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    “Desafio é estar à altura dos que me precederam”, diz Jorge Caldeira ao assumir vaga na ABL

    Em entrevista à CNN Brasil, o escritor conta como foi assumir a cadeira 16 na Academia que completou 125 anos quarta

    Ester Cassavia*da CNN , São Paulo

    Autor de mais de 20 obras como “Mauá: Empresário do Império” e seu mais novo livro “Brasil paraíso restaurável”, o escritor Jorge Caldeira é o novo ocupante da cadeira de número 16 da Academia Brasileira de Letras, que completou 125 anos na quarta-feira (20).

    Caldeira tem como seu patrono o autor Gregório de Matos, conhecido também como “Boca do Inferno”, um dos principais poetas do movimento artístico barroco no Brasil Colônia.

    “Meu desafio agora é estar à altura dos que me precederam. Eu só posso ficar muito alegre. A cadeira 16 é uma continuidade em certo sentido, porque eu sou da Academia Paulista de Letras há 14 anos. É uma espécie de continuidade de um convívio que já existia antes”, conta.

    A eleição aconteceu no último dia 7 quando o escritor recebeu 29 dos 33 votos possíveis. Na História, muitas figuras tentaram ocupar essa posição e não conseguiram. O ex-presidente Juscelino Kubitschek tentou na década de 1970 um lugar na Academia e perdeu. Caldeira afirmou que “ex-presidentes ainda reclamam que a eleição é pior que a de presidente. Então, como eu tive uma votação muito boa, eu só posso estar alegre”.

    O paulistano é o quinto nome a ocupar o lugar de número 16. O primeiro ocupante foi o crítico literário Araripe Júnior, sucedido por Félix Pacheco, Pedro Calmon e Lygia Fagundes Telles, única escritora neste grupo e terceira mulher a integrar a ABL. Conhecida como “Dama da literatura brasileira”, Telles faleceu no dia 3 de abril deste ano. Jorge conta que ela era uma mulher extraordinária e escritora excepcional.

    “Ela tem uma noção de ser ao mesmo tempo e falar das grandes estruturas místicas e do cotidiano como se fosse a mesma coisa, que é uma realidade imensa como escritora”.

    Uma curiosidade sobre sua entrada na Academia foram as dezenas de sites que o registraram como torcedor fanático da Lusa. “É uma tradição familiar inteiramente não portuguesa [todos brasileiros] mas na Portuguesa”.

    Ele ainda revela ainda que seu avô foi presidente do time por várias vezes. E, como em qualquer outra família com tradição em torcida, esse amor foi do avô para o pai, do pai para ele, e claro dele para seu filho.

    Caldeira, que também é jornalista, trabalhou com verbetes enciclopédicos e depois começou a se aventurar com seus livros. Autor de obras inovadoras, o próprio as define como “filhas de duas coisas”: o computador que permitiu juntar essa documentação e o fácil acesso ao banco de dados. Para ele, essa junção  “permite que você crie histórias completamente inovadoras porque você junta dados que você não podia juntar antes”.

    Em seu livro “Mauá: empresário do mundo”, ele explicou que se não fosse esse acesso pelo banco de dados seria muito mais trabalhoso, levando mais de uma hora para conseguir ler um documento. “Você tem que fazer um curso para ler cada página”, comenta.

    Hoje, seu mais novo desafio é escrever sobre questões ambientais.

    “É uma emergência, é uma questão da qual não podemos tentar esconder do cidadão”, como no seu último lançamento “Brasil paraíso restaurável”, finalista do prêmio Jabuti 2021. A obra retrata como o Brasil, em meio a um mundo que está se desenvolvendo cada vez mais em um futuro sustentável, pode assumir uma posição de protagonismo em potenciais renováveis.

    125 anos da ABL

    Há 125 anos, no Rio de Janeiro, foi criada a Academia Brasileira de Letras tendo como seu principal fundador o escritor Machado de Assis. No ano passado, a ABL ganhou novos membros como a atriz Fernanda Montenegro, ocupando a cadeira 17, e o cantor e compositor Gilberto Gil ocupando a cadeira 20. A ABL conta ainda com um novo presidente, o jornalista Merval Pereira, eleito em dezembro do ano passado.

    Por fim, Caldeira explica que nestes últimos 125 anos o objetivo da Academia continua o mesmo: reunir pessoas interessadas na Língua Portuguesa, no futuro e no melhor uso dela, sendo uma mistura rara de constância e inovação a cada ano que passa.

    *(sob supervisão de Ludmila Candal)

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