Verona van de Leur: a estrela da ginástica que se reinventou como atriz pornô
Após lesões a tirarem do esporte e rompimento com a família, van de Leur precisou encontrar uma nova forma de sustento
A trajetória de Verona van de Leur começou com o simples ato de virar estrelas aos cinco anos, uma paixão de infância que, por sua vez, levou ao desejo de ser uma ginasta olímpica.
Nos anos seguintes, ela se tornou um tesouro nacional holandês conhecido por suas proezas esportivas.
Mas as lesões limitaram sua carreira e sua vida saiu de controle. Expulsa da casa da família, ela diz que passou dois anos sem teto e enfrentou uma batalha judicial turbulenta com seu pai.
As coisas pioraram quando ela foi presa, condenada por chantagem, em 2011. Van de Leur conta que esteve prestes a saltar na frente de um trem para acabar com sua vida.
A redenção veio trabalhando como atriz pornô e, agora com 34 anos, Van de Leur escreveu sua autobiografia, contando detalhes de sua vida.
Ela garante que não tem arrependimentos. Segundo contou a Don Riddell da CNN Sport, sua incursão na indústria do cinema adulto acabou em 2019: “Na verdade não me arrependo porque eu estava morando na rua… Eu ainda faria isso, então não tenho nenhum arrependimento, não do jeito que eu fiz, não”.
Depois de assistir à ginástica nos Jogos Olímpicos de 1996, ela decidiu competir nos jogos seguintes. Vieram as medalhas, com prata tanto no Campeonato Mundial quanto no Europeu. Van de Leur foi eleita a esportista holandesa do ano em 2002, aos 16, pouco antes de completar 17 anos.
Lisa Deen, que trabalha como jornalista esportiva freelance especializada em ginástica, descreve Van de Leur como “uma das maiores ginastas da história da Holanda”.
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Buraco negro
No começo, Van de Leur amava a vida de ginasta.
“É muito estranho, mas também é divertido, é claro. Imagine você sendo uma adolescente e todo mundo te observando de uma maneira boa, pedindo um autógrafo, então é especial, é claro”, analisa.
“Os pais ficam orgulhosos, a família fica orgulhosa, todos olham para você de uma forma positiva. Mas há pressões vindas de todo lado e é preciso ter sucesso na próxima competição, de novo e de novo”.
Tentar identificar quando as coisas começaram a se complicar é difícil para a ex-ginasta.
Às vezes, ela acha que poderia ter sido já aos 9 anos, quando começou a fazer ginástica competitiva.
A única certeza que tem é que a espiral descendente começou para valer em 2003, após uma lesão. De repente, ela não tinha nada.
“Se eu olhar para trás, é apenas um esporte, um hobby no qual você é bom”, conta. “Mas, na época, estava impresso na minha mente: ‘Isso é o que você é. Você é apenas uma ginasta’. E para mim não havia vida além da ginástica. Para as pessoas ao meu redor, eu era apenas aquele robô, apenas a ginasta. E nem tinha amigos. Daí, se o seu esporte começa a cair aos pedaços, não sobra nada, e eu fiquei nesse buraco negro”.
Van de Leur diz que sua decepção com a ginástica atingiu o auge em 2008, quando ela anunciou à mídia no Campeonato Europeu que estava se afastando do esporte que havia definido sua vida. Ela tinha apenas 22 anos.
Sua primeira reação foi de felicidade: finalmente havia acabado a trajetória de ginasta, e pela primeira vez ela sentiu como se estivesse assumindo o controle de sua própria vida. No entanto, quando contou aos pais, eles ficaram bravos, preocupados com a possibilidade de Van de Leur virar as costas para os ganhos potenciais.
Em sua opinião, a atitude deles era que “o dinheiro era mais importante do que a própria filha”. Nessa época, ela voltou para a casa da família apenas para descobrir que não era mais bem-vinda, diz ela.
“Trancada para fora de casa”
A CNN tentou entrar em contato com o pai e a irmã de Van de Leur para comentários via email, telefone e mídia social, mas não teve sucesso.
“Um dia, eu tentei abrir a porta, eu tinha uma chave porque estava morando lá, e a fechadura não abria”, lembra Van de Leur. “Primeiro pensei, bom, deve ser um engano ou eu vou apenas ligar para casa. Eles não responderam, não abriram e então percebi que não era mais bem-vinda”.
Daí, ela dormiu em seu carro com o namorado naquela noite, primeiro irritada e depois com o coração partido por sua família a ter rejeitado. Ela conta: “A última vez que os vi foi no tribunal.”
Um resumo do caso no tribunal diz que Van de Leur argumentou que, em 2008, seu pai, que agia como seu agente, “retirou uma quantia de € 9.000 (R$ 59,6 mil) da conta de pagamento da reclamante sem o consentimento ou conhecimento da reclamante, do qual apenas parte da reclamante foi reembolsada ou relacionada a custos incorridos em nome da reclamante”.
A ex-ginasta acrescentou: “Eu pedi o relato contábil para ver onde estava o dinheiro do meu patrocínio e tudo que tinha recebido da ginástica e não tinha nada. A única coisa que eu podia fazer era ir à justiça, então foi o que eu fiz”.
Um advogado que seria o representante do pai de Van de Leur na época se recusou a comentar à CNN citando o código de conduta.
O resumo do tribunal afirma que o pai de Van de Leur argumentou que ele “havia incorrido em custos, incluindo mover os bens pessoais do reclamante para fora da casa da treinadora, comprar presentes para a treinadora e sua família, substituir as fechaduras na casa do réu e cuidar da família em relação a potencial ameaças”.
No entanto, em fevereiro de 2009, um tribunal de Haia ordenou que seu pai pagasse a ela € 1.355,89 (R$ 8.979), bem como permitiu que Van de Leur voltasse para sua casa para recuperar uma série de itens: uma espreguiçadeira, agasalhos e colãs, e vários presentes, além de exigir que ele parasse de administrar um site em seu nome.
Refletindo sobre enfrentar seus pais na sala do tribunal, Van de Leur disse: “Desde o início, eu sei que perdi tudo e o dinheiro não traz os pais de volta”.
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“Eu não estava acostumada a me mostrar nua”
Por dois anos após a desavença de sua família, ela disse que não tinha onde morar. Durante esse tempo, Van de Leur foi presa por tentar chantagear uma mulher que estava tendo um caso extraconjugal e ela havia flagrado num parque (ela foi acusada de extorsão), o que resultou em 72 dias de prisão.
“Naquela época, sendo sem-teto, não me importava mais com a maneira que ia conseguir dinheiro para comprar comida”, disse.
“Mas, mesmo nessa pior situação, sei que não era meu direito desafiar a lei e, sim, lamento não ter escolhido ou encontrado outra opção naquele período. Talvez tenha sido bem ter sido punida por 72 dias para perceber que estava errada, e eu estava”.
Quando saiu da prisão, pareceu uma boa saída ir para a indústria do cinema adulto, primeiro como modelo de webcam e depois fazendo vídeos pornôs com o namorado. O casal ainda está junto 13 anos depois.
“Eu vi isso como uma chance”, contou Van de Leur. “Foi um grande contrato para que eu pudesse construir algo, começar meu negócio. Comecei como modelo de webcam. Não havia contato físico, só a tela do computador, e tudo bem. Eu não estava acostumada a me mostrar nua, claro”.
A reação na Holanda a sua mudança dramática de carreira, ela diz, foi mista, mas por estar sem-teto e na prisão, Van de Leur viu seu trabalho como um novo começo.
“Eu não disse na época que morava na rua ou de onde eu vinha, mas o que para mim parecia uma subida para os outros era uma queda”, lembra. “Daí, guardei isso na minha mente: é minha vida, é o que eu gosto de fazer e sempre vi isso como um trabalho.”
Van de Leur também retornou ao mundo da ginástica no Campeonato Mundial de Stuttgart no ano passado, onde trabalhou como analista para a mídia holandesa, mas voltou para casa prematuramente, antes que o evento terminasse.
Enquanto ela reflete sobre as várias reviravoltas de sua vida, Van de Leur diz que gostaria de ter sido mais sábia quando menina, quando sua carreira de ginástica estava decolando.
Passadas todas essas fases, ela quer abraçar a vida, já que passou tão perto de acabar com tudo.
Foi em meio a uma disputa com a família que Van de Leur diz que foi a uma ferrovia para se matar.
“Eu andei na direção do trilho, comecei a contar regressiva de 10 a zero e não pulei”, lembrou. “Não sei por que, mas senti que era aquele o momento em que tudo podia acabar. Pensei na família que perdi, estava morando na rua, não tinha nada, nada para comer, nenhum dinheiro nas mãos, então não tinha nada pelo que viver”.
“Era o que eu estava pensando naquele momento, mas, quando o trem acabou de passar, foi como se algo tivesse se rompido. Ainda não sei por que não pulei. Comecei a chorar e fui embora”.
Agora, Van de Leur diz que aquele momento lhe dá força e que ela aprendeu a “aproveitar cada momento de sua vida”.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês).