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    Entenda o caso da potencial violação antidoping da jogadora Tandara

    Oposta da seleção de vôlei feminino ficou fora da semi e da final em Tóquio; especialistas explicam o episódio e seus possíveis desdobramentos

    Juliana Castro, colaboração para a CNN

    Oposta da seleção brasileira de vôlei, Tandara Caixeta teve de deixar os Jogos Olímpicos de Tóquio por conta de uma potencial violação antidoping. Especialistas em medicina esportiva ouvidos pela CNN explicam que a substância encontrada no corpo da jogadora, a ostarina, é um tipo de anabolizante que aumenta a potência muscular.

    Eles afirmam, porém, que Tandara também pode ter sido vítima de uma contaminação cruzada. Isso ocorre quando, por exemplo, um suplemento ou medicamento usado pelo atleta apresenta a substância, o que pode acontecer por acidente ou descuido do fornecedor, e o esportista não sabe. Outra hipótese é a ingestão de um produto que contenha a substância, sem que ela esteja descrita no rótulo.

    Suspensa provisoriamente depois de ser comunicada que seu teste deu positivo, a jogadora embarcou do Japão para o Brasil antes mesmo da vitória da seleção contra a Coreia do Sul, por 3 sets a 0, pelas semifinais. O Brasil está na final contra os Estados Unidos e disputa a medalha de ouro.

    Mesmo com o resultado positivo de Tandara no teste, a seleção brasileira feminina não corre o risco de ser desclassificada e perder a medalha – a de prata já está garantida, e o time vai em busca do ouro.

    Entenda o exame antidoping realizado por Tandara, o resultado e os próximos passos.

    Quando e onde foi realizado o teste em Tandara?

    A coleta do material biológico foi realizada fora de competição, no dia 7 de julho, no Centro de Treinamento de vôlei de quadra da seleção, em Saquarema, no Rio de Janeiro. O exame foi feito pelo Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), único credenciado pela WADA, a Agência Mundial Antidoping, na América Latina.

    Quando a oposta soube do resultado?

    A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) informou que Tandara recebeu o resultado no último dia 5. No mesmo dia, foi feito o anúncio de que ela estava suspensa.

    Apenas Tandara foi testada na seleção?

    Não. A ABCD informou que, na ocasião, todas as demais atletas da equipe também forneceram o material.

    Que substância foi encontrada no exame de Tandara?

    Foi constatada na urina a presença da substância ostarina, proibida em competição e fora de competição. É um tipo de anabolizante. “Essa substância estimula a formação de músculos e, por isso, é considerado um doping. Aumenta a força e a potência muscular”, explica Fernanda Lima, médica do esporte do ambulatório de medicina esportiva do Hospital das Clínicas da USP. A médica afirma que a ostarina não é uma medicação autorizada pela Anvisa e sua prescrição é proibida no Brasil. Dependendo da dose, substâncias desse tipo podem ficar até cinco dias no corpo, mas média comum é de 12 a 36 horas.

    Tandara pode ter ingerido a substância de forma acidental?

    Sim, é uma hipótese, e a jogadora deve alegar isso em sua defesa. “Essas contaminações podem ser acidentais em caso de produto manipulado ou se o atleta usa suplemento que vem de fora e que não tem uma regulação pelo órgão do país”, diz Fernanda.

    Gustavo Magliocca, médico do exercício do esporte e coordenador médico do Palmeiras, concorda. “Está com cara de contaminação cruzada, quando a atleta faz uso de um suplemento ou medicamento e ela não sabia que estava contaminada com a substância proibida”, afirma, completando: “Independentemente disso, o atleta é responsável por tudo que é encontrado em seu corpo. Por isso que ela vai ser questionada e julgada.”

    Especulou-se que um remédio para controle de ciclo menstrual poderia ter sido o responsável pelo resultado positivo. É possível?

    Segundo os médicos ouvidos pela CNN, essa hipótese é pouco provável porque não é habitual que medicações para este fim tenham esse tipo de substância.

    Em nota, a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) informou que “os medicamentos usados para controle menstrual pela oposta da seleção brasileira de vôlei, Tandara, eram, sim, de conhecimento do departamento médico da equipe nacional, que inclusive, instruiu, na época, a ginecologista da atleta sobre alguns remédios/componentes proibidos”. A nota diz ainda que “a substância detectada no exame realizado e divulgado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) não apresenta relação com esses remédios, pois a ostarina se trata de uma substância anabolizante”.

    Por que Tandara foi suspensa provisoriamente?

    Pelo Código Brasileiro Antidopagem, a detecção da substância proibida implica na aplicação obrigatória de uma suspensão provisória da atleta assim que o resultado é conhecido. A ABCD informou em nota que seguirá os trâmites processuais do caso em sigilo para proteger os direitos da atleta.

    O Brasil pode perder a medalha nas Olimpíadas se o doping de Tandara for confirmado?

    Até o momento, não. Isso porque o regulamento dos esportes coletivos das Olimpíadas prevê punição como anulação de resultados caso a equipe tenha duas ou mais atletas flagradas em exame antidoping.

    O que Tandara disse sobre o resultado do teste?

    A atleta não concedeu entrevistas, mas, em suas redes sociais, publicou: “A atleta Tandara Caixeta está trabalhando em sua defesa e só se manifestará após a conclusão do caso. Agradecemos o carinho de todos vocês!”. Na tarde desta sexta-feira (6), seu advogado, Marcelo Franklin, divulgou uma nota oficial em que afirma que o “inesperado e abrupto corte da delegação configura situação extremamente desgastante e traumática para qualquer atleta”.

    Qual deve ser a linha de defesa da jogadora?

    Em nota, o advogado da jogadora, Marcelo Franklin, declarou: “Confiamos plenamente que comprovaremos que a substância ostarina entrou acidentalmente no organismo da atleta e que não foi utilizada para fins de performance esportiva”.  No posicionamento, Franklin diz que, anualmente, são realizados cerca de 263 mil exames antidopagem no mundo, dos quais 0,97% apresentam resultado analítico adverso. Dessa porcentagem, menos de 0,40% dos casos de doping são de uso intencional de substâncias proibidas. O advogado afirma ainda que “recentemente, inúmeros atletas no Brasil foram vítimas de incidentes envolvendo a ostarina”, a ponto de a Anvisa intervir para proibir a comercialização de tal substância em território nacional.

    A contraprova já foi realizada?

    Depois que a amostra A dá positivo, o atleta tem direito a pedir e acompanhar a realização da contraprova (amostra B), que fica guardada com lacre no laboratório. Até o momento, esse segundo teste não foi realizado. É por isso que o primeiro resultado positivo é divulgado como “potencial” violação de regra antidopagem, como veio escrito nas comunicações do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). É um cuidado enquanto não sai o resultado da contraprova ou o atleta não confirma a ingestão da substância proibida, ainda que por acidente.

    O que acontece se a amostra B não comprovar o resultado da amostra A?

    Quando isso acontece, o processo não vai adiante.

    Tandara fica suspensa até o julgamento final do caso?

    Não necessariamente. A defesa pode pedir uma audiência especial no Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDAD), órgão que faz os julgamentos desses casos, e solicitar o levantamento da suspensão provisória. Dessa forma, sua situação seria analisada por umas das três turmas no Tribunal.

    Como é o julgamento?

    Os casos de doping no Brasil são julgados pelo Tribunal de Justiça Antidopagem (TJDAD). O caso é analisado por uma das três turmas. Cada uma tem três auditores. A segunda instância é o Plenário do tribunal, que conta com 18 auditores. É a eles que o atleta ou a procuradoria recorre em caso de discordância da pena.

    Que punições Tandara pode sofrer se o doping for confirmado?

    As punições por doping no Brasil variam de advertência a suspensão por até quatro anos. Com a advertência, o atleta não é suspenso, mas perde a condição de primariedade. Ou seja, se testar positivo em outro exame antidoping, enfrentará um julgamento mais duro. As suspensões podem ser de alguns meses ou chegar a quatro anos (geralmente aplicado a casos mais reincidentes), mas tudo depende das informações do relatório da ABCD e da acusação feita pelo procurador responsável. Durante o período de suspensão, o atleta não pode nem mesmo treinar de forma oficial.

    Se a ingestão da substância foi involuntária, o que acontece?

    O Código Mundial Antidopagem informa que é responsabilidade de cada atleta assegurar que nenhuma substância proibida seja ingerida ou entre em contato com seu corpo. Por isso, dizer que não houve intenção, culpa, negligência ou qualquer outra justificativa não elimina a violação das regras antidopagem, no entendimento da Agência Mundial Antidoping. Pelas regras internacionais, toda substância proibida detectada nos testes de controle será considerada dopagem, independentemente da quantidade.

    O que a CBV disse sobre o resultado do teste?

    A CBV publicou nota na quinta-feira (5) após receber a notificação do resultado do teste de Tandara. “A CBV lamenta que a atleta, campeã olímpica e uma das principais referências da equipe brasileira, atravesse este momento, e aguarda os resultados dos trâmites processuais, cujo conteúdo é de caráter particular da atleta e confidencial”. A CBV também informou que todos os medicamentos que a atleta tomava, de conhecimento do médico, são permitidos.

    O COB se pronunciou sobre o caso?

    O COB divulgou também na última quinta-feira, 5, uma nota, a única a respeito do assunto. Disse que havia recebido através da ABCD, a notificação quanto à “suspensão provisória por potencial violação de regra antidopagem” de Tandara e comunicou que ela retornaria ao Brasil.  Em suas notas, nem a CBV e nem o COB informavam a substância encontrada no corpo da oposta. A confirmação veio por meio da ABCD.

    Por que Tandara foi testada se não estava competindo ou nos Jogos Olímpicos ainda?

    O atleta pode ser testado fora de competição, podendo ser abordado por um oficial de controle de Dopagem até mesmo em casa ou em seu local de treinamento, por exemplo. Isso é feito para haver o fator surpresa, para impedir que atletas mascarem a dopagem ao interromper o uso da droga e limpar o organismo antes do início de uma prova.

     

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