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    Adiamento de Jogos Olímpicos e coronavírus acentuam TOC e ansiedade em atletas

    Mulheres com máscara de proteção tiram foto com símbolo olímpico em Tóquio: jogos foram adiados
    Mulheres com máscara de proteção tiram foto com símbolo olímpico em Tóquio: jogos foram adiados Foto: Athit Perawongmetha/Reuters (03.03.2020)

    Por Richard Parr, CNN

    O adiamento de Tóquio 2020 trouxe alívio para muitos atletas olímpicos, mas o atraso na decisão aumentou desnecessariamente os níveis de ansiedade dos atletas, muitos dos quais sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), de acordo com uma psiquiatra que atende esportistas.

    Na terça-feira, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, e o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, concordaram em adiar os Jogos até 2021 Em comunicado conjunto, os organizadores do COI e de Tóquio disseram que a mudança visava “proteger a saúde dos atletas, todos envolvidos nos Jogos Olímpicos e na comunidade internacional”. O anúncio ocorreu apenas duas semanas depois de o COI ter dito que “não haveria plano B.”

    A médica Carla Edwards, que se concentra no tratamento de doenças mentais e lutas psicológicas em atletas, diz que o atraso na decisão de adiamento será difícil para muitos deles. “Acho que a demora para chegar a essa decisão e a oscilação de possibilidades certamente perpetuou e prolongou desnecessariamente ansiedade e incerteza”, afirmou.

    “Para mim, parece que o debate foi baseado no lado comercial e político do esporte, e não nos cuidados e preocupações reais com os atletas e a população mundial”.

    Diferentes tipos de TOC

    Por causa da pandemia de coronavírus, a médica vem dando conselhos usando um artigo (em inglês) atualizado regularmente chamado “Saúde mental e doenças mentais dos atletas na era do COVID-19”. Uma das preocupações levantadas pelo artigo é com atletas com TOC pré-existente.

    “Existem muitos atletas de alto nível que têm transtorno obsessivo-compulsivo clínico, mas são capazes de gerenciá-lo ou tratá-lo de uma maneira que possam viver bem e se destacar de verdade no esporte”, conta a psiquiatra, que trabalha em Ontário, Canadá. “Acho que ter a capacidade de ser organizado e meticuloso sobre os detalhes pode ser bastante útil em muitos esportes”.

    Existem muitos tipos diferentes de TOC, mas o subtipo de preocupação com a contaminação, por exemplo, pode se complicar ainda mais durante a pandemia.

    “Esses indivíduos já são normalmente extremamente preocupados com a contaminação, germes e infecções. Ao adicionar esse cenário, a situação pode ficar do controle. Alguns atletas me enviaram fotos de suas mãos esfregadas até os músculos e tecidos subjacentes. Não é necessariamente o medo de que eles mesmos adoeçam, mas o medo de contaminar os outros. Isso pode ser bastante perturbador.”

    Um estudo sugere que, embora o TOC seja comum em 2,3% dos adultos, nos atletas universitários essa proporção sobe para 5,2%.

    Serena acende uma luz

    Na sexta-feira (27), Serena Williams revelou sua ansiedade e estresse desde que começou o distanciamento social por causa do surto de coronavírus. “Por ansiedade, quero dizer que estou no limite. Toda vez que alguém espirra ao meu redor ou tosse, fico louca”, admitiu a tenista, 23 vezes campeã em torneios do Grand Slam.

    A psiquiatra diz que a honestidade de Serena ajudará outros esportistas neste momento de crise. “Acho extremamente útil. Normaliza essencialmente o que as pessoas estão passando e, para aqueles que lutaram contra doenças mentais no passado, às vezes é difícil saber o que é ansiedade normal ou quando é normal sentir-se desconfortável, versus quando é realmente parte da doença que está voltando”, explica.

    “É muitíssimo útil confirmar que todo mundo está sentindo isso até certo ponto, e mesmo pessoas famosas estão passando por um período difícil”.

    A psiquiatra tratou atletas olímpicos e atletas canadenses da natação, atletismo, hóquei e ciclismo. Durante a pandemia, vem conversando com os comitês olímpicos nacionais para garantir que um senso de comunidade seja criado para os atletas.

    As saídas criativas dos atletas de se exercitar em casa impressionou a profissional. “Tem uma iniciativa bem legal de ciclistas criando grupos de passeio em todo o mundo. E as pessoas podem participar e se juntar a esses ciclistas olímpicos enquanto treinam”, acrescentou.

    “Outros estão publicando proezas atléticas realmente incríveis que estão conseguindo fazer no porão. Um cara postou que correu uma maratona na varanda”.

    Interação humana

    Estrelas olímpicas como a britânica campeã mundial dos 200 metros Dina Asher Smith, o recordista mundial de decatlo Kevin Mayer e a atacante da seleção feminina dos Estados Unidos Carli Lloyd tweetaram seu apoio ao adiamento. No entanto, Carla conta que alguns atletas mais velhos terão dificuldades com o novo prazo.

    “O grupo de atletas que provavelmente será mais prejudicado são aqueles que estão no final de sua carreira e planejavam se aposentar após Tóquio 2020, planejaram iniciar famílias ou ingressar em escolas profissionais, faculdades de medicina, etc.”, acrescentou. “Este ano a mais dá a eles outra oportunidade de competir, mas joga os próximos meses em outro fluxo em termos de planejamento de vida.”

    Como atletas e pessoas de todo o mundo continuam se autoisolando e respeitando o distanciamento social, a principal dica da psiquiatra para a saúde mental durante a pandemia é manter a interação humana.

    “Acho que o mais importante é garantir que as pessoas estejam fazendo a rotina diária necessária para a saúde, as coisas básicas que todo mundo precisa fazer. Comer, dormir, cuidar de si, fazer higiene pessoal, garantir que você se vista todos os dias”, enumera.

    “Às vezes, nossos atletas estão operando em um nível tão alto, viajando pelo mundo e fazendo coisas incríveis. Eles nem sempre pensam no básico que todo mundo precisa fazer. E agora estão em uma situação em que são forçados a fazer o básico, e ajuda inclui a interação humana. “Não podemos ter contato humano agora, mas a interação humana é muito, muito importante”.