Discursos de celebridades afetam eleição dos EUA? Estudo de Harvard responde
Nomes como Hulk Hogan, Kid Rock, Megan Thee Stallion, George Clooney e Jennifer Aniston são alguns dos que se mobilizaram em favor de Donald Trump ou Kamala Harris
O ex-presidente e candidato republicano Donald Trump levou Hulk Hogan e Kid Rock para a Convenção Nacional Republicana no mês passado, enquanto Megan Thee Stallion, George Clooney e Jennifer Aniston estão entre os artistas renomados que manifestaram apoio à vice-presidente Kamala Harris em sua candidatura à Casa Branca. Mas os esforços eleitorais de celebridades movem a agulha? Ou é tudo apenas exagero?
Um novo estudo do Ash Center for Democratic Governance and Innovation da Universidade de Harvard, divulgado primeiramente pela CNN, descobriu que as celebridades desempenham um papel influente na promoção da participação cívica dos cidadãos americanos.
“Embora algumas pesquisas mostrem que as pessoas afirmam não serem influenciadas pelas vozes das celebridades quando o assunto é política, evidências mais rigorosas indicam que essas vozes são incrivelmente poderosas”, diz o estudo de Harvard.
Quando celebridades promovem apelos à ação, o estudo descobriu que organizações sem fins lucrativos relatam maiores taxas de registro de eleitores online e de inscrições de mesários.
“As celebridades estão posicionadas de forma única para capacitar os americanos comuns a exercer seus direitos cívicos”, afirma o relatório. “As celebridades são uma força inigualável na cultura americana, informando o que compramos, o que vestimos e sobre o que falamos. Com influência e alcance significativos, elas são poderosas defensoras de causas sociais e políticas.”
O relatório de Harvard não examina o apoio de celebridades a candidatos ou partidos políticos específicos, concentrando-se, em vez disso, no papel que as celebridades desempenham em esforços de participação eleitoral apartidária, como educar, mobilizar e encorajar os americanos a se registrarem para votar.
“Este estudo se concentrou no engajamento cívico apartidário e nas maneiras de ajudar a capacitar os jovens para que suas vozes sejam ouvidas nas urnas”, disse Ashley Spillane, autora do estudo e cofundadora do Civic Responsibility Project, à CNN, acrescentando que as celebridades podem ajudar a criar “uma cultura em torno da participação, tornando-a divertida e algo que você deve se importar em fazer”.
Essa é uma mensagem que pode ser crucial para atrair eleitores de primeira viagem ou mais jovens, que “enfrentam barreiras à sua participação, em grande parte devido à escassez de informações sobre a mecânica básica de votação em seu estado”, concluiu o estudo.
“As celebridades têm uma habilidade única de se conectar com as gerações mais jovens, de maneiras que a grande mídia e outros esforços para fazer as pessoas votarem podem não conseguir”, afirma o estudo.
“Seu controle e presença nas mídias sociais as posicionam como fontes centralizadas de informações a serem exploradas e utilizadas por aqueles que buscam aumentar a participação dos eleitores.”
Esta temporada de campanha para a eleição presidencial dos EUA explodiu nas mídias sociais, com eleitores mais jovens compartilhando memes de gatos (uma homenagem ao companheiro de chapa de Trump, JD Vance) e emojis de coqueiros (um cartão de visita para os apoiadores de Harris).
A estrela pop britânica Charli XCX impulsionou o apoio da geração Z a Harris com um único tuíte, que dizia: “Kamala é Brat”.
Trump sentou-se, no início desta semana, com o streamer Adin Ross, 23, para uma entrevista na plataforma social Kick, depois que seu filho adolescente, Barron Trump, disse que era fã da influenciadora.
A geração Z e a geração Y, que representarão o maior bloco eleitoral dos EUA até 2028, passam, em média, 180 minutos e 157 minutos, respectivamente, todos os dias nas mídias sociais, tendo-as como sua principal fonte de informação, de acordo com o estudo.
Os pesquisadores de Harvard notaram o poder das mídias sociais, mas também exploraram campanhas de celebridades em vários meios, incluindo televisão, documentários, merchandising e anúncios de serviço público.
Eles analisaram dados de iniciativas de celebridades nos ciclos eleitorais de 2018, 2020 e 2022, incluindo esforços de Kerry Washington, Billie Eilish, Hailey Bieber, Trevor Noah, David Dobrik, Questlove e Taylor Swift.
Por exemplo, em 2018, quando Swift compartilhou uma publicação no Instagram para incentivar seus então 112 milhões de seguidores a se registrarem para votar, ocorreu o maior dia de registro de novos eleitores na história, de acordo com o relatório.
Outros esforços pesquisados incluem o de Ariana Grande, que promoveu o registro de eleitores em 2019 montando estandes em seus shows durante sua turnê mundial “Sweetener”, e Kylie Jenner, que, em 2020, postou no Instagram um link para se registrar para votar, o que resultou em um aumento de 1.500% no tráfego em comparação ao dia anterior.
Um dos estudos de caso do relatório gira em torno de Eilish, a cantora vencedora do Grammy, que tem falado abertamente sobre votar com sua jovem base de fãs. Em 2020, Eilish recrutou mesários para a organização Power the Polls e mediu seu impacto com uma URL exclusiva que foi compartilhada com seus seguidores.
Trevor Noah, ex-apresentador do “Daily Show”, também trabalhou com a mesma organização sem fins lucrativos de registro de votos, fazendo apelos à ação em seu programa noturno, que recrutou mais de 35 mil mesários em 2020, de acordo com Harvard.
O YouTuber David Dobrik, que é conhecido por doações de carros e tem dezenas de milhões de seguidores nas redes sociais, se uniu à organização sem fins lucrativos Headcount para presentear com cinco Teslas americanos registrados para votar.
De acordo com o estudo de Harvard, das quase 500 mil pessoas participaram do sorteio, 75% eram da geração Y ou Z e 65% realmente votaram.
Washington, atriz da série “Escândalos – Os Bastidores do Poder” (“Scandal”, em inglês), lançou a Influence Change, plataforma que recruta colegas artistas para promover o engajamento cívico.
De acordo com Harvard, por meio da Influence Change, Washington recrutou mais de 250 celebridades em 2020 para ajudar a promover o registro de eleitores, votação antecipada, recrutamento de mesários e elaboração de um plano de votação.
“Democracias funcionam melhor quando todos votam. Como alguém sob os olhos do público, é importante para mim lembrar as pessoas de seu poder político e compartilhar qualquer informação que eu tenha que as ajude”, disse Washington à CNN.
“Artistas, músicos, atletas, atores e criadores têm uma oportunidade única de encorajar os eleitores. O alcance combinado de nossas redes pode ser alavancado para inspirar a participação e garantir que mais pessoas tomem seu lugar de direito como participantes ativos em nossa democracia.”
Washington acrescentou: “Eu não falo porque sou um artista, eu falo porque sou americana.”