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    Surpresa e glória: mistura de erudito com funk embalou prata de Rebeca Andrade

    Se a apresentação da brasileira tivesse público nas Olimpíadas, o ginásio iria abaixo, diz o coreógrafo que escolheu músicas usadas pela ginasta no solo

    Bruno Oliveira, da CNN

    Uma fusão inusitada empolgou quem estava no Centro de Ginástica Ariake assistindo a final do individual geral da ginástica artística nas Olimpíadas de 2020 na quinta-feira (29).

    Com a proibição de público por causa da pandemia de Covid-19, juízes, atletas, membros das comissões técnicas e imprensa estavam entre os poucos privilegiados que viram quando a ginasta brasileira Rebeca Andrade começou a apresentação do solo ao som de “Tocata e Fuga”, do compositor alemão Johann Sebastian Bach.

    Enquanto Rebeca fazia os movimentos ao som de Bach, a pequena plateia acompanhava com atenção e aplaudia pontualmente.

    Mas tudo mudou na metade da apresentação, quando as primeiras notas de cordas sintetizadas começaram a tocar “Baile de favela”, funk do paulistano MC João. Palmas constantes e até gritos foram ouvidos na arena.

    Rebeca Andrade com a medalha de prata conquistada na ginástica artística
    Paulista de Guarulhos, Rebeca Andrade chegou com 22 anos ao pódio olímpico
    Foto: Laurence Griffiths – 29.jul.2021/Getty Images

    Em entrevista à CNN, o coreógrafo e treinador artístico da seleção brasileira de ginástica, Rhony Ferreira, contou como surgiu a ideia de misturar música erudita com funk.

    “Eu estava no ginásio durante as apresentações da ginástica artística na Olimpíada do Rio em 2016. Durante os intervalos, músicas eram tocadas para animar o público. Quando o DJ tocou ‘Baile de favela’, fiquei impressionado que a galera vibrou, todo mundo sabia cantar. Gostei da música, da batida e fui ao DJ perguntar que música era, e ele me falou que era ‘Baile de Favela’”.

    “Achei que não ia dar certo”, diz produtor

    Em princípio, a ideia do coreógrafo era juntar o hit do MC João com alguma música das cantoras Anitta, Ludmilla ou até outro funk, mas não encontrou nenhuma que “casava” bem com “Baile de favela”.

    A partir daí, começou a pesquisar composições eruditas, músicas tocadas em apresentações de balé, até que chegou em “Tocata e Fuga”, de Bach. “Quando ouvi, sabia que era a combinação perfeita. Uma música sóbria, forte, com órgão e outra com apelo popular, inclusive, para agradar os juízes, afinal, eles também querem ser surpreendidos, são humanos, se emocionam. Se essa apresentação fosse com público, o ginásio iria abaixo”, disse.

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    Em janeiro de 2018, Ferreira mostrou as duas músicas para os produtores Misa Junior e Angela Molteni e pediu que a fusão fosse criada.

    “Achei que não ia dar certo, que não teria combinação rítmica e melódica. Minha ideia era terminar a trilha e mostrar para o Rhony que não funcionou. Mas à medida que ia fazendo quase não acreditava que estava ficando legal. Quando terminei, gostei muito do resultado”, explicou Misa Junior.

    Rebeca Andrade dançou ao ouvir pela primeira vez

    A trilha levou três meses para ficar pronta. Quando o coreógrafo apresentou para Rebeca Andrade, a reação da atleta foi de surpresa e empolgação.

    “Coloquei para ela ouvir nos fones de ouvido. Quando começou tocar Bach, a Rebeca arregalou os olhos e disse que não conseguiria fazer os movimentos com aquela música. Falei para ela ficar calma e terminar de ouvir. Assim que começou ‘Baile de Favela’ ela se animou, gostou e começou a dançar”, contou.

    Rhony Ferreira criou toda a coreografia apresentada por Rebeca no solo e sofreu muito vendo, pela televisão, a disputa por medalha.

    Rebeca Andrade sentada no tablado ao fim de sua apresentação no solo
    Exibição no solo, ao som de Bach e de funk, encerrou a apresentação de Rebeca Andrade
    Foto: AP Photo/Natacha Pisarenko

    “Minha mão ficou suada, meu coração estava saindo pela boca, fiquei muito apreensivo. É muito ruim estar longe, não poder dar um incentivo. Mas quando ela terminou, foi muito gratificante. Foi o fechamento de um ciclo de muito trabalho, de muitos detalhes, que começou em 2016”, disse.

    Com a prata conquistada em Tóquio, Rebeca Andrade se tornou a primeira mulher brasileira a ganhar medalha na ginástica artística em Olimpíadas.

    Misa Junior, que também foi responsável por adaptar “Brasileirinho” para a apresentação da ex-ginasta Daiane dos Santos, campeã mundial, disse que em 20 anos como produtor musical o trabalho com a trilha para Rebeca foi uma das experiências mais especiais que teve.

    “Foi uma sensação extraordinária. O resultado de um trabalho meticuloso. Estou muito feliz.”

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