“Idoso não precisa ser protagonista, mas deve ser incluído”, diz especialista
No Dia Mundial do Idoso, CNN conversa com a fundadora do "Cinedebate em Gerontologia", Mônica Joesting Siedler: "É importante refletir como o cinema vê a terceira idade"
Há 10 anos, o filme “Amor”, dirigido por Michael Haneke, estreava e com uma história simples. Georges e Anne vivem muito bem a dois; são um casal octagenário que vai a concertos, lê livros, e cuida do seu apartamento em Paris. Um dia, porém, Anne tem um derrame e, a partir daí, Georges precisa adaptar sua vida para cuidar da esposa.
Com uma Palma de Ouro e cinco indicações ao Oscar, com a vitória como Melhor Filme Estrangeiro, trata-se de um filme emocionalmente avassalador.
Nele, a velhice é retratada através de um vínculo amoroso muito forte entre ambos os idosos, ao mesmo tempo, porém, que introduz a doença e dependência como parte da vida de ambos.
Trata-se de um filme instigante para alguns, e nem tanto para outros.
“Eu digo que, só não envelhece quem morre.”
Mônica Joesting Siedler, mestre em enfermagem, fundou o chamado “Cinedebate em Gerontologia”. São aulas de análises cinematográficas dadas à terceira idade focando, justamente, em filmes que trazem o idoso como ponto importante da história.
Entretanto, filmes que abordam a velhice como um período cheio de limitações não estão na lista.
“É muito importante pensar ‘para quem eu vou mostrar esse filme’?”, diz ela, citando ‘Amor’ como exemplo. “Se você me disser que jornalistas ou enfermeiros verão a produção, eu vou achar ótimo, mas mostrar para os idosos já é mais complicado.”
A especialista defende passar filmes a seus alunos que sejam mais esperançosos e afastem o medo inevitável de envelhecer, mesmo que eles retratem doenças, como o Alzheimer.
“É preciso que eles se vejam representados nas telas. Nem todo idoso envelhece com demência”, diz Mônica.
É mais importante, por exemplo, trazer uma situação rotineira em um filme, isso faz com que os idosos espectadores não se sintam sozinhos.
Mônica conta a história de quando passou aos seus alunos o filme “Garotas do Calendário” (2003), dirigido por Nigel Cole. Estrelado por Helen Mirren, Julie Walters e Linda Bassett, o filme é uma dramédia espirituosa que traz essas mulheres posando nuas para arrecadar dinheiro para um hospital.
“Muitas alunas minhas pintavam o cabelo, mas ao verem as atrizes de cabelo branco sendo poderosas, aceitaram os próprios fios”.
Além dos personagens, a cinematografia é muito discutida nas aulas. Por que o diretor usou esse enquadramento para retratar o ator? Por que o ator está curvado desse jeito? Por que essa cor está sendo usada especificamente na cena? São alguns questionamentos que, segundo Mônica, ajudam os idosos a se conectarem com o que veem na tela.
“A partir dos anos 2000, nota-se uma mudança na abordagem do cinema para com os idosos, muitos filmes mais leves foram feitos a partir dali.”
“Conversando com Mamãe” (2004), “Lugares Comuns” (2002) e “O Estudante” (2009) são alguns exemplos onde o idoso não é necessariamente o protagonista, mas não se encontra alheio à história – é incluído na narrativa como uma pessoa real.
Do outro lado, há outros exemplos. “Amour” (2012), “Nebraska” (2013) e “Vortex” (2022) possuem o protagonismo da terceira idade, mas de um jeito muito mais duro, trazendo uma situação real demais para alguns o que pode fugir da aba do “entretenimento”.
“Por meio do cinema, a gente conversa e prepara os alunos para o que eles vão encontrar na velhice”, diz Mônica. “Sem idealizações ou grandes sofrimentos, mas sempre deixando uma boa sensação quando os créditos rolam”.