Biles diz priorizar saúde mental e não confirma presença nas finais individuais
Norte-americana abandonou a final por equipes e deixou em aberto a presença em decisões nas quais enfrentaria ginastas brasileiras
Não houve lesão, mas sim um pouco de orgulho ferido por uma prova ruim e um tanto mais de cuidado com a saúde mental. Essa foi a explicação da ginasta norte-americana Simone Biles sobre os motivos que a levaram a abandonar nesta terça-feira (27) a final por equipes da ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio.
“Eu apenas não queria continuar”, disse Biles, que deixou a disputa após um desempenho abaixo do esperado na prova do salto. Ela seguiu no ginásio, torcendo pelas companheiras, mas acabou por aplaudir as ginastas da Rússia, que levaram o ouro. Os EUA de Biles, que lutavam pelo tricampeonato olímpico, ficaram com a prata, enquanto a Grã Bretanha conquistou o bronze.
Saúde mental
Por trás do abandono, Biles jogou na mesa a discussão sobre saúde mental dos atletas de alto rendimento. Vencedora de quatro medalhas de ouro no Rio 2016, a norte-americana é uma das principais estrelas dos Jogos de Tóquio.
É grande a expectativa para que ela leve para casa mais algumas medalhas, preferencialmente douradas — Biles ainda deve disputar cinco finais individuais, três delas contra a brasileira Rebeca Andrade.
Mas a nota de 13.766 no salto, a pior da série, foi a deixa para Biles desenhar para todos que, talvez, nem tudo se resuma ao lugar mais alto do pódio.
“Eu tenho que focar na minha saúde mental”, disse em entrevista coletiva. “Não [estava machucada], apenas com meu orgulho um pouco ferido”, completou, para na sequência ampliar sua visão sobre a pressão vivida por atletas como ela: “Temos que proteger nossas mentes e corpos, e não apenas ir lá [competir] e fazer o que o mundo quer que façamos”.
“Eu não confio mais tanto em mim mesma… talvez esteja ficando mais velha. Há alguns dias, quando todo mundo tuita sobre você, vem o peso do mundo nas costas. Nós não somos apenas atletas, no fim do dia nós somos pessoas, e às vezes temos que dar um passo atrás”, avalia. “Você tem que estar lá [na competição] 100% ou 120%, ou você vai se machucar”, completa Biles.
Rebeca e Flávia pela frente?
Biles não confirma que estará nas finais individuais. “Veremos sobre quinta-feira (primeiro dia das finais). Vamos viver um dia de cada vez e ver o que acontece. Vou apenas tentar me preparar para o próximo teste.”
Segundo a federação de ginástica dos Estados Unidos, Biles desistiu por uma “questão médica” e será “acompanhada diariamente” para determinar sua liberação nas outras provas.
A norte-americana está classificada para mais quatro disputas por medalhas. A final no individual geral, competição na qual Biles avançou em primeiro lugar, está marcada para quinta-feira (29) — a segunda colocada, inclusive, é a brasileira Rebeca Andrade, que também enfrentará Biles em mais duas finais: no salto, no domingo (1º), e no solo, no dia seguinte.
No dia 3, próxima terça-feira, Biles ainda tem a final da trave, para a qual também está classificada a brasileira Flávia Saraiva. Em 2016, a norte-americana foi ouro no individual geral, no salto, no solo e por equipes, além de conquistar o bronze na trave.
Apoio ao time
Sobre a prata por equipes, Biles também agradeceu às companheiras pelo desempenho que garantiu o segundo lugar e afirmou que elas tinham condições de seguir na disputa sem a sua participação. “Estou orgulhosa de como as meninas se apresentaram e fizeram o que precisavam fazer. Devo às meninas, isso não tem nada a ver comigo. Estou muito orgulhosa delas”, disse.
Ela também revelou o que disse à equipe no momento em que anunciou a desistência: “Vocês [atletas] fizeram todo o treinamento, podem fazer isso sem mim e vai ficar tudo bem”.
A final por equipes coloca os seis times finalistas participando, em rodízio, dos quatro aparelhos: salto, barras assimétricas, trave e solo. Três ginastas, por país, competem em cada uma das quatro categorias. Elas só têm direito a uma tentativa.
Biles saltou e saiu visivelmente insatisfeita. A nota de 13.766 foi pior do que todas as outras cinco ginastas — as duas norte-americanas e as três russas — e muito abaixo em relação ao desempenho que a própria ginasta havia conseguido nas classificatórias, no último domingo (25), quando marcou 15.183.
(Com informações da Reuters)