Na Netflix, ator Rodrigo Sant’Anna quer levar comédia brasileira para o mundo
“O público do streaming tem desejo de consumir humor popular”, conta o comediante em entrevista à CNN
O ator, comediante e roteirista Rodrigo Sant’Anna recentemente trocou a televisão aberta pelo streaming. Em nova e inédita parceria com a Netflix, ele promete a primeira sitcom brasileira da plataforma e conteúdos em diferentes formatos – incluindo um especial de comédia onde interpreta cinco personagens, chamado Cheguei.
“O público do streaming tem desejo de consumir humor popular”, afirmou Sant’Anna ao responder com uma pergunta: “Por que não levar o humor popular às novas plataformas de consumo?”. A ideia faz todo o sentido, visto que a comédia é tradicionalmente um dos gêneros mais consumidos no Brasil.
E não só: os números recentes da Netflix confirmam o interesse em comédias brasileiras pelo mundo. Em 2020, o filme “Tudo Bem no Natal Que Vem”, com Leando Hassum, foi assistido por 26 milhões de lares em diferentes países.
Rodrigo destaca que uma das principais características de seu trabalho é jogar com os contrastes causados pela desigualdade social no país, mostrando a realidade sob um novo olhar. “A comédia tem uma verborragia de maneira espontânea. Eu sempre quis falar disso, porque eu vivi realidades muito distintas”, afirmou o ator, que nasceu na periferia carioca e usa o apelido de “suburbano”. “Quando você confronta essas duas realidades, sempre dá pano para manga”.
Ele também atribui o grande sucesso de seu trabalho entre o público com a capacidade de criar personagens que estão presentes na vida de todos. “Minha preocupação é sempre criar identificação”, disse à CNN.
Com a estreia de sua sitcom (“situation comedy”, expressão usada em inglês para designar séries que usam o cotidiano para criar humor) multicâmera programada para 2022, Sant’Anna se diz ansioso pela reação do público com as próximas estreias. O gênero é marcado por sucessos como Friends e The Big Bang Theory, e consiste na atuação do episódio em frente à plateia em um auditório, que é filmada por diversas câmeras no local.
O que há de diferente, no entanto, entre os exemplos do exterior e A Sogra Que Te Pariu, escrita e protagonizada pelo comediante, é o elemento da espontaneidade e alto-astral, que caracteriza o humor brasileiro, de acordo com Sant’Anna. “A comédia tem um pouco dessa dramaturgia da festa, é uma quebra de expectativa constante”, disse.
A ideia da série surgiu em um momento provocado pela própria mãe de Rodrigo, que morou com o ator e seu marido durante algumas semanas na pandemia da Covid-19. O jeito expansivo e desinibido da matriarca o fez perceber os contrastes entre a vida em um ambiente de classe média alta, cheio de pequenas regras e inibições sociais, e aquela vivenciada nos subúrbios. “Essa espontaneidade do lado daqui, para mim que cresci no subúrbio, as pessoas são mais coloridas, verdadeiras, espontâneas, contrastando, com um lugar mais pastel, mais sóbrio”, explicou.
A Netflix tem sido uma porta de acesso a outros países e públicos estrangeiros: o sucesso estrondoso de La Casa de Papel, originada na Espanha, Round 6, da Coreia do Sul, e Lupin, da França, não deixam mentir. A empresa aposta agora na comédia como um dos carros chefes da propulsão do conteúdo brasileiro para o público estrangeiro. O sucesso parece uma consequência natural para Sant’Anna, que afirma que caso o mundo seja capaz de absorver a espontaneidade brasileira, “com certeza teremos grandes comédias para o mundo”.
Para o ator, o gosto do público do streaming não difere muito daquele que assiste à televisão aberta. “No streaming, a gente pode oferecer um humor popular com mais qualidade, porque temos a infraestrutura potente que ele nos oferece, é uma união de forças”, expôs.
“Eu acho que nada some, as coisas são complementares”, afirmou ao explicar que, apesar de pensar que o streaming é um formato bem consolidado no Brasil, não acredita que ele represente o fim da vida da TV aberta.