Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Neymar vive momento ‘agora ou nunca’ na busca pela glória europeia

    PSG encara a Atalanta nesta quarta-feira pelas quartas de final da Liga dos Campeões

    Aleks Klosok, da CNN

    Quando os sonhos se chocam com a realidade; quando a vida atinge uma encruzilhada assustadora; quando devemos decidir se devemos ser ou fazer história.

    Neste momento, Neymar está numa encruzilhada.

    O atacante é uma marca verdadeira do futebol do século 21, alimentada por promessas sem fim; um fenômeno social, comercial e cultural do ‘novorriquismo’; uma superestrela que não é estranha à atenção dos olhos do público.

    Leia também:

    Na Champions League, Atalanta quer levar sorriso à Itália após trauma da Covid

    Hospital Albert Einstein perde exclusividade para realizar testes do Brasileirão

    No entanto, quando se trata das luzes brilhantes no maior palco do futebol europeu – a Champions, ou Liga dos Campeões –, Neymar parece preso em um ciclo perpétuo de repetição.

    Foi vencedor uma vez, sim. Mas, segundo alguns, isso aconteceu porque ele estava habilmente auxiliado por seus qualificados colegas sul-americanos – Lionel Messi e Luis Suarez – que formavam o famoso triunvirato “MSN” no Barcelona.

    Em duas ocasiões o azar conspirou para subverter as chances do prodígio brasileiro de agarrar a competição usando as cores vermelha e azul do Paris Saint-Germain.

    Então, aqui estamos em 2020. Será que esta terceira vez será de sorte? Será esta a hora da verdade para Neymar?

    Três jogos agora estão entre a “Pílula Vermelha” de Matrix da glória europeia ou a “Pílula Azul” de outra nota de rodapé na página cada vez maior na Wikipedia do jogador de 28 anos.

    “Este é o ano em que ele pode realmente se redimir […] Esses três jogos podem mudar tudo […] Não acho que ele terá outra oportunidade como esta”, disse o jornalista brasileiro e comentarista de futebol Fernando Kallás à CNN Sport.

    ‘Maior erro da história do esporte’

    Desde que fincaram sua bandeira nas ruas de paralelepípedos parisienses em junho de 2011, os investidores do PSG do Catar não fizeram segredo de seu objetivo final – a supremacia no futebol do continente.

    Na França, foi uma era definida por um domínio implacável. Sete títulos da primeira divisão e cinco taças nas diferentes ligas francesas, incluindo o tricampeonato do PSG conquistado em 2020.

    No entanto, é como se o time estivesse buscando de forma incansável um chaveiro para decifrar o código e abrir as portas do sucesso do futebol na Europa. Por sete vezes o PSG tentou e não conseguiu descobrir o código complexo – e cada falha foi mais dolorosa e amarga que a anterior.

    “Foi estabelecido um cronograma específico e, depois de ultrapassado esse período, a cada temporada parece que o PSG se distancia ainda vez mais da conquista. A história está pesando sobre o time”, explica o especialista em futebol francês Jonathan Johnson.

    A contratação de Neymar em agosto de 2017, vindo do Barcelona, pelo valor recorde de US$ 263 milhões – uma quantia ainda alucinante – tinha como meta trazer para o campo o cavaleiro da armadura brilhante.
    Ao deixar de ser o coadjuvante de luxo de Messi, ele passou a ser o protagonista, com licença para emocionar e se tornar o melhor do mundo.

    Para alguns, foi uma virada de jogo; para o comentarista Kallás, continua sendo “o maior erro da história do esporte”.

    Uma relação de amor e ódio

     

    Ao refletir na semana passada sobre o aniversário de três anos de sua mudança, o próprio Neymar escreveu que “esses três anos foram de muito aprendizado. Vivi tempos de alegria e outros complicados.”

    Seu vínculo com os torcedores na capital francesa parece incluir toda a gama de status de relacionamento do Facebook: de “Casado” a “Separado” a “Em um relacionamento enrolado”, e com todo o fascínio de uma ex-amante da Catalunha (o Barcelona) como pano de fundo.

    Na temporada passada, o retorno do jogador após uma longa pausa foi planejado para uni-lo de vez com a torcida. Mas a tentativa foi mal sucedida, acabando em uma gigantesca vaia no Camp Nou que aumentou as tensões em Paris.

    A dinâmica de amor e ódio em torno da figura polarizadora foi talvez mais bem resumida na primeira aparição do superstar na liga da temporada 2019-20.

    Neymar foi vaiado implacavelmente por 90 minutos antes de fazer um gol de bicicleta sublime, no final da partida, garantindo a vitória do PSG. Metade dos pessimistas ficou extasiada; a outra metade continuou enfurecida.

    Kallás pinta um quadro de júri dividido ao meio em linhas geracionais no Brasil – os fãs mais jovens que adoram “a imagem, o sorriso, as tatuagens” contrastam com a velha guarda que está “realmente preocupada com ele”.

    Desde aquele gol, a Guerra Fria em Paris deu uma derretida, junto com a percepção de que voltar para o futuro não é, por ora, uma perspectiva iminente.

    “Ele tem mostrado dentro e fora do campo que está comprometido com o projeto. Ele precisa abraçar de verdade o desafio de ser um jogador do PSG e alcançar algo, principalmente na Liga dos Campeões, em Paris”, diz Johnson.

    Embora uma nova página possa ter sido aberta no campo, as questões permanecem fora dele.

    O menino vai se tornar um homem?

    A vida pessoal de Neymar inclui as marcas de uma novela envolvente – cheia de intrigas, e tudo amparado por um grupo de amigos organizado.

    No ano passado, o ex-capitão da Seleção Brasileira foi inocentado das acusações de uma modelo brasileira que o acusou de estupro e agressão.

    Em 2020, ele foi forçado a perder um jogo da liga devido a lesão – dois dias depois de participar de uma festa de aniversário luxuosa em uma boate de Paris.

    Aqueles que desejam que ele tenha sucesso se desesperam: o menino vai se tornar um homem?

    “No Brasil temos uma expressão que diz que ele (Neymar) é uma promessa sem fim. Que ele é “Menino Neymar”. Mas ele não é um menino. Ele precisa viver a realidade. Tem que crescer”, comentou Kallás, que acompanhou as provações e tribulações do brasileiro dentro e fora do campo.

    “Quando ele está em campo, ele se entrega. Nunca, nunca ouvi uma reclamação de um treinador ou de outro jogador sobre a sua atitude no treino, no vestiário”.

    E, apesar de todos os gols, assistências e taças até o momento, a história e a biologia tiveram um papel cruel na vida do astro, privando-o da oportunidade de dar sua opinião nos negócios da competição de clubes de elite do futebol europeu.

    Temporadas reduzidas em 2018 e 2019 devido a lesões coincidiram com os confrontos dramáticos do PSG a partir das oitavas de final contra o Real Madrid e o Manchester United, respectivamente.

    “Isso é o que torna o restante desta campanha tão importante e explica por que estão olhando ele tão de perto”, opinou Johnson.

    “É tudo ou nada”

    A pandemia da Covid-19 mudou significativamente (e talvez favoravelmente para o PSG) a dinâmica para a final do torneio deste ano.

    Longe vão os jogos de mata-mata de ida e volta desde as fases das quartas-de-final, substituídos agora por pênaltis em caso de empate – e tudo dentro da bolha de Lisboa.

    Sem o artilheiro Edinson Cavani, que acabou de deixar o PSG, e Kylian Mbappé, recentemente afastado por lesão, o palco é todo de Neymar.

    Primeiro, o pacote surpresa do Atalanta o aguarda nas quartas de final, hoje, às 16 horas; depois, haverá um possível confronto contra o abatido Atlético de Madrid nas semifinais e daí, quem sabe, a classificação para a final.

    De acordo com Johnson, embora o progresso na competição pudesse “realmente dar ao projeto (do Catar) o impulso necessário após alguns anos de grande decepção”, para Kallás este mês pode marcar o início de uma fase definitiva de dois anos para o indivíduo no centro da narrativa.

    Com o contrato do brasileiro vencendo em 2022 e uma Copa do Mundo no Catar no mesmo ano, que pode até ser a sua última com a camisa do Brasil, é simplesmente “tudo ou nada”.

    “A gente sempre fala: ‘Este vai ser o ano. Não, este vai ser o ano. Não, este vai ser o ano’ Ele tem 28 anos, deveria estar no auge da carreira, mas não está […] É sua última chance.”

    A novela teve suas reviravoltas imprevistas, seus momentos de loucura e suas explosões de brilho. Agora está nas mãos do protagonista principal o roteiro para o final do espetáculo.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

    Tópicos