Martine e Kahena mantêm sucesso da vela, mas agora com protagonismo feminino
Assim como no Rio-2016, só mulheres subiram ao pódio pela vela brasileira em Tóquio
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Para as agora bicampeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze, subir ao pódio olímpico na vela é uma rotina e uma tradição familiar e brasileira. Afinal, juntas desde 2013, elas têm dominado a classe 49erFX da vela desde então. E repetem, assim, trajetórias de sucesso na modalidade. Com uma diferença: agora o protagonismo é das mulheres.
O bicampeonato de Martine e Kahena assegura para a vela do Brasil a presença no pódio pela sétima edição seguida das Olimpíadas, em uma sequência iniciada em Atlanta-1996. Mas são elas que vêm garantindo a presença do país no pódio nos eventos mais recentes. Se até 2012 o domínio era dos homens, apenas Martine e Kahena conquistaram medalhas para a vela brasileira nas últimas duas Olimpíadas.
É um cenário bem diferente ao da vela brasileira em seu histórico nos Jogos na vela. São 19 medalhas do país na modalidade, mas apenas três das mulheres. Além dos dois ouros de Martine e Kahena, só Fernanda Oliveira e Isabel Swan foram ao pódio, nas Olimpíadas de 2008, em Pequim, na disputa da classe 470.
‘A gente quer inspirar a vela feminina’, diz Kahena
Kahena disse esperar que o êxito da dupla com Martine estimule o fortalecimento da vela entre as mulheres no Brasil. “Eu acho que essa medalha mostra que a vela feminina no Brasil é capaz, sim! Basta as meninas encontrarem uma boa parceria. A gente quer inspirar e trazer a vela feminina como um legado, sabe? Espero que essa medalha traga mais meninas para a nossa vela”, afirmou.
Essa força feminina também foi destacada por um dos integrantes de muito sucesso da família Grael na vela, Lars, tio da bicampeã olímpica. “Os avós da Martine que não estão vivos ficariam muito felizes em saber o que ela fez, o que ela está construindo na vela. Gente, a vela até muito poucos anos atrás era um esporte machista. A vela feminina começou em Seul-1988, e hoje no Brasil é na vela feminina que está se ganhando medalhas. Que bacana, elas estão fazendo gerar uma admiração internacional, pela trajetória, pela garra e pela frieza”, afirmou à TV Globo.
No último dia da vela nas Olimpíadas de Tóquio, nesta quarta-feira (4), a única chance de medalha brasileira também é feminina. Fernanda Oliveira e Ana Barbachan avançaram à medal race da classe 470 na quinta colocação. A regata decisiva começará às 3h33 (horário de Brasília).
Pedigree campeão
Martine faz parte da mais vitoriosa família do esporte brasileiro nas Olimpíadas, dona de nove medalhas olímpicas. Seu pai, Torben Grael, tem cinco medalhas no currículo, ao lado de Robert Scheidt como maior medalhista do país. Ele competiu em oito edições das Olimpíadas e está presente em Tóquio como coordenador da equipe da Confederação Brasileira de Vela.
Torben foi prata na classe Soling em Los Angeles-1984 e bronze na Star em Seul-1988, ao lado de Nelson Falcão. E ainda conseguiu três pódios com Marcelo Ferreira, todos na classe Star: ouro em Atlanta-1996 e Atenas-2004 e bronze em Sydney-2000. “Acho que a Martine puxou esse lado da competição, e essas duas trabalham muito, você não tem ideia”, disse Torben após a conquista da filha em Tóquio.
Martine também é sobrinha de Lars Grael, que foi duas vezes ao pódio olímpico. Ele conquistou bronzes na classe Tornado em 1988, ao lado de Clínio de Freitas, e em 1996, em parceria com Kiko Pelicano. Kahena também é filha de um vencedor na vela. Afinal, seu pai, Claudio Kunze, foi campeão mundial juvenil nos anos 1980.
Nas Olimpíadas de 2020, outro representante da família Grael a competir foi Marco, irmão de Martine. Ao lado de Gabriel Borges, foi apenas o 16º colocado na classe 49er, ficando de fora da regata decisiva.
Uma dupla de sucesso
Amigas desde a adolescência, Martine e Kahena constroem uma trajetória própria de conquistas há mais de uma década. Elas foram campeãs mundiais júnior em 2009, na classe 420. E fixaram uma dupla a partir do ciclo para os Jogos do Rio-2016 e, desde então, têm dominado a 49erFX.
Afinal, não foram “apenas” bicampeãs olímpicas. Nesse período, elas também se sagraram campeãs mundiais em 2014 e ficaram com o vice em 2013, 2015, 2017 e 2019. Nos Jogos Pan-Americanos, levaram a medalha de prata em 2015 e o ouro em 2019.
Martine reconheceu, porém, que há desafios para uma parceria tão longeva, lembrando, inclusive, que o atual ciclo olímpico teve cinco anos, algo provocado pelo adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 em função da pandemia do coronavírus.
“Não é só uma parceria construída de vitórias, né? Acho que a gente passou por um longo caminho como atleta durante esse ciclo. Esse foi um ciclo de um ano a mais. E a gente passou por ele entre tristezas e alegrias”, comentou.
Com a conquista, Martine e Kahena também se juntaram a outras seis mulheres brasileiras bicampeãs olímpicas, todas da seleção de vôlei de Pequim-2008 e Londres-2012. São elas: Fabi, Fabiana, Jaqueline, Paula Pequeno, Sheilla e Thaisa.