Ator Ben Stiller diz não se desculpar por estrelar e dirigir filme com “blackface”
Prática considerada racista foi usada no longa "Trovão Tropical", estrelado e dirigido pelo astro de Hollywood
O ator americano Ben Stiller, que atuou em sucessos do cinema mundial como “Uma Noite No Museu”, disse nesta semana que não se desculpa por ter feito o filme “Trovão Tropical” (2008).
O controverso longa, que também foi dirigido por Stiller, é alvo de diversas críticas pelo fato do ator Robert Downey Jr. (o “Homem de Ferro”) ter usado “blackface” na composição do personagem Kirk Lazarus.
A prática, que consiste em uma pessoa branca pintar o rosto para se “fantasiar” de uma pessoa negra, é considerada racista.
A polêmica voltou à tona nesta semana no Twitter depois que um fã pediu que Ben Stiller parasse de se desculpar por ter feito o filme. “@BenStiller Por favor, pare de se desculpar por fazer este filme. Foi e ainda é engraçado”, disse o homem.
Depois, o ator respondeu a publicação: “Não peço desculpas pelo Tropic Thunder. Não sei quem te disse isso”.
O astro de Hollywood afirmou também que a produção foi um filme polêmico desde que estreou. “Orgulhoso disso e do trabalho que todos fizeram nele”, disse Stiller.
https://twitter.com/BenStiller/status/1628119652231520257
“TROVÃO TROPICAL”
Estrelado por Stiller, Downey Jr. e Jack Black (“Escola do Rock”), o filme conta a história de um grupo de atores que viaja até o Sudeste Asiático para rodar um longa de guerra, mas que acaba vivendo situações reais de um conflito militar.
Na produção, o personagem Kirk Lazarus é um ator branco que passou por uma cirurgia de pele para interpretar o Sargento Lincoln Osiris, um homem negro.
PRÁTICA CONSIDERADA RACISTA
Em entrevista à CNN, a pesquisadora e advogada Waleska Miguel Batista explicou que o “blackface” é uma prática racista e que precisa deixar de existir na sociedade.
“O ‘blackface’ é caracterizado como uma prática reconhecidamente racista porque, no final do século 19, nós tínhamos uma sociedade norte-americana racista e segregacionista em que os negros eram impedidos a acesso a teatros e shows”, pontuou a especialista.
Se os negros não podiam assistir, tampouco tinham oportunidade de atuar nos espetáculos, sendo encenados por artistas brancos com rostos pitados com tinta preta: “Somente os brancos tinham esses espaços e começaram a fazer espetáculos utilizando-se de características que eles atribuíam a pessoas negras”.
“O movimento antirracista apontou isso [o ‘blackface’] como uma forma de manutenção do racismo. Com esse fundamento, foi colocado que as pessoas não deveriam fazer essa prática, sendo classificada como vergonhosa e desprezível”, explica Batista.