Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Veja como era o mundo antes e depois de Thelma ser campeã do BBB 20

    Reality show confinou duas dezenas de participantes ao longo de três dos meses mais movimentados da história recente do Brasil e do mundo

    Thelma, vencedora do Big Brother Brasil 2020
    Thelma, vencedora do Big Brother Brasil 2020 Foto: TV Globo/ Reprodução

    Guilherme Venaglia

    Da CNN, em São Paulo

    Em 21 de janeiro, quando estreou a atual temporada do reality Big Brother Brasil, da TV Globo, o mundo era outro, a começar pelo fato de que os 18 participantes da largada eram praticamente os únicos a estarem confinados em casa — realidade de parte expressiva dos brasileiros em meio à atual pandemia do novo coronavírus.

    O grande prêmio de R$ 1,5 milhão — conquistado por uma médica: Thelma Assis — também não é exatamente o mesmo de três meses atrás. 

    O real perdeu valor e o montante, que antes representava US$ 357 mil, agora compra “apenas” US$ 266,1 mil. A cotação nominal da moeda americana no Brasil passou, em apenas três meses, de R$ 4,20 (valor que já era recorde) para mais de R$ 5,60. 

    Com o final do programa, Thelma e as outras duas finalistas, a influencer Rafa Kalimann e a cantora Manu Gavassi, podem passar dias e dias lendo notícias e mesmo assim dificilmente estarão a par dos acontecimentos.

    Mais tempo para isso, no entanto, também devem ter, já que a rotina de visita a programas de televisão e presença vip em eventos, que tradicionalmente ocupa os ex-BBBs, está praticamente parada. Os participantes que deixaram a atração nas últimas semanas recorreram a lives nas redes sociais para a interação com fãs e amigos famosos.

    Neste período, que reforçou a necessidade e a importância do jornalismo profissional, o Brasil ganhou um novo canal de informações: a CNN estreou no país em 15 de março, com uma cobertura intensa da crise de saúde pública e seus impactos e reflexos na economia e na política. O canal está presente nas principais operadoras de TV paga e em todas as plataformas digitais. 

    Rafa, Thelma e Manu - as três finalistas do Big Brother Brasil 2020
    Rafa, Thelma e Manu – as três finalistas do Big Brother Brasil 2020
    Foto: TV Globo/ Reprodução

    O mundo e o coronavírus 

    Ao longo dessas vinte edições do BBB, são raros os momentos em que a TV Globo permitiu aos participantes que tivessem acesso às notícias mais importantes do mundo externo. Esse lapso de informações, por sinal, já foi até aproveitado em provas dentro do confinamento.  

    No BBB8 (2008), uma prova memorável pedia aos participantes que dissessem se notícias eram verdadeiras ou falsas. O psiquiatra Marcelo Arantes foi eliminado desta prova, que valia a liderança (imunidade de uma semana e poder de indicar outra pessoa à eliminação) após dizer com muita convicção de que era impossível que Fidel Castro tivesse renunciado ao poder em Cuba. Ele tinha. 

    Uma brecha maior foi aberta na edição deste ano. Ao contrário de países como o Canadá, que suspenderam suas versões do Big Brother, a TV Globo decidiu levar o reality show adiante durante a pandemia da COVID-19. Para tanto, um infectologista falou com os brothers sobre as medidas de proteção, bem como o apresentador Tiago Leifert os tranquilizou sobre o estado de saúde de suas famílias. 

    Se o coronavírus ainda era um fato concentrado basicamente na China quando o reality estourou, muita coisa mudou nesses três meses. Ao todo, segundo a Universidade Johns Hopkins, já morreram em decorrência da doença mais de 210 mil pessoas em todo o mundo, de um total de 3 milhões de pessoas infectadas. Da Ásia, o a COVID-19 migrou para todos os continentes, atingindo principalmente a Europa, os Estados Unidos e, mais recentemente, a América do Sul. 

    A dificuldade de compreensão da dimensão da crise para quem está confinado, mesmo que saiba da existência da pandemia, ficou evidente no último sábado (25). Já escolhidas como finalistas, Manu, Rafa e Thelma assistiam a uma live da cantora Ivete Sangalo e se emocionaram ao ouvir um agradecimento da artista para os profissionais de saúde. 

    A economia e o desemprego 

    Participante que mais vezes voltou do paredão na história do reality, o ator Babu Santana falou diversas vezes de sua preocupação com um fenômeno que afeta milhões de brasileiros: o desemprego. Se em janeiro as taxas vinham caindo, o Brasil encerrou abril com diversos relatos de empresas em crise, demissões e suspensões de contratos de trabalho. 

    Sem dúvida, Babu, que já havia atuado em produções como “Tim Maia” (2014), saiu do programa muito mais famoso do que entrou. Apenas no Instagram, seu número de seguidores passou de 23 mil para 5,6 milhões.  

    Apesar de toda a visibilidade, que lhe rendeu convite público do premiado diretor Kléber Mendonça Filho (“Aquarius”, “Bacurau”), o ator pode demorar a voltar a trabalhar. A indústria do entretenimento é uma das mais afetadas, com shows e gravações suspensas sem perspectiva de retorno. 

    Com shows programados para sua saída do programa, Manu Gavassi deve ter de se contentar em promover lives, ao menos por um tempo. Assim como os cantores, milhões de pessoas em todo o mundo passaram a trabalhar remotamente em casa, em um esforço das empresas de manter o maior índice de atividade possível em meio à pandemia.  

    Ex-superministros 

    É provável que os participantes que deixaram a casa do BBB após dia 16 de abril não fiquem muito impressionados ao saberem da saída do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM).  

    Em tempos de acontecimentos tão rápidos, Mandetta não era uma figura conhecida do grande público em janeiro. Sua ascensão ao panteão dos “superministros” foi tão rápida quanto a evolução das suas desavenças com o presidente Jair Bolsonaro, que culminaram na sua substituição por Nelson Teich.  

    É uma disputa até difícil de explicar, uma vez que a expressão “isolamento vertical” provavelmente não fazia parte do léxico dos participantes – como de quase nenhum brasileiro – no início deste ano. Tão pouco, exceção à médica Thelma Assis, é claro, estejam a par dos possíveis efeitos colaterais da hidroxicloroquina. 

    Caso a intenção ao relatar o noticiário seja causar algum tipo de choque, recomenda-se começar por outro pedido de demissão, o do ex-juiz Sergio Moro. Diferentemente de Gleici Damasceno, vencedora do BBB18 que é filiada ao PT, as finalistas deste ano não são conhecidas pelas posições políticas.  

    O desligamento de Moro do Ministério da Justiça, acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferências políticas na Polícia Federal, com certeza seguirá reverberando nesta semana e as ex-BBBs terão mais facilidade em se colocar a par deste assunto. 

    Há também mudanças significativas na política econômica, que colocaram em dúvida o prefixo “super” atribuído ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Ganharam muita força no governo os ministros oriundos das Forças Armadas, em especial o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto. 

    A pandemia do novo coronavírus provocou um cavalo de pau na condução da economia brasileira, que vinha em uma política de redução de gastos públicos e passou a um amplo projeto de financiamento, que inclui de gastos a saúde pública até um benefício a informais que perderam a renda em meio a quarentena, o chamado “auxílio emergencial”, em parcelas de R$ 600. 

    O rumo da prosa também intensificou os atritos entre Executivo e Legislativo. Pacotes de auxílio aos estados e municípios fizeram o ministro Guedes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, colidirem de frente. A tensão chegou ao Palácio do Planalto, a ponto de Bolsonaro e Maia fazerem críticas fortes um ao outro, em entrevistas exibidas ao vivo na CNN

    O luto 

    Segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde, 4.543 pessoas já morreram no Brasil em decorrência da COVID-19, de um total de 66.501 infectadas. Na lista, há famosos, como o desenhista Daniel Azulay

    O Brasil e o mundo, no entanto, também perderam muitas figuras importantes pelas mais diferentes causas ao longo desses três meses. O BBB20 não tinha uma semana no ar ainda quando um trágico acidente de helicóptero resultou na morte do astro do basquete Kobe Bryant e outras oito pessoas, incluindo a filha do jogador, Gianna, de apenas 13 anos. 

    Um dos maiores ícones da música popular brasileira, o cantor Moraes Moreira, fundador dos Novos Baianos, morreu já no começo deste mês de abril, no dia 13, aos 72 anos, vítima de um infarto. Na literatura, outra perda significativa: o escritor Rubem Fonseca, de clássicos como “Agosto” e “Feliz Ano Novo”, faleceu aos 94 anos, também vítima de problemas cardíacos.  

    No cinema, um ícone de Hollywood, o ator e diretor Kirk Douglas morreu em fevereiro, aos 103 anos. No cinema nacional, o cineasta José Mojica Marins, conhecido como Zé do Caixão, morreu no mesmo mês, aos 83 anos, vítima de problemas pulmonares.