Protestos de seleções marcam início da Copa do Mundo no Catar
Jogadores da Alemanha taparam a boca em foto antes de estrearem na Copa do Mundo, e atletas do Irã não cantaram o hino do país contra a Inglaterra
Iniciada há poucos dias, a Copa do Mundo no Catar já está marcada na história pelos protestos de jogadores de diferentes seleções por causas sociais.
Nesta quarta-feira (23), jogadores da seleção da Alemanha taparam a boca antes de entrar em campo como uma forma de protesto contra a proibição o uso da braçadeira de capitão da campanha “One Love”, de apoio à comunidade LGBTQIA+, durante os jogos da Copa.
Os jogadores entendem que a proibição é da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que fez um pedido para as seleções manterem o foco nos jogos em vez de usar a exposição mundial do torneio para apoiar causas sociais e políticas.
Em carta assinada por Gianni Infantino, presidente da Fifa, e pela secretária-geral Fatma Samoura, a entidade pediu para que o futebol não fosse “arrastado” para o campo de batalha político ou ideológico.
Recentemente, a Fifa autorizou a entrada de bandeiras LGBTQIA+ nos estádios, atitude que contrariou a posição do major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, presidente do Comitê Nacional de Contraterrorismo do Catar.
O ato dos atletas da Alemanha já é o terceiro a acontecer durante o torneio deste ano.
Na segunda-feira (21), os jogadores do Irã não cantaram o hino nacional antes da partida como uma forma de apoio às manifestações contra o regime teocrático do Irã, iniciadas após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, enquanto estava sob custódia policial.
Mahsa Amini foi presa pela Patrulha de Orientação, uma polícia da moralidade do país, por não usar um hijab corretamente.
Durante o jogo, mulheres iranianas nas arquibancadas do estádio choraram.
Proibidas por 40 anos de entrar nos estádios em seu país, após a Revolução Islâmica em 1979, muitas delas assistiram a uma partida de futebol da Copa do Mundo pela primeira vez. Em 2019, protestos levaram a Fifa a determinar ao Irã a entrada das mulheres do país nos estádios.
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No mesmo jogo, a seleção da Inglaterra entoou o “God Save The King” (“Deus Salve o Rei”, em tradução livre) e se ajoelhou em sinal de protesto contra o racismo. Antes da partida, o técnico Gareth Southgate já havia avisado sobre o ato dos jogadores logo antes do apito inicial contra o Irã.
“Discutimos sobre ajoelhar, e chegamos à conclusão que devemos fazer isso. É o que acreditamos como time, e temos feito isso há muito tempo”, disse Southgate.
O protesto foi, especialmente, em relação ao assassinato sofrido por George Floyd, que morreu sufocado por um policial nos Estados Unidos, em maio de 2020.
Não é a primeira vez que essa atitude é tomada por atletas. No Campeonato Inglês, jogadores têm se ajoelhado como uma manifestação antirracista. Assim como outras seleções, a Inglaterra deixou de usar a braçadeira “One Love” após a proibição da Fifa.
As manifestações de jogadores não devem parar por aí. Kasper Hjulmand, técnico da Seleção Dinamarquesa, disse em entrevista coletiva que o time cogita fazer protestos depois que a Fifa ameaçou punir os jogadores que usarem uma braçadeira “One Love” durante as partidas.
“É uma situação extremamente difícil porque seria algo que defendemos. Os jogadores defendem, eu defendo. Talvez haja outras possibilidades, vamos esperar para ver. Defender a diversidade não pode e não deve ser uma declaração política”, comentou o técnico da Dinamarca.
Vale notar que a Copa do Mundo no Catar já levantou diferentes polêmicas, como as péssimas condições trabalhistas das pessoas que construíram os estádios para o Mundial, o desrespeito aos direitos da comunidade LGBTQIA+ e o gasto de US$ 229 bilhões, 16 vezes mais do que a Rússia investiu para sediar o torneio de 2018.