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    Belarus, Tadjiquistão, Nicarágua e Burundi mantêm futebol, apesar do coronavírus

    Os quatro países têm visto suas ligas ganharem fãs ao redor do mundo por serem as únicas ainda em disputa

    Adalberto Leister Filho, da CNN em São Paul

    A paralisação do futebol em nível mundial deixou torcedores confinados em casa, jogadores tentando manter a forma sem a estrutura dos centros de treinamento, os canais esportivos sem assunto e os sites de aposta órfãos de opções para seus clientes.

    Mas nem todo o planeta ficou sem a bola rolar. Apenas quatro países, um de cada continente, mantiveram suas competições nacionais em andamento, com grau maior ou menor de cuidado: Belarus, Tadjiquistão, Nicarágua e Burundi.

    Esses países jamais chegaram perto de ir a uma Copa do Mundo, e a Belarus é a nação mais bem colocada no ranking da Fifa, com um modesto 87º lugar.

    No entanto, os quatro países têm visto suas ligas ganharem fãs ao redor do mundo pelo fato de serem as únicas ainda em disputa. Belarus é o caso mais famoso. País governado há 26 anos por Alexander Lukashenko, Belarus não adotou medidas de isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus.

    Lukashenko é um cético em relação ao vírus e já aconselhou sauna, vodka e dirigir trator como alternativas para não pegar COVID-19, vírus responsável por cerca de 95 mil mortes e mais de 1,5 milhão de infectados no mundo todo segundo dados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos.

    Manequins nas arquibancadas

    Alguns clubes têm adotado soluções inusitadas para encenar uma normalidade que não existe. O Dynamo Best, por exemplo, resolveu colocar manequins nas arquibancadas simulando a presença de torcedores. Os fãs, mais preocupados com a saúde do que com as considerações do presidente, têm preferido ficar em casa para se preservar.

    Os torcedores podem comprar ingressos virtuais pela internet. Em troca, o clube coloca a foto de cada fã em um manequim postado na arquibancada. Também ganham o ingresso do jogo, a revista da partida e 10% de desconto na loja online do clube.

    A ação bizarra atraiu pessoas de diversas partes do mundo, como Reino Unido, Emirados Árabes, Irã e Rússia, além, é claro, dos fãs da Belarus.

    Sem paralisação de seu campeonato, a Nicarágua já jogou 15 rodadas de sua competição nacional, que é liderada pelo Manágua, dono de apenas um título nicaraguense. O país é o 151º colocado no ranking mundial da Fifa.

    Faltam apenas três rodada para o fim da primeira fase do Campeonato Nicaraguense, e seis equipes se classificam para os mata-matas, sendo que as duas primeiras colocadas avançam diretamente à semifinal.

    Na Nicarágua, governada por Daniel Ortega desde 2007, há sete casos oficiais e apenas uma morte por coronavírus, embora a falta de transparência cause preocupação para o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (EACDH).

    Único africano nesta lista, o Burundi, na 149ª posição no ranking da Fifa, também conta com um presidente longevo. Pierre Nkurunziza está no poder há 15 anos e é ligado ao futebol, tendo seu próprio time, o Haleluya FC, onde costuma jogar como atacante.

    Com três casos oficiais e uma morte por coronavírus, a liga local realizou reunião no último domingo para deliberar sobre a continuidade dos campeonatos.

    A decisão foi das mais surpreendentes: a primeira e a segunda divisões continuam em atividade, mas os torcedores foram instruídos a lavarem as mãos na entrada do estádio, e os times deixaram de fazer o tradicional aperto de mãos na entrada de campo.

    O último país a retomar o futebol foi o Tadjiquistão, no último fim de semana. Apenas o 121º colocado no ranking da Fifa, a nação asiática teve três jogos de sua liga local no domingo passado.

    Na quarta-feira, mais jogos foram realizados pelo campeonato nacional, sempre com os portões fechados, apesar de oficialmente não haver casos de coronavírus no país.

    Sob as ordens do presidente Emomali Rahmon, no poder desde 1994, não foram tomados muitos cuidados especiais contra a propagação do coronavírus no país, que faz fronteira a leste com a China, onde tudo começou. Há controle de temperatura nos aeroportos, fechados ao exterior e abertos apenas ao repatriamento de cidadão tadjiques que retornem ao país.

    O comércio permanece aberto e há lotação nos transportes públicos. A tradicional festa de Noruz, que celebra o Ano Novo no calendário persa, não foi cancelada, atraindo milhares de pessoas às ruas em 20 de março.  

    “Manter as casas limpas e seguir os padrões de higiene é uma das maiores qualidades de nosso povo, especialmente nos momentos em que todos os tipos de doenças infecciosas estão se espalhando rapidamente”, discursou Rahmon aos seus governados.

    Tecnicamente, a ONG Human Rights Watch considera o Tadjiquistão uma ditadura. Em sua última eleição presidencial, Rahmon foi reeleito com 84% dos votos, em um pleito que OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) definiu como ausência de uma “escolha genuína e um pluralismo significativo”.