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    Mandy Moore diz ter recebido cheque com valor de centavos por streaming de “This Is Us”

    O aumento do pagamento de residuais é uma das demandas na greve de atores e roteiristas, a primeira paralisação total de Hollywood desde 1960

    Mandy Moore, atriz que faz a personagem de Rebecca Pearson na série "This Is Us", recebeu cheques cujos valores variavam entre um e 81 centavos de dólar como pagamento de residuais do streaming
    Mandy Moore, atriz que faz a personagem de Rebecca Pearson na série "This Is Us", recebeu cheques cujos valores variavam entre um e 81 centavos de dólar como pagamento de residuais do streaming Instagram/@mandymooremm/Reprodução

    Yara Guerracolaboração para a CNN

    A atriz Mandy Moore, que interpretou Rebecca Pearson na série de TV “This Is Us“, disse ao “Hollywood Reporter” que chegou a receber cheques de centavos pelos royalties de streaming da produção.

    Produzida pela Disney e transmitida pela NBC na televisão, a série fechou um acordo de streaming com a Hulu e, segundo Moore, lhe pagou cheques que variavam entre um e 81 centavos de dólar pelos pagamentos dos residuais do streaming, uma espécie de royalty recebida por atores pela exibição repetida de filmes ou programas de TV.

    Essa é uma das questões centrais da greve dos atores estadunidenses, iniciada nesta quinta-feira (13) após o sindicato da classe, SAG-AFTRA, anunciar apoio aos roteiristas de Hollywood, que já tinham cruzado os braços em maio deste ano.

    Assim, a indústria de cinema norte-americana vive a primeira paralisação total desde 1960.

    “A questão [do pagamento do] residual é um grande problema”, disse Moore em entrevista ao site “Hollywood Reporter” em Burbank, Los Angeles, nesta terça-feira (18). Em frente ao piquete da Disney, a atriz protestava junto à Katie Lowes, estrela do seriado “Scandal”.

    “Estamos em posições incrivelmente afortunadas como atores ativos, tendo participado de programas que obtiveram um tremendo sucesso de uma forma ou de outra… Mas muitos atores em nossa posição por anos antes de nós foram capazes de viver dos pagamentos dos residuais ou, pelo menos, pagar as suas contas”, completou.

    A realidade agora é outra. Além de Moore, Lowes, também disse não ter recebido nada substancial da Disney em decorrência dos acordos de streaming da série “Scandal” com a Netflix e, mais recentemente, com o Hulu.

    @itskimiko

    “New media” 🙄😩 #oitnb #royalties #paycheck #netflix #orangeisthenewblack #brooksoso #soso #kimikoglenn

    ♬ original sound – kimiko

    Outra atriz a comentar sobre o tema foi Kimiko Glenn, a Brooke Soso de “Orange Is The New Black”. Em dezembro de 2020, ela postou um vídeo no TikTok em que mostra ter recebido apenas US$ 27,30 (cerca de R$ 131) de royalties por seu trabalho em 44 episódios da série.

    @itskimiko

    @The New Yorker released an article the other day describing many of our cast’s experience on #orangeisthenewblack and the details will astound you. go to my IG for the link 💕💕 #sagaftra #sagaftrastrike #sagstrike #sagaftrastrong

    ♬ original sound – kimiko

    Com a repercussão do post em meio às notícias sobre a greve em Hollywood, a atriz publicou um novo vídeo contando que muitos atores internacionalmente conhecidos precisavam manter outros empregos para pagar as contas e que, na ocasião, não teriam dinheiro nem mesmo para pagar um táxi até o set.

    Entenda o que pedem os grevistas

    O último grande acordo entre o SAG-AFTRA e os estúdios ocorreu em julho de 2020 e expirou em 30 de junho deste ano – daí o início das negociações. As partes não conseguiram estabelecer um acordo para um novo contrato de três anos e, como resposta, na quinta-feira passada (13) o sindicato optou por se unir aos roteiristas na paralisação.

    Agora, somam-se aos gritos de mudança mais de 160 mil atores, dublês e outros profissionais representados pela sigla. Uma lista detalhada sobre as propostas do SAG-AFTRA foi divulgada na segunda-feira (17) sob o título “Estamos Lutando pela Sobrevivência de Nossa Profissão”, e abrange também o que eles dizem ser as respostas dos estúdios.

    Um dos pedidos, por exemplo, foi o aumento salarial geral de 11% no primeiro ano do contrato a fim de compensar a inflação. Segundo o sindicato, os estúdios reagiram com uma oferta de 5%.

    Outra – e talvez a maior – das divergências é quanto ao aumento dos pagamentos dos residuais por parte dos serviços de streaming, exigido pelos grevistas. Como apontou Moore, atores de outras gerações podiam contar com uma longa sequência de pagamentos devido à exibição repetida dos programas na TV.

    Hoje, porém, a conjuntura da transmissão tem outra natureza, principalmente depois da pandemia de Covid-19, que popularizou o serviço à la carte dos streamings e afastou o consumidor do cinema e da televisão.

    Para entender melhor, o sistema de pagamento dos residuais funciona assim: há uma fórmula de compensação pré-determinada que diminui com o tempo à medida que o programa de TV ou filme vai envelhecendo.

    Além disso, as plataformas são classificadas em níveis baseados nos seus assinantes – aquelas de maior nível pagam residuais mais altos. Mas os valores independem da popularidade do programa.

    O argumento dos sindicatos e atores e roteiristas é que os pagamentos dos residuais presos a essa lógica são muito menores do que aqueles da transmissão de TV tradicional, e que torná-los saudáveis é a chave para permitir que os profissionais possam sustentar as suas carreiras.

    A atriz Katie Lowes também aderiu à greve dos atores de Hollywood e diz ter recebido nada substancial da Disney pelos acordos de streaming da série Scandal com a Netflix e Hulu. Na foto, ela posa com o ator Guillermo Díaz / Instagram/@ktqlowes/Reprodução

    As produções ficam nos streamings de forma permanente, sem as reprises que aconteciam na TV, por exemplo. Isso torna difícil avaliar, dentro da lógica tradicional, o seu valor em termos de pagamento aos profissionais envolvidos na produção.

    “Se você é alguém que teve a sorte de fazer mais de 120 episódios de um programa de sucesso nos anos anteriores – 10, 15, 20 anos atrás – essa reexibição seria o que poderia sustentá-lo nos anos de um projeto menor ou quando desejou fazer uma peça ou se você tem filhos e uma família para sustentar”, disse Katie Lowes ao Hollywood Reporter.

    “E isso não é mais uma realidade. Todo o modelo mudou”, completou.

    Nesse sentido, a proposta levantada pela greve é de que esse pagamento seja calculado com base nos níveis de audiência dos serviços de streaming. O problema é que os estúdios – que incluem nomes como Netflix, Amazon e Disney – consideram os dados de audiência ultrassecretos e não estão dispostos a compartilhar as informações.

    Mas a questão do pagamento do residual é só um ponto da greve. As demandas do SAG-AFTRA incluem, ainda, a proteção quanto ao uso de inteligência artificial. Isso porque a velocidade com que a tecnologia de imagens geradas por IA avança, atores se preocupam com a longevidade de sua carreira, e não querem ser replicados digitalmente sem consentimento ou remuneração.

    O que dizem as empresas

    Do outro lado da discussão, a Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), representante dos grandes estúdios e empresas de streaming, afirma que, ao causar a suspensão de atividades, atores e roteiristas estão prejudicando trabalhadores de outras categorias.

    A AMPTP também diz ter oferecido aumentos históricos de salários e pagamento dos residuais, limites mais altos de contribuição para aposentadoria e plano de saúde.

    “O acordo do qual o SAG-AFTRA desistiu em 12 de julho vale mais de US$ 1 bilhão em aumentos salariais, pensões e contribuições de saúde e aumentos residuais e inclui proteções inéditas ao longo do prazo de três anos, inclusive expressamente com respeito à IA”, disse a AMPTP em um comunicado.

    “O SAG-AFTRA afirmar que não respondemos às necessidades de seus membros é, na melhor das hipóteses, dissimulado”, acrescentou.

    A proposta citada sobre IA é “revolucionária”, segundo a AMPTP. Mas, para o sindicato de atores, não havia nada de inovador na oferta: a sugestão incluía que atores figurantes sejam pagos pelo dia de trabalho e tenham a sua aparência escaneada pela empresa, que, por sua vez, teria total liberdade para usar a imagem por toda a eternidade em quaisquer projetos, sem necessidade de consentimento ou remuneração.

    Outro ponto da réplica dos estúdios hollywoodianos é a turbulência no próprio setor. Eles afirmam que o preço de suas ações estão despencando, enquanto as margens de lucro encolhem. Por causa disso, muitos apelaram para demissões em massa ou cancelamento de projetos.

    Fato é que a paralisação não é positiva para ninguém: seja para os atores e roteiristas, para os estúdios ou para os consumidores. Apesar do cinema tradicional ainda vislumbrar certa folga, uma vez que a maior parte dos lançamentos programados para 2023 já foram rodados, a TV já sente os efeitos da greve.

    A greve dupla de Hollywood pode ter impactos significativos em produções populares / Instagram/@sagaftra/Reprodução

    Mas as produções remanescentes, que até então não haviam sido afetadas pela greve dos roteiristas, foram interrompidas com o apoio dos atores. Algumas delas foram até mesmo canceladas, como é o caso de “Metrópolis”, da Apple TV+.

    Outros nomes populares, como “Stranger Things“, “Ruptura”, “The Handmaid’s Tale” e “Yellowjackets” tiveram as filmagens suspensas.

    Nesta terça-feira (18), porém, o sindicato dos atores concedeu exceção a 39 projetos para dar continuidade às filmagens devido ao seu caráter independente – ou seja, não pertencem a grandes estúdios. Nenhuma das produções faz parte da Aliança de Produtores de Cinema e Televisão.

    Dentre os aprovados, estão os filmes “Mother Mary”, que será estrelado por Anne Hathaway, e “Death of a Unicorn”, que contará com Paul Rudd e Jenna Ortega.

    A lista também conta com “The Rivals of Amziah King”, protagonizado por Matthew McConaughey, “Flight Risk”, dirigido por Mel Gibson, “Dust Bunny”, que terá Mads Mikkelsen e Sigourney Weaver, e “Bride Hard”, com Rebel Wilson.

    A participação dos atores em projetos independentes é endossada pelo sindicato, desde que esses sejam conduzidos segundo os termos levantados na greve. Uma produção bem sucedida sob essas demandas provaria que elas não são “irrealistas”, como apontado pelos grandes estúdios.