Musical “Legalmente Loira” discute misoginia e direito da mulher, diz produtor
Montagem nacional do espetáculo indicado ao Tony Awards estreia na quarta-feira (17) e tem apresentação para convidados nesta terça
A montagem brasileira do musical “Legalmente Loira“, que estreia na cidade de São Paulo na próxima quarta-feira (17), discute misoginia e direitos das mulheres, afirmou à CNN Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium de Cultura, responsável pela produção do espetáculo.
“A [personagem principal] Elle Woods é o charme, é a moda, é o glamour feminino em pessoa, e não deixa de lutar pelas mulheres. Isso está muito forte no espetáculo. A gente entende que o texto é necessário, é o teatro musical falando especificamente sobre misoginia e afirmação dos direitos das mulheres na sociedade. É um texto que, para as novas gerações, precisa se manter vivo”, comentou Cavalcanti.
Para o produtor, a história do espetáculo, que é do início dos anos 2000, mostra um novo jeito de ampliar o feminismo dos anos 1970 e 1980.
No enredo, a patricinha Elle Woods é abandonada pelo namorado, Warner Huntington, por ser considerada muito fútil. Ele vai estudar Direito e passa a se relacionar com outra menina, mas Elle não se dá por vencida e decide estudar no mesmo curso, descobrindo o próprio talento para a profissão e ainda provando sua inteligência.
“É mostrar com muito humor, com muita leveza, que uma menina que vai para Harvard atrás do namorado que deu um fora nela, com tudo que ela aprendeu, ela consegue vibrar, ela consegue fazer prevalecer o direito das mulheres”, opina Cavalcanti.
“É um testemunho de como é a mulher feminista no século 21, como é a mulher que tem um mínimo de percepção de que não pode ser dominada pelo homem”.
A peça brasileira é uma adaptação do musical homônimo da Broadway que estreou em 2007, que, por sua vez, foi baseado no filme de Hollywood lançado em 2001 sob inspiração do livro de Amanda Brown. O longa-metragem foi indicado ao Globo de Ouro e ganhou uma continuação em 2003.
A montagem original da Broadway foi indicada a sete categorias do Tony Awards, principal prêmio americano de teatro, e dez categorias do Drama Desk Awards. O musical também estreou já teve uma versão em Londres, na Inglaterra, em 2010, onde recebeu o prêmio de Melhor Musical no Olivier Awards, importante premiação britânica.
“A gente está apostando em um texto que fala de um problema, ainda mais em um país como o Brasil, que é machista, onde as mulheres são agredidas, onde as mulheres são desrespeitadas. Apesar de a gente ter evoluído muitíssimo, a lição, a mensagem [da história] é sempre importante ser revivida. E é importante que ela seja revivida no teatro também”, continua o produtor.
Interpretada no cinema pela premiada atriz Reese Witherspoon, a personagem Elle Woods ganha vida na peça brasileiro na atuação de Myra Ruiz. A atriz paulistana de 31 anos tem larga experiência em musicais, tendo interpretado a bruxa Elphaba em “Wicked”; a carrasca Sra. Wormwood em “Matilda”; e Evita Perón em “Evita Open Air”.
Além de Myra Ruiz, a peça conta com outros grandes nomes, como a atriz e cantora Leilah Moreno, no papel Paulette Bonafonté. Além disso, a produção destaca a escalação de atores e atrizes negros e trans para o elenco, buscando garantir que houvesse diversidade no palco.
Apesar do cuidado para garantir uma roupagem politicamente relevante, Cavalcanti lembra que a montagem é alegre e divertida. “As coreografias são eletrizantes, as músicas não saem da cabeça. Você vai sair de lá de alma leve”, diz. “O ingresso é bem mais barato que terapia”, completa em tom de brincadeira.
Mercado de musicais
A chegada de “Legalmente Loira – O Musical” ao Brasil é mais um capítulo na trajetória dos musicais no país, onde as adaptações estão em alta, seguindo tendência mundial.
Segundo Cavalcanti, um dos desafios para montar musicais no Brasil é o teto de R$ 10 milhões para a captação de verbas para projetos culturais por meio de incentivos fiscais, estabelecido pela Lei de Incentivo a Cultura em 2017.
“O mercado está agitado, falta teatro para tanta produção! Mas, ao mesmo tempo, as temporadas estão ficando mais curtas, e acaba ficando complicado, em termos de recursos, porque o custo de produção é muito significativo, de 35%, 40%, às vezes até 50% do custo geral do projeto”.
“Quanto mais tempo o espetáculo ficasse em cartaz, maior seria o prazo de amortização e de aproveitamento deste recurso que, normalmente, vem de patrocínio. Mas, com o teto de R$ 10 milhões, fica difícil termos temporadas de mais de quatro, cinco meses”, completa.
Ainda que pertencente a um nicho cultural e que haja dificuldades com os recursos, os musicais representam apostas para públicos das metrópoles, como São Paulo, defende o produtor.
“Há produções de teatro musical em Paris, tem na Europa inteira, tem na China, tem no Vietnã, no Japão, na Austrália na Argentina. Ele é um mercado bastante amplo no mundo uma grande aceitação e com uma maior aceitação em São Paulo, que é uma cidade mais internacionalizada. Assim como Londres, e a Brodway em Nova York”, explica.
SERVIÇO
“Legalmente Loira – O Musical”
Quando: de 17 de julho a 8 de setembro, de quartas-feira a domingo
Onde: Teatro Claro, rua Olimpíadas, 360, Vila Olímpia, São Paulo (SP)
Classificação indicativa livre
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