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    Shelley Duvall: além do papel de vítima nos filmes, sua carreira foi muito mais

    Boa parte da atenção à atriz, que morreu aos 75 anos, foi destinada à sua ausência dos holofotes após grande sucesso no cinema

    Dan Hechingda CNN

    Em toda a cobertura sobre o legado da atriz Shelley Duvall, que morreu nesta semana aos 75 anos, boa parte da atenção foi destinada à sua prolongada ausência dos holofotes após seu grande sucesso no cinema nas décadas de 1970 e 1980.

    Mais que isso, ela estará sempre ligada à sua interpretação de Wendy Torrance, a vítima frágil e torturada pelo personagem de Jack Nicholson na icônica adaptação de “O Iluminado, feita por Stanley Kubrick com base no livro de Stephen King. Após o filme de 1980, Duvall desapareceu dos olhos do público.

    Infelizmente, a identidade de vítima só foi reforçada em meados da década de 2010, quando Duvall foi entrevistada pelo apresentador Dr. Phil em um episódio considerado explorador e altamente problemático.

    Mas, como qualquer outra pessoa, estrelas de cinema — até mesmo as relutantes, como Duvall — são mais do que suas últimas impressões ou suas notáveis falhas. É lamentável que a ausência de Duvall da esfera pública tenha eventualmente ofuscado seus dons e talentos.

    Muito foi escrito sobre a experiência difícil de Duvall no set de “O Iluminado”, onde ela passou grande parte das exaustivas filmagens — frequentemente 16 horas por dia, seis dias por semana — em um estado de histeria tão intenso que seu corpo se rebelava contra o choro e o estresse constante.

    Em 2021, uma das inúmeras matérias sobre onde ela andou foi publicada no Hollywood Reporter, na qual Anjelica Huston — que namorava Nicholson na época das filmagens — relembrou como Duvall escolheu viver perto do set isolado, nos arredores de Londres, em vez de alugar um apartamento na cidade e se deslocar diariamente.

    “Ninguém faz isso”, disse Huston na época. “Você vai e volta de Londres, mesmo que possa ficar preso no trânsito de duas horas indo e voltando. Mas Shelley fez isso [morou perto do set] por um ano e meio. Ela arranjou um apartamento e morou lá porque era muito dedicada e não queria se prejudicar ou prejudicar ninguém não se entregando completamente ao seu compromisso.”

    Esse compromisso era aparente no produto final, com a interpretação de Duvall como Wendy — a esposa desajeitada e aterrorizada de um escritor alcoólatra que enlouquece enquanto sua família fica isolada em um hotel assombrado no Colorado durante um inverno rigoroso — tornando-se um grande ponto de referência na cultura pop.

    Após “O Iluminado”, Duvall participou de alguns outros projetos bem-sucedidos, mas nenhum que alcançasse o nível de notoriedade daquele filme ou de sua obra anterior, seu aclamado trabalho com o cineasta Robert Altman.

    Décadas depois, quando Duvall apareceu no controverso episódio do “Dr. Phil” com um título sensacionalista, a então atriz de 67 anos fez alegações confusas. Aparentemente, sua saúde mental estava comprometida.

    Shelley Duvall em cena de “O Iluminado”, de 1980 / Warner Brothers/Getty Images

    O episódio gerou uma grande reação negativa e indignação do público e de figuras importantes de Hollywood. Mia Farrow, por exemplo, pediu proteção para “pessoas com doenças mentais contra predadores de programas de TV como @DrPhil” nas redes sociais, enquanto Vivian Kubrick — filha do falecido Stanley Kubrick — classificou a exibição como “horrivelmente cruel” e “entretenimento sensacionalista”.

    Dr. Phil, por sua vez, nunca pediu desculpas pelo episódio. Ele disse ao Chris Wallace, da CNN, no ano passado: “Não me arrependo do que fiz”. O psicólogo apenas admitiu que o programa foi “promovido de uma maneira que as pessoas acharam inadequada”.

    No final das contas, o incidente apenas aumentou a curiosidade em torno de Duvall, que, como apontou o New York Times no início deste ano, manteve uma base fiel de fãs. Seu período como apresentadora da antologia da Showtime, dos anos 1980, “Faerie Tale Theatre” — um sucesso precoce, mas sólido na era nascente da TV a cabo premium, que durou seis temporadas — teve um enorme impacto na geração X mais jovem e nos Millennials, como este escritor.

    O programa de fantasia apresentava contos de fadas clássicos em episódios divertidos e envolventes filmados em um estúdio, e atraía um elenco incrível — incluindo Helen Mirren, James Earl Jones, Treat Williams, Terri Garr e Gena Rowlands, para citar apenas alguns. Além disso, teve um trabalho de direção impressionante de nomes como Francis Ford Coppola e Tim Burton.

    No entanto, era mantido por Duvall, cujo charme e fantasia infantil como apresentadora de cada conto era a cereja do bolo. Ela também atuou como produtora da série.

    Pouco depois de “Faerie Tale”, Duvall interpretou a confidente Dixie, de Steve Martin, na encantadora releitura de Cyrano de Bergerac, “Roxanne”, de 1987. Em um momento da comédia, ela conta um enigma para o personagem principal, Martin, de nariz grande e apaixonado, perguntando: “No que você pode sentar, dormir e escovar os dentes?”. Enquanto Martin tenta encontrar uma resposta, Duvall lentamente e, maliciosamente, revela: “Uma cadeira, uma cama e uma escova de dentes”.

    “Às vezes, a resposta é tão óbvia que você não a vê”, ela continua. Um lembrete para não se concentrar tanto no seu desaparecimento, mas sim no legado de seu trabalho — que sempre esteve presente.

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