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    Olimpíada de Tóquio: homem foi despejado duas vezes para construção de estádio

    Primeira vez que Kohei Jinno teve sair de casa foi nos Jogos de 1964; agora, ele sente 'nostalgia e tristeza' ao ver a Olimpíada prestes a começar novamente

    Kohei Jinno foi despejado duas vezes de sua casa para construção e reforma de um estádio olímpico
    Kohei Jinno foi despejado duas vezes de sua casa para construção e reforma de um estádio olímpico Foto: Reuters

    Reuters

    Quando Kohei Jinno foi despejado da casa de sua família para abrir caminho para a construção do Estádio Nacional para a Olimpíada de Tóquio de 1964, ele ficou triste, mas orgulhoso de contribuir para o Japão em um momento de triunfo nacional.

    Mas quando ele foi despejado novamente 50 anos depois, aos 80 anos, para que o governo pudesse reconstruir o estádio para os Jogos de 2020, parecia uma reviravolta amarga do destino agravada pelo que ele viu como indiferença oficial.

    Ele e sua esposa, Yasuko, foram forçados a saírem de uma comunidade residencial fechada no bairro de Kasumigaoka, onde eles viveram por mais de meio século.

    Jinno não queria as Olimpíadas no Japão – pensando que seria muito cedo para sediar novamente. Ele revelou ainda que cerca de 200 famílias, muitos idosos, estavam sendo despejadas de seu complexo habitacional à sombra do estádio – a notícia da saída das famílias veio do nada.

    “As Olimpíadas estão sendo realizadas uma segunda vez e, para ser honesto, há sentimentos dolorosos por aqueles de nós que vivemos lá e tivemos que deixar nossas cidades. Por que eles [a cidade de Tóquio] não puderam ter sido um pouco mais compassivos em sua abordagem?”, disse Kohei Jinno.

    Jinno disse que recebeu apenas 170.000 ienes (cerca de US$ 1.500) como compensação, mas custou-lhe 10.000 ienes (cerca de US$ 9.000) para se mudar. “Recebi 170.000 ienes (cerca de US $ 1.500) desta vez. O que você pode fazer com 170.000 ienes? 170.000 ienes. Eu simplesmente tive que rir. Custou cerca de um milhão de ienes (US$ 9.000) para eu me mudar.”

    Um funcionário da cidade de Tóquio disse que 170.000 ienes é o pagamento padrão nessa situação.

    Jinno, o quarto de nove irmãos, nasceu em Kasumigaoka, não muito longe do que atualmente é a elegante área de Omotesando, no centro de Tóquio. 

    Depois que essa casa pegou fogo na Segunda Guerra Mundial, a família se mudou a 20 metros de distância, onde Jinno tinha uma tabacaria anexa à casa da família.

    Antes das Olimpíadas de 1964, eles foram despejados para abrir caminho para o estádio e um parque ao redor. O local de sua casa foi pavimentado, a vegetação que cobria a área cortada e um rio próximo enterrado em concreto.

    Jinno lavava carros para sobreviver, morando com Yasuko e seus dois filhos em um quarto minúsculo. Mas, em 1965, eles se mudaram de volta para o bairro do conjunto habitacional público e ele reabriu sua tabacaria.

    Olimpíada de Tóquio 2020
    Há controvérsias sobre a realização da Olimpíada de Tóquio devido à situação crítica da pandemia do Japão
    Foto: Stanislav Kogiku/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

    Após o aviso de despejo em 2013, eles se mudaram em 2016. A mudança foi difícil, especialmente para Yasuko, que Jinno disse estar “solitária, deprimida”. No final de 2018, aos 84 anos, ela morreu.

    Agora morando com seu filho no oeste de Tóquio, Jinno visita o antigo bairro.

    Em frente ao novo estádio reluzente, e logo acima do local de sua antiga casa agora destruída, está um pequeno parque com um conjunto de anéis olímpicos onde os visitantes posam e sorriem para as fotos.

    Apesar do impacto dos Jogos em sua vida, ele espera que tenham sucesso, mas lamenta o clima contido imposto pela pandemia. Mas visitar a área, modificada como está, ainda faz seu coração disparar.

    “Eu nasci aqui, cresci aqui. Quando olho para as árvores (ao longo da rua) de Jingu Gaien que não mudaram em nada, fico cheio de sentimentos de nostalgia e tristeza ao mesmo tempo”, disse.

    (Produção: Chris Gallagher e Akiko Okamoto)