadores migrantes no Catar.

    Mas, adotando um tom diferente, a Fifa insta os times a focarem no futebol do Catar, e não deixarem o esporte ser arrastado para “batalhas” ideológicas ou políticas — apelo apoiado pelo Brasil.

    O presidente russo, Vladimir Putin, disse ter certeza de que será um sucesso.

    Reagindo contra suas críticas, o Catar aponta para reformas trabalhistas destinadas a proteger os trabalhadores migrantes da exploração e diz que o sistema é um trabalho em andamento. Os organizadores disseram repetidamente que todos são bem-vindos, independentemente de sua orientação sexual ou origem.

    Mas eles também alertaram contra certos comportamentos no conservador país muçulmano, onde a embriaguez em público pode resultar em pena de prisão de até seis meses e demonstrações de afeto podem ser motivo de prisão.

    Com mais de um milhão de fãs esperados, o evento é um enorme desafio logístico.

    O embaixador dos EUA exortou a polícia e as autoridades do Catar a serem pacientes, tolerantes e transparentes ao gerenciá-los. A embaixada dos EUA e outros disseram aos fãs que eles poderiam ser punidos por comportamento que seria tolerado em outros lugares.

    O Catar deve anunciar novamente, nesta sexta-feira (18), a proibição de vendas de álcool no entorno dos estádios.

    “A história de sucesso do Catar tem caminhado na linha tênue entre crítica internacional e crítica doméstica, entre manter a cultura local e se abrir para o mundo exterior”, disse Zarqa Parvez Abdullah, professor adjunto da Universidade de Georgetown, no Catar.