Como uma das primeiras acusadoras de Weinstein está empoderando outras vítimas
Ambra Gutierrez apresentou uma queixa formal, em 2015, contra o ex-produtor de filmes, mas procuradores alegaram falta de evidências e recusaram o processo
A modelo Ambra Battilana Gutierrez, uma das primeiras mulheres a acusar formalmente o ex-produtor de filmes Harvey Weinstein de abuso sexual, está trabalhando com um grupo para tentar proteger outras modelos de situações similares e violações que elas possam enfrentar no ambiente de trabalho.
“Modelos precisam se sentir seguras e entender que elas estão em uma posição de poder quando falam agora, e não ter medo, especialmente quando há uma organização como a Model Alliance que pode apoiá-las em qualquer tipo de problema que elas possam enfrentar, inclusive assédio sexual”, disse Gutierrez, em entrevista recente à CNN.
Em 2015, ela apresentou uma queixa de abuso sexual contra Weinstein no Departamento de Polícia de Nova York (NYDP), afirmando que ele a agarrou durante uma reunião. No dia seguinte, a Divisão de Vítimas Especiais do NYDP pediu que ela utilizasse um gravador para registrar o abuso. Na gravação, Weinstein profere comentários potencialmente incriminadores e se desculpa por tocar no seio dela.
Apesar da gravação, os procuradores de Nova York alegaram falta de evidências no caso e recusaram o processo. Mais tarde, Gutierrez assinou um acordo não revelado com Weinstein.
A revista New Yorker divulgou a gravação enviada à polícia em 2017. Na época, os advogados de Weinstein disseram que não comentariam o áudio.
#MeToo
Desde então, Gutierrez tem se tornado uma apoiadora com voz do movimento #MeToo. Ela faz parte da Model Alliance, uma organização sem fins lucrativos fundada pela modelo e cineasta Sara Ziff. O grupo trabalha para obter mudanças estruturais na indústria da moda e combater o assédio sexual, entre outros objetivos.
A Model Alliance também criou o programa RESPECT, que Ziff descreve como “uma iniciativa do setor privado que estimula empresas a assinar acordos juridicamente vinculados para manter um código de conduta aplicável”.
“É claro que há muito medo de se falar sobre abuso na indústria, seja em assuntos econômicos ou assédio sexual, num momento em que realmente não há canais apropriados para apresentar queixas, e muitas pessoas sequer conhecem seus direitos”, afirmou Ziff.
Em fevereiro, Weinstein foi condenado por um crime sexual em primeiro grau envolvendo uma mulher, e estupro em terceiro grau envolvendo outra. Ele deve receber a sentença no dia 11 de março e pode enfrentar 25 anos de prisão. Weinstein alega inocência em ambos os casos.
Após o relatório inicial da polícia, de quando Gutierrez apresentou a queixa contra Weinstein em 2015, ela relata que entrou em depressão. “A cobertura negativa me impactou muito. Eu não era bem-vinda em restaurantes, em locais onde eu me socializava com amigos aqui em Nova York”, afirmou ela. “Digamos que eu fui destruída mentalmente e fisicamente e, claro, em termos de reputação.”
A modelo contou que está mais forte hoje. “Acredito que me dedicar a ajudar os outros me ajudou muito com relação ao que eu estava sentindo e pensando na época”, disse ela. “Minha esperança é inspirar outras mulheres a falar, ver o que eu passei e entender que há (e pode haver) um resultado positivo.”