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    ‘Representamos esperança das meninas do nosso país’, dizem velocistas da Jamaica

    Thompson-Herah, Fraser-Pryce e Shericka Jackson venceram provas do atletismo feminino nos Jogos de Tóquio e acreditam ter deixado legado para futuras corredoras

    Coy Wire e Sana Noor Haq, da CNN

    Em 2008, fez história nos Jogos Olímpicos de Pequim quando ela e suas colegas velocistas jamaicanas Sherone Simpson e Kerron Stewart dominaram o pódio pela primeira vez na final feminina dos 100m rasos.

    Com 21 anos na época, Fraser-Pryce fez a prova em 10,78 segundos, levando o ouro. A conquista aconteceu apenas um dia depois que a lenda olímpica Usain Bolt ganhou seu primeiro ouro olímpico nos 100m rasos masculino. Foi também o primeiro ouro do país nessa corrida.

    Na atual Olimpíada de Tóquio, uma sequência de verde, amarelo e preto passou pela linha de chegada na final dos 100m rasos femininos mais uma vez quando o Time Jamaica conquistou o pódio. Desta vez, as atletas foram Elaine Thompson-Herah, Fraser-Pryce e Shericka Jackson levando as medalhas de ouro, prata e bronze, respectivamente.

    “Tive a honra de fazer parte de ambas as conquistas”, disse Fraser-Pryce à CNN. “Olhe para gente, estamos usando as cores certas. Nossa, é incrível poder subir ao topo do mundo novamente”, acrescentou.

    ‘Deus tem sido bom para nós’

    Já se passaram 13 anos desde que Fraser-Pryce ficou ombro a ombro em um pódio olímpico com suas companheiras de equipe após os 100 metros rasos feminino, e ela diz que a vitória é mais doce na segunda vez.

    “Eu acho que Deus tem sido bom para nós. Somos uma nação abençoada, abençoada”, repetiu a atleta, homenageando suas antecessoras, incluindo Merlene Ottey e Deon Hemmings – a primeira mulher jamaicana a conquistar o ouro olímpico (nos 400 metros com barreira em Atlanta-1996).

    Para Thompson-Herah, que cresceu assistindo Fraser-Pryce quando era jovem, ter a oportunidade de compartilhar com ela uma vitória tão importante é “uma sensação maravilhosa”.

    “Eu vi isso quando não era uma atleta de elite, assistindo em casa. Repetir esse feito mais uma vez trouxe uma sensação boa, a de fazer parte dessa história e estar entre essas mulheres”.

    Elaine Thompson-Herah comemora a medalha de ouro na final dos 200m femininos
    Elaine Thompson-Herah comemora a medalha de ouro na final dos 200m femininos
    Foto: David Goldman – 3.ago.2021/AP

    Com duas olimpíadas no currículo, Thompson-Herah fez história no sábado (31) ao quebrar o recorde de 33 anos da norte-americana Florence Griffith-Joyner, estabelecido em Seul. A jamaicana fez os 100 metros em 10,61 segundos; o recorde olímpico era de 10,62 segundos. Mas ela não quer que a empolgação de uma vitória olímpica atrapalhe a chance de outra conquista.

    “Sinceramente, estou tremendo agora. Estou sem palavras”, contou Thompson-Herah. “Tenho que continuar com esse foco. Não quero gastar minha energia ficando muito animada com a primeira medalha. Me dá arrepios”.

    Ela venceu a final dos 200m rasos feminino na terça-feira (3), tornando-se a primeira mulher a vencer os 100m e os 200m rasos em dois Jogos Olímpicos consecutivos.

    Quando o trabalho duro compensa

    A campeã Thompson-Herah, que conquistou o título feminino dos 100m durante seus primeiros Jogos, a Olimpíada do Rio em 2016, diz que preza os sacrifícios que os atletas e suas equipes fazem para manter vivos os sonhos olímpicos.

    “É preciso muito trabalho, dedicação e sacrifício de nossa parte, dos atletas. Não acho que as pessoas saibam o que passamos. Não fazemos festa, não bebemos, não comemos mal”, relatou.

    “Chegar até aqui, em uma plataforma internacional para hastear nossa bandeira…. Bom, nosso hino é na verdade nossa oração! Competir duas vezes no Estádio Olímpico aquece o meu coração”, completou.

    Thompson-Herah (D), Fraser-Pryce e Jackson cruzam linha nos 100m rasos
    Elaine Thompson-Herah (D), Shelly-Ann Fraser-Pryce e Shericka Jackson cruzam linha de chegada dos 100m rasos
    Foto: Michael Steele – 31.jul.2021/Getty Images

    Depois que os jogos foram adiados por um ano em março de 2020 devido à pandemia do novo coronavírus, a carga emocional e financeira do treinamento para Tóquio 2020 foi exacerbada, como a própria atleta conta.

    “Acho que foi muito difícil porque, para muitos de nós, não dá para viajar, é preciso fazer vários testes para Covid-19. É preciso se assegurar de que você está sempre restrito a certas áreas. Na academia, a gente precisa levantar pesos usando máscara e não acho isso saudável, mas é necessário.”

    “Acho que, quando cada um de nós voltar para casa e olhar para a nossa medalha, entenderemos o quão grande foi a conquista, dadas as circunstâncias”, acrescentou Fraser-Pryce, prata em Tóquio e ouro em Pequim.

    Quando Thompson-Herah, Fraser-Pryce e Jackson cruzaram a linha de chegada no sábado, elas foram recebidas com poucos aplausos, devido ao estado de emergência decretado em Tóquio pela pandemia e a falta de torcedores durante grande parte dos Jogos.

    Mas, para Jackson, de 27 anos, medalhista de bronze, os fãs japoneses foram enérgicos ao recebê-las. “Temos uma sensação ótima aqui. Amo esse lugar”, afirmou.

    Suas companheiras de equipe concordam. A medalhista de prata Fraser-Pryce acrescentou que “a recepção e as pessoas, e simplesmente a alegria e a energia são diferentes de qualquer outro lugar que já estiveram”.

    Um retorno sensacional

    Shelly-Ann Fraser-Pryce, da Jamaica, comemora retorno às pistas com filho Zyon
    Shelly-Ann Fraser-Pryce, da Jamaica, comemora retorno às pistas com seu filho Zyon
    Foto: Michael Steele – 29.set.2019/Getty Images

    Veterana com quatro olimpíadas no currículo, Fraser-Pryce lembra que a pandemia global foi apenas um dos muitos desafios que ela enfrentou durante sua carreira.

    Em 2017, ela passou por uma cesariana de emergência para dar à luz o filho Zyon, e se afastou das pistas por dois anos para se reabilitar e se concentrar na maternidade.

    No entanto, a atleta teve uma recuperação impressionante em 2019, vencendo a final dos 100m rasos feminino no Campeonato Mundial em Doha, o que fez com que ela entrasse na lista das maiores velocistas de todos os tempos.

    Agora, a medalhista de prata diz que poder voltar às pistas depois da gravidez e ainda deixar sua marca como uma das competidoras mais implacáveis de seu esporte “significa tudo”.

    “Como atleta, há muitas coisas que a gente não quer fazer para arriscar a carreira. Não há muitas mulheres que decidem começar uma família e depois voltar [a competir], muitas mulheres também são elogiadas por isso. Sempre há críticos que dizem: ‘Ah, acabou para ela, ela precisa ir para casa e criar o filho, ela precisa parar de pensar nas pistas’ e coisas desse tipo.”

    “Foi difícil, mas sou grata pela resiliência e pelo dom que Deus me deu. Eu nunca perco a esperança – se você nunca perder a esperança, nem parar de acreditar nas coisas que você acredita, então o céu é o limite”, refletiu.

    Fazendo sua melhor corrida

    A campeã Thompson-Herah, que tem lutado contra lesões na perna e no tendão de Aquiles nos últimos anos, diz que falar coisas positivas para se acalmar foi crucial para seu sucesso olímpico.

    “Meus amigos e meu marido me ensinaram a não ser negativa, apenas positiva. E tenho feito isso nos últimos dois anos, batalhado com as lesões. Eu estou aqui mesmo com o nervosismo que tenho por trás desses sorrisos.”

    Velocistas jamaicanas admitem que competição as ajuda a evoluir
    As três velocistas jamaicanas admitem que desejo de derrotar uma a outra ajuda a elevá-las como equipe
    Foto: Jae C. Hong – 1.ago.2021/AP

    A veterana Fraser-Pryce concorda, dizendo que “não há nada de errado em falar o que você deseja, o que deseja alcançar”.

    Fraser-Pryce, que cruzou a linha 0,13 segundos depois de Thompson-Herah na final dos 100m rasos feminino, admite que existe uma linha tênue entre querer ganhar medalhas para o seu país e você mesmo.

    “Acho normal sermos competitivas e entender que todas queremos vencer. Queremos largar e correr nossa melhor corrida”, disse. “Então é preciso tirar o que puder disso e mesmo na decepção você tem que tirar o que há de bom. Não acho que haja ressentimentos.”

    Ela também reconhece que seu desejo competitivo de derrotar uma à outra as elevou como equipe.

    “Se você tem competidoras que continuam a pressioná-la, também pode atingir a meta que estabeleceu para si mesma. Se estou na linha de largada, quero estar no mesmo nível que minhas competidoras mais ferozes. Não posso cometer erros porque tenho de estar pronta para competir sob pressão”, afirmou.

    O trio reconhece que, com sua conquista coletiva, elas podem inspirar uma geração de jovens jamaicanas a repetir a história mais uma vez.

    “Estou muito animada por todas nós e o que isso significa para as meninas no nosso país”, disse Fraser-Pryce. “Acho que isso mostra o domínio e o legado que temos na Jamaica. E espero que continue por muitos anos.”

    “Nenhuma de nós aqui tem origens privilegiadas. Todas nós tivemos dificuldades ao crescer. E, olhando para nós, acho que representamos a esperança de tantas meninas do país, representamos diferentes partes da Jamaica”, finalizou.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)

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