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    Alceu Valença volta ao Carnaval após sucesso nas redes na pandemia: “Não vou fazer dancinha do TikTok”

    Em entrevista à CNN, cantor falou da expectativa para bloco "Bicho Maluco Beleza", que deve reunir 450 mil pessoas neste sábado (11), comentou viralização de suas músicas e relembrou seu colega guitarrista Paulo Rafael, que morreu por complicações de um câncer

    Léo Lopesda CNN , em São Paulo

    Alceu Valença está prestes a matar o que chama de “uma de suas maiores saudades”. Após três anos de hiato, o icônico cantor pernambucano de São Bento do Una, no auge de seus 76 anos, se prepara para, neste sábado (11), realizar o primeiro megabloco do Carnaval deste ano em São Paulo.

    O “Bicho Maluco Beleza”, que acontece a partir das 14 horas no Parque do Ibirapuera, deve atrair mais de 450 mil pessoas. São esperadas as participações dos artistas Juba – filho de Alceu –, Mariana Aydar, Orquestra Tropicana de Frevo e Chico César – que desfilará também em bloco próprio, às 10h, no mesmo local.

    Em entrevista à CNN, Alceu relata que está mais do que pronto para romper com essa pausa carnavalesca forçada pela pandemia de Covid-19.

    “Peguei três vezes a Covid-19, já tomei as quatro vacinas. Minha saúde está excelente, maravilhosa, sobretudo por essa volta aos palcos. Quando estou no palco é a maior vitamina que existe para mim. Eu viro aquele menino que foi morar no Recife, aquele menino do Carnaval, do frevo, do baião”, contou durante a conversa por Zoom.

    Mais do que acostumado aos palcos, ele já não sente nervosismos ou sequer precisa de preparações especiais, mas dessa vez até fez algo diferente.

    “Por acaso, agora eu fui fazer pilates, já fiz duas vezes, mas é muito mais pelo estresse”, revelou. Não é por menos. A quantidade de shows que faria normalmente ao longo de um mês, no Carnaval, viram uma agenda frenética de pouco mais de 10 dias, às vezes com mais de um show por dia.

    Carnaval 2023 de Alceu Valença

    • 11/fev.: Bloco Bicho Maluco Beleza – São Paulo/SP
    • 16/fev.: Olinda/PE
    • 17/fev.: Jaboatão dos Guararapes/PE
    • 17/fev.: Marco Zero – Recife/PE (Participação no show de Geraldo Azevedo)
    • 18/fev.: Carnaval Boa Viagem – Recife/PE
    • 19/fev.: Paudalho/PE
    • 21/fev.: Carvalheira na Ladeira – Olinda/PE
    • 21/fev.: Marco Zero – Recife/PE
    • 25/fev.: Camarote Folia Tropical, da Sapucaí – Rio de Janeiro/RJ

    No caso do bloco, será a sétima edição do evento, mas apenas a primeira desde que viu seus números crescerem ainda mais durante a pandemia.

    Seu vídeo cantando “La Belle de Jour” e “Girassol”, por exemplo, ganhou mais de 100 milhões de visualizações no YouTube nesse período, chegando a 245 milhões recentemente.

    “Sinto expandindo para tudo que é canto, as coisas foram se expandindo. A internet catapultou tudo isso. Ninguém entende direito por que aconteceu, é viral”, disse Alceu.

    Relembrando com saudades a sensação de estar em cima do trio do “Bicho Maluco Beleza” e impulsionado pela viralização, ele disse que espera ver o triplo de público em relação à última edição, em 2020. “Se for menor, vou cantar com o mesmo gosto”, brincou.

    “Não vou fazer dancinha”

    Desde que começou a participar nos festivais universitários ainda nos anos 1970, a música de Alceu Valença sempre foi bem relacionada com a juventude brasileira.

    Mesmo assim, sua equipe relatou como, durante a pandemia, os números do artistas nas diferentes plataformas tiveram um incremento significativo.

    Inclusive aproveitando o movimento, por exemplo, Alceu ganhou um perfil no TikTok em 2021 para colaborar na divulgação do disco “Sem Pensar no Amanhã” – um dos quatro que gravou durante a pandemia em seu “surto criativo”.

    O sucesso nas redes não o pressiona em nada. “Eu costumo fazer as coisas do meu jeito mesmo. ‘Faça aqui uma dessa que é sucesso.’ Eu respeito, pode fazer, mas eu não faço”, afirmou.

    Ele relembra que, quando foi lançar “Cavalo de Pau” pela Universal, em 1982, o disco foi entregue com oito músicas, mas a gravadora pressionou para que saísse com 12.

    “Eu neguei, falei que já estava feita a história que eu quero contar. E foi o disco que mais vendeu na época”, disse Alceu.

    Alceu Valença em ensaio fotográfico para lançamento de regravação de "Estação da Luz"
    Alceu Valença em ensaio fotográfico para lançamento de regravação de “Estação da Luz” / Foto: Leo Aversa

    “A minha música vem sempre de coisas que ficaram no meu inconsciente. E essas coisas não tem relação com marketing, não tem relação com a indústria, nada”, completou.

    Ele mesmo não tem nenhuma rede social. Na verdade, nunca foi de se envolver muito com os números. “Não tinha noção de vendas, de shows, discos vendidos. Se perguntar não sei nem os números da minha conta no banco”, brincou.

    O cantor contou que, quando precisa se comunicar com os fãs diretamente, escreve e repassa para sua equipe republicar. Até tem uma noção da sua repercussão virtual pelo que a esposa, a produtora Yanê Montenegro, mostra.

    “Eu prefiro não ter porque eu perderia muito tempo olhando as coisas. Eu vejo que prefiro ler. Se eu faço sucesso no TikTok, ótimo. Mas não fico pensando, eu não penso em nada disso”, disse.

    @alceuvalenca O forró pegou de um jeito impressionante na Europa. Na Alemanha, não foi diferente. A vibração do público de Stuttgart estava tão contagiante que ferveu até os termômetros da cidade. Nenhuma música tem mais calor humano do que a brasileira. #alceuvalencaturneeuropa ♬ som original – Alceu Valença


    E se a viralização na rede social chinesa da ByteDance muitas vezes é atrelada às coreografias e dancinhas de 15 segundos, Alceu já deixa bem claro: “Não vou fazer não. Eu vou fazer o que eu quiser.”

    “Não adianta vir pra mim com coisa marqueteira. Dizendo: ‘Levanta o dedo assim, faz assim.’ Não. Eu digo não”, completou.

    Primeiros shows sem o parceiro de 46 anos

    Para Alceu, esse será o primeiro Carnaval em que subirá aos palcos e não verá ao lado o guitarrista Paulo Rafael, seu companheiro de estrada por 46 anos.

    O pernambucano, também conhecido pela banda Ave Sangria, morreu em 2021, no Rio de Janeiro, por complicações de um câncer no fígado.

    Alceu Valença em apresentação com o guitarrista Paulo Rafael.
    Alceu Valença em apresentação com o guitarrista Paulo Rafael. / Antonio Melcop

    “É cruel, é triste, mas a gente tem que seguir. Paulinho foi um dos maiores amigos que eu tive na minha vida. Era como se fosse um irmão meu”, contou.

    Ele relembra com carinho de como sua família inteira gostava do guitarrista: “Era um artista especial. Não subia no salto alto. Ele esteve comigo, fomos para tudo que é festival no mundo, turnês na Europa, Estados Unidos, e ele não dava a maior pelota pra isso.”

    Os dois eram de cidades próximas em Pernambuco – Paulinho de Caruaru, Alceu, de São Bento do Una. Os dois se conheceram quando foram morar no Recife.

    “Eu tinha conhecido ele em uma praça, tocando violão, e acabou que ele veio tocar comigo de maneira super natural. Eu precisava de um baixista e mandaram chamar ele, porque tocava no Ave Sangria. Ele tocou comigo no festival Abertura, em São Paulo, no Theatro Municipal, e nunca mais paramos”, contou o cantor.

    Durante a pandemia, os dois se juntaram na casa de um amigo, em Santa Catarina, e gravaram o disco “Alceu Valença e Paulo Rafael”, com regravações de obras antigas e uma música inédita.


    Alceu lembra que Paulo já estava doente, “mas a gente achava que ele ia melhorar”. O guitarrista morreu em agosto de 2021, e não chegou a ver o disco ser lançado, em abril do ano seguinte.

    O cantor conta que, desde então, não conseguiu ouvir mais do que duas vezes a última colaboração com seu velho amigo: “Ficou lindo, mas dá uma agonia, uma tristeza.”

    Mas Alceu faz questão de pontuar sorrindo que “o legado de Paulinho segue nas músicas” pelos detalhes que ele imprimiu nas canções.

    “Por exemplo, eu não tenho como cantar “Coração Bobo” sem aquela introdução da guitarra de Paulinho. Ele está sempre presente nos shows”, concluiu.

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