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    Neymar volta a falar sobre ofensa racista: ‘basta, não cabe mais, chega!

    Jogador se posiciona sobre ofensas racistas e decisões dos árbitros da partida entre Paris Saint-German e Olympique de Marseille

    Luana Franzão* , da CNN, em São Paulo

    O meia-atacante do Paris Saint-German Neymar Jr. voltou a se manifestar, na tarde desta segunda-feira (14), contra as ofensas racistas que relata ter sofrido por parte do jogador Álvaro González, na partida desse domingo (13), entre o PSG e o Olympique de Marseille, pelo campeonato francês.

    Por meio do perfil que mantém no Instagram, o jogador brasileiro lamentou ter perdido a cabeça, mas disse que não poderia deixar de tomar uma atitude diante da omissão dos responsáveis por manter a integridade do evento.

    Na publicação ele afirmou: “Ontem me revoltei. Fui punido com vermelho porque quis dar um cascudo em quem me ofendeu. Achei que não poderia sair sem fazer nada porque percebi que os responsáveis não fariam nada. Não percebiam ou ignoravam. Durante o jogo, queria dar a resposta como sempre, jogando futebol. Os fatos mostraram que não consegui. Me revoltei…”

    E prosseguiu: “No nosso esporte, as agressões, insultos, palavrões, são do jogo, da disputa. Não dá para ser carinhoso, entendo esse cara em parte. Faz parte do jogo. Mas preconceito e intolerância são inaceitáveis”. 

    “Eu sou negro. Filho de negro. Neto e bisneto de negro. Tenho orgulho e não me vejo diferente de ninguém. Ontem eu queria que os responsáveis pelo jogo (árbitro, auxiliares) se posicionassem de modo imparcial e entendessem que não cabe tal atitude preconceituosa.”

    Apesar de ter se sentido impelido a reagir, Neymar diz que, após refletir, talvez não teria agido da mesma forma, uma vez que, após a discussão dos dois, acabou dando um tapa na cabeça de González.

    “Refletindo e vendo tanta manifestação quanto ao que ocorreu, fico triste pelo sentimento de ódio que podemos provocar quando no calor do momento nos revoltamos. Deveria ter ignorado? Não sei ainda… Hoje com a cabeça fria digo que sim, mas oportunamente eu e meus companheiros pedimos ajuda aos árbitros. E fomos ignorados. Esse é o ponto.”

    O jogador aceitou sua punição pelo árbitro do jogom, mas pediu que todos sejam responsabilizados. “Nós que estamos envolvidos no entretenimento precisamos refletir. Uma ação levou a uma reação e chegou onde chegou. Aceito minha punição porque deveria ter seguido no caminho da disputa limpa do futebol. Espero, por outro lado, que o ofensor também seja punido”.

    Por fim, o atleta fez um desabafo contra o racismo e mandou um recado a González.

    “O racismo existe. Mas temos que dar um basta. Não cabe mais. Chega! O cara foi um tolo. Eu também fui por me deixar ser atingido… Eu ainda hoje tenho o privilégio de me manter com a cabeça levantada. Mas nós precisamos refletir que, nem todos os pretos e brancos podem estar na mesma condição. O dano do confronto pode ser desastroso para ambos os lados, seja preto, seja branco. Não quero e não podemos misturar os assuntos. Cor de pele não há escolha. Perante Deus somos todos iguais. 

    Agora…ontem perdi no jogo e me faltou sabedoria…. Estar no centro dessa situação ou ignorar um ato racista não vai ajudar, eu sei. Mas pacificar esse momento ‘anti-racismo’ é obrigação nossa para que o menos privilegiado receba naturalmente a sua defesa. Vamos nos encontrar novamente e vai ser do meu jeito, jogando futebol…Fica na paz! Fica em paz! Você sabe o que falou…eu sei o que fiz! Mais amor ao mundo!” 

    Neymar
     
    Foto: Reprodução/ Instagram

    As ofensas

    Após uma confusão durante a partida de PSG X Olympique de Marseille, Neymar relata que o espanhol Álvaro González o chamou de “macaco filho da p…”. Isso teria levado Neymar a dar um tapa na cabeça do de Gonzáles, atitude que fez com que o atleta brasileiro fosse expulso de campo.

       Leia também:
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    O assunto extrapolou as quatro linhas e, no domingo, Neymar e González comentaram o assunto no Twitter, onde Neymar afirmou que seu “único arrependimento era não ter dado na cara” do jogador, entre outras postagens em relação ao assunto.

    Álvaro González respondeu em sua conta na mesma rede social que “não existe lugar para o racismo” e possui uma “carreira limpa”.

    E Neymar rebateu: “você não é homem de assumir teu erro, perder faz parte do esporte. Agora insultar e trazer o racismo pra nossas vidas não, eu não estou de acordo”, afirmou o brasileiro. “Eu não te respeito! Você não tem caráter! Assume o que tu fala ‘mermão’… seja homem ‘rapá’! Racista”.

    Esta não é a primeira vez que o jogador brasileiro sofreu ofensas racistas em campo, mas é a primeira que reagiu publicamente a elas.

    Em 2011, quando jogava uma partida da seleção brasileira contra a Escócia, uma casca de  banana foi arremessada no gramado, logo após uma jogada de Neymar.

    A casca foi retirada por Lucas, também jogador da seleção. Na época, ele disse em entrevista à SporTV que “preferia não comentar para não virar uma bola de neve”.

    Houve outros casos também quando ele jogava pelo clube catalão Barcelona, sobre os quais ele também não se pronunciou oficialmente.

    Quando tinha 18 anos e ainda jogava pelo Santos, no Brasil, perguntado pelo Estadão se já havia sofrido racismo, ele respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?”.

    PSG “apoia fortemente”

    O Paris St Germain deu todo seu apoio a Neymar depois que o meia-atacante o relatou a ofensa racial. 

    Em um comunicado emitido nesta segunda-feira, o PSG pediu que a liga francesa (LFP) investigue o caso.

    “O Paris St Germain apoia fortemente Neymar Jr, que relatou ter sido alvo de uma ofensa racial de um jogador oponente”, disse o time.

    “O clube reafirma que não existe lugar para o racismo na sociedade, no futebol ou em nossas vidas e conclama todos a se posicionarem contra todas as formas de racismo pelo mundo.”

    “O Paris St Germain espera que a Comissão Disciplinar da LFP investigue e apure os fatos, e o clube continua à disposição da LFP para qualquer assistência exigida.”

    Íntegra da publicação no Instagram

    Ontem me revoltei. Fui punido com vermelho porque quis dar um cascudo em quem me ofendeu. Achei que não poderia sair sem fazer nada porque percebi que os responsáveis não fariam nada. Não percebiam ou ignoravam. Durante o jogo, queria dar a resposta como sempre, jogando futebol. Os fatos mostraram que não consegui. Me revoltei…

    No nosso esporte, as agressões, insultos, palavrões, são do jogo, da disputa. Não dá para ser carinhoso, entendo esse cara em parte. Faz parte do jogo. Mas preconceito e intolerância são inaceitáveis”. 

    Eu sou negro. Filho de negro. Neto e bisneto de negro. Tenho orgulho e não me vejo diferente de ninguém. Ontem eu queria que os responsáveis pelo jogo (árbitro, auxiliares) se posicionassem de modo imparcial e entendessem que não cabe tal atitude preconceituosa.

    Refletindo e vendo tanta manifestação quanto ao que ocorreu, fico triste pelo sentimento de ódio que podemos provocar quando no calor do momento nos revoltamos

    Deveria ter ignorado? Não sei ainda… Hoje com a cabeça fria digo que sim, mas oportunamente eu e meus companheiros pedimos ajuda aos árbitros. E fomos ignorados. Esse é o ponto.

    Nós que estamos envolvidos no entretenimento precisamos refletir. Uma ação levou a uma reação e chegou onde chegou. Aceito minha punição porque deveria ter seguido no caminho da disputa limpa do futebol. Espero, por outro lado, que o ofensor também seja punido.

    O racismo existe. Mas temos que dar um basta. Não cabe mais. Chega! O cara foi um tolo. Eu também fui por me deixar ser atingido… Eu ainda hoje tenho o privilégio de me manter com a cabeça levantada. Mas nós precisamos refletir que, nem todos os pretos e brancos podem estar na mesma condição. O dano do confronto pode ser desastroso para ambos os lados, seja preto, seja branco. Não quero e não podemos misturar os assuntos. Cor de pele não há escolha. Perante Deus somos todos iguais. 

    Agora…ontem perdi no jogo e me faltou sabedoria…. Estar no centro dessa situação ou ignorar um ato racista não vai ajudar, eu sei. Mas pacificar esse momento ‘anti-racismo’ é obrigação nossa para que o menos privilegiado receba naturalmente a sua defesa. Vamos nos encontrar novamente e vai ser do meu jeito, jogando futebol…Fica na paz! Fica em paz! Você sabe o que falou…eu sei o que fiz! Mais amor ao mundo!”

     

    (Com Reuters. *Sob supervisão de Sinara Peixoto)

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