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    “Não! Não Olhe!”, novo filme de Jordan Peele, traz terror alienígena

    Em filme enigmático, o diretor de "Nós" e "Além da Imaginação" apresenta mais um suspense com a problemática social do racismo e do preconceito

    Isabella Fariada CNN

    À priori, estamos falando de um filme com uma sinopse pouco complexa. OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer) são dois irmãos que acabaram herdando um famoso rancho na Califórnia, dedicado à criação de cavalos “atores”, após a morte misteriosa do pai.

    Ricky “Jupe” Park (Steven Yeun) é o vizinho deles que, vez ou outra, adquire alguns cavalos para um show especial exibido em seu parque temático mequetrefe.

    Todos esses personagens vivenciam eventos cada vez mais estranhos em sua pequena comunidade, como quedas repentinas de energia e objetos inanimados que caem do céu.

    Dispostos a captarem em vídeo qualquer coisa que pareça fora do comum, os irmãos Haywood contratam os serviços de Angel Torres (Michael Wincott), que instalam algumas câmeras e esperam.

    E nós, espectadores, esperamos com eles.

    Com um primeiro ato um tanto lento, em uma tentativa de construir a tensão do filme, “Não! Não Olhe!” entrega nas entrelinhas o que tem de melhor.

    Como é de praxe na sua carreira, com longas-metragens e a série “Além da Imaginação” (2019), o diretor Jordan Peele alinha, com maestria, os gêneros de terror e suspense com a problemática social do racismo e do preconceito.

    Neste filme, esse tipo de comentário é centrado, principalmente, nos irmãos Haywood.

    O diretor estabelece que essa família é descendente direta do protagonista do primeiro “filme” reconhecido pela humanidade: “O Cavalo em Movimento”.

    Criado em 1878, pelo fotógrafo inglês Eadweard Muybridge, esse conjunto de fotos mostra um jóquei negro guiando um cavalo que galopa. A montagem dessas imagens em movimento dura 3 segundos.

    A história não sabe quem é esse cavaleiro, portanto, Jordan Peele fez uso de sua liberdade artística e lhe deu uma identidade quase 150 anos depois.

    Em busca de uma certa reparação histórica, os irmãos Haywood precisam da chamada money shot, uma imagem de algo, que, no caso, não é desse planeta, que os leve ao estrelato, mais precisamente ao programa da Oprah.

    O que já serve como ponto de partida para uma outra crítica do diretor nesse filme: a sociedade do espetáculo e a incessante criação de conteúdo a qual estamos submetidos.

    Além dessa busca pela fama dos irmãos Haywood, temos Jupe (Steven Yeun) que criou seu parque de diversões como um jeito de lidar com um trauma do passado. Ele tenta atrair fenômenos bizarros para o seu show e capitaliza em cima deles.

    Porém, nada é explícito. Em sua superfície, se trata de um filme sobre alienígenas, mas é tarefa do espectador destrinchar e pensar sobre o que acabou de ver.

    Para os menos aventureiros, não será uma tarefa fácil. A montagem do filme, por exemplo, não contribui para isso. Ela freia o ritmo do longa ao construí-lo em capítulos e ao utilizar cortes bruscos.

    Os diálogos também não são expositivos, funcionando como metáforas para a própria indústria cinematográfica.

    Os pontos positivos do filme, porém, se destacam. Ausente em “Nós” (2019), segundo longa de Jordan Peele, o humor pungente do diretor dá as caras no roteiro de “Não! Não Olhe!” que, alinhado a uma montagem de som impecável e bons efeitos visuais, se firma como mais um exemplo de que o terror não deve se resumir a sustos.

    Chato para alguns, pano pra manga para outros, esse deve ser o filme de Jordan Peele que mais vai dividir opiniões até agora.

    O diretor, porém, só quer uma coisa dos espectadores: que vejam o filme no cinema. Se trata do primeiro longa de terror filmado inteiramente em IMAX, uma chance que não pode ser desperdiçada.

    “Não! Não Olhe!” estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas brasileiros.

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