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    Mostra SP: “Regra 34” traz personagem complexa que trabalha como advogada e camgirl

    Julia Murat, ganhadora do prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio, fala à CNN como sempre se interessou em estudar um espectro mais amplo da sexualidade humana

    Isabella Fariada CNN , São Paulo

    Existe uma versão pornográfica para qualquer coisa que exista na internet. É a chamada “Regra 34” e ela engloba, literalmente, tudo. Desde personagens de desenhos, passando por séries de TV, até videogames. No caso do longa, que foi apresentado nos Festivais de Locarno, Rio e NewFest, a personagem é Simone, interpretada por Sol Miranda.

    De dia, ela é uma advogada em formação, que quer atuar na Defensoria Pública, assegurando os direitos das mulheres e, de noite, ela trabalha como uma cam girl, atendendo aos fetiches de quem a assiste em troca de dinheiro.

    Transitando entre um filme de tribunal e uma crônica sobre desejos sexuais, “Regra 34” é um longa forte, que aborda diversos tipos de violência aplicadas de diferentes formas pelos personagens. O filme está na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta sexta (28) e na próxima quarta (2).

    “Me interessava um pouco o fato de que eu era muito moralista sobre o assunto da pornografia, então comecei a investigar um pouco esse universo”, disse Julia Murat, diretora do longa.

    Segundo ela, a ideia original para o filme era contar a história de um casal, em torno dos 40 anos, que fazia filmes pornográficos. Porém, quando se deparou com uma entrevista da atriz americana Sasha Grey, o roteiro tomou uma outra direção.

    “Nessa entrevista a atriz falava que, para ela, a pornografia significava ampliar as próprias barreiras; físicas, psíquicas e emocionais. Ali eu entendi o que eu estava buscando e, então, surgiu o filme”, afirmou Julia.

    Ao lado de amigos e conhecidos, Simone começa a explorar um mundo de desejo que envolve cada vez mais riscos. Nat (Isabela Mariotto) introduz a Simone o universo do BDSM, uma silga que, em português, significa “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”. A amiga tenta dar conselhos de como realizar essa prática de forma segura, com um parceiro confiável, mas Simone não dá muita atenção, se arriscando cada vez mais.

    Para Julia, a violência, nesse caso, começa com a não-escuta.

    “Uma coisa é seu desejo consigo mesmo, estabelecendo e escutando o limite do outro. Outra coisa é você tomando uma decisão acerca do seu desejo não respeitando o limite do outro”, explica a cineasta.

    Pode parecer simples, mas essa colocação é explorada de diversas formas no filme. Ela ilustra, por exemplo, casos de violência doméstica com os quais Simone se frustra ao não saber como resolvê-los, e ilustra, também, uma relação entre amigos onde a chamada “safe word”, ou palavra de segurança, é usada.

    A ambiguidade da protagonista do filme é intrigante, já que ela permanece firme com suas convicções, tanto nos tribunais quanto na internet, chegando a questionar uma colega: “Quem disse que toda prostituta está nesse lugar porque não quer?”, diz a personagem, em uma clara alusão a si mesma.

    Porém, mesmo tão segura, Simone ainda tem medo. Ela não responde, por exemplo, automaticamente, aos fetiches mais pesados de quem a assiste na webcam e, quando o faz, se sente emocionalmente abalada.

    “O desejo da Simone não é onde alguém vai bater, se vai doer, não está nesse lugar pra mim”, diz Julia. “Acho que o lugar é o quanto ela está apreensiva, sentindo que se coloca abertamente para aquele risco”.

    A diretora ainda diz que a produção do filme foi montada de uma forma segura, para que atores e atrizes se sentissem confortáveis nas cenas que envolviam relações sexuais. E, de fato, a direção de Julia é sensível, não sugere ao espectador qualquer tipo de julgamento, mas consegue criar uma tensão que culmina no misterioso final do filme.

    O filme, portanto, foi reconhecido em diversos festivais, ganhando o Leopardo de Ouro em Locarno, Melhor Direção no Festival do Rio e, agora, sendo exibido da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

    “Festivais e Mostras são o ponto de encontro coletivo pra gente pensar o audiovisual no mundo. Eles têm uma importância política, estética, afetiva, até, em todos os sentidos, foi onde eu me formei como cineasta e pessoa”, conclui a cineasta.

    Serviço

    “Regra 34”, de Julia Murat

    Hoje (28) – Reserva Cultural – sala 1 – 21h30

    Quarta (2) – Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 2 – 14h