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    “Pitaco”, falta de rumo: por que vereadores deixaram o PSDB e zeraram bancada em São Paulo

    Após diretório municipal decidir que não apoiará reeleição de Nunes, todos os oito parlamentares da bancada tucana na Câmara mudaram de partido

    Henrique Sales Barrosda CNN , São Paulo

    Os oito vereadores que o PSDB tinha na Câmara Municipal de São Paulo deixaram o partido, que agora fica sem representante algum no legislativo paulistano.

    Os parlamentares aproveitaram o período final da janela partidária, que se encerra nesta sexta-feira (5), e migraram para MDB, PL, Podemos e PSD. Os tucanos tinham a maior bancada da Câmara ao lado da do PT.

    A decisão dos vereadores, ouvidos pela CNN, passa por:

    • falta de apoio do PSDB à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB);
    • indefinições sobre rumos nas eleições municipais deste ano;
    • interferências do diretório nacional;
    • e instalações de comissões partidárias provisórias desde o final de 2023.

    Aliança rompida

    A decisão do PSDB de não seguir com Nunes veio no fim de março, em reunião da executiva municipal provisória da legenda, apoiada pelas direções nacional e estadual.

    Na quinta-feira (4), a direção provisória se aproximou da pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo de Tabata Amaral (PSB), filiando o jornalista José Luiz Datena, que estava desde dezembro no partido da deputada federal e pode ser o vice da chapa.

    Além de formar coalização com Tabata, o partido também tem na mesa a possibilidade de lançar uma candidatura própria, mas os tucanos que ficam encontram dificuldade em chegar à unanimidade por um nome. Ambas posições, porém, não eram do agrado dos vereadores, que insistiam no prosseguimento da aliança com Nunes.

    “A bancada do PSDB nunca foi ouvida em nenhum momento. Como pode? Fomos eleitos no âmbito municipal e não participamos das discussões”, diz à CNN a vereadora Sandra Santana. Após quase 30 anos no PSDB, a parlamentar vai migrar para o MDB, de Nunes

    Gilson Barreto, que era líder dos tucanos na Câmara e, agora, também vai para o MDB, era o único vereador a integrar a executiva municipal provisória, um colegiado de 15 membros.

    Comandos provisórios

    Até a chegada de José Aníbal no diretório municipal, o PSDB completava dois meses sem comando partidário na capital paulista. O vazio se deu após Orlando Faria, ex-secretário-chefe da Casa Civil do governo de Bruno Covas, deixar o posto, que também ocupava provisoriamente.

    Também crítico de Nunes, Orlando chegou ao comando do PSDB paulistano em meio a uma intervenção direta do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, então presidente nacional da legenda, no diretório, e tinha a missão de trabalhar em uma candidatura própria do partido na cidade.

    Orlando Faria, porém, acabou deixando o posto em meados de janeiro para ingressar na pré-campanha de Tabata Amaral, onde atua na coordenação política e tem atraído ex-aliados e ex-secretários de governo de Bruno Covas, no afã de também firmar o apoio do PSDB para a empreitada da deputada federal.

    “Perdeu tudo”

    Líder do governo na Câmara, Fabio Riva também vai para o MDB. “O PSDB perdeu tudo: tempo, consciência…”, critica. Riva sai do partido disparando contra a direção nacional da legenda por determinar que o PSDB não deveria seguir com Nunes, apesar da posição da bancada municipal.

    “Gente de outro estado querendo dar pitaco no partido… É uma coisa sem nexo”, afirma. “Quem está errado: os vereadores que vivem a cidade todos os dias e acompanham a gestão, ou quem está longe, acorda e diz que tem que ter candidato, vice, alguma invenção?”, diz.

    Além de Sandra Santana, Fabio Riva e Gilson Barreto, outros que já definiram destino foram:

    • João Jorge, primeiro vice-presidente da Câmara, que também foi para o MDB;
    • Aurélio Nomura, que migrou para o PSD;
    • Beto do Social, que foi para o Podemos;
    • e Rute Costa, que agora integra as fileiras do PL.

    O PSD, o Podemos e o PL são aliados do governo de Ricardo Nunes e devem apoiar a tentativa de reeleição do prefeito ao comando da capital paulista.

    Último a definir

    Xexéu Tripoli, que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e chegou a, em dado momento, sinalizar o desejo de permanecer, também vai deixar a sigla, mas definirá o futuro apenas no último dia da janela, nesta sexta, apurou a CNN.

    Impulsionado principalmente pela chegada dos ex-tucanos, o MDB deve se tornar a maior bancada da Câmara Municipal, indo de 5 para 10 vereadores.

    “Os vereadores do PSDB nos procuraram justamente por conta da continuidade da relação com o Ricardo (Nunes) e da parceria desde a época do Bruno (Covas)”, diz o secretário executivo de Relações Institucionais da prefeitura, Enrico Misasi, que também preside o MDB paulistano.

    Críticos do rompimento com Nunes

    Para os defensores da manutenção da aliança Nunes-PSDB, o prefeito dá continuidade ao governo de Covas. “Falar em qualquer rompimento do Ricardo com o Covas não tem cabimento”, defende Misasi. “O que foi concebido na gestão do Bruno e nos dois anos em que ele estava antes, demos continuidade”, acrescenta.

    Já os que são contra o prosseguimento da aliança apontam mudanças no secretariado da prefeitura logo após a morte de Covas, alterações no Programa de Metas esboçado inicialmente pelo tucano e sua secretária de Planejamento, Vivian Satiro, e a aproximação entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

    A aliança entre Bolsonaro leva a outro questionamento dos contrários a Ricardo Nunes no PSDB: o prefeito quer um vice de chapa que tenha o apoio do ex-presidente e seu grupo político, e fechou as portas para os tucanos, que almejavam indicar um nome, para repetir a dobradinha de 2020.

    Em agenda de governo na zona norte da capital enquanto Datena chegava ao PSDB, Nunes disse que continuava “dialogando” com os tucanos e que, inclusive, havia se reunido com o presidente da legenda, Marconi Perillo, e o deputado federal Aécio Neves (MG), que também integra a executiva nacional da sigla, no dia anterior.

    “Como o PSDB vai lançar uma candidatura contra o governo onde ele tem predominância?”, indagou. Nunes disse que os tucanos pediram para indicar o vice de sua chapa, mas afirmou que só tomará uma decisão sobre após ouvir o governador de São Paulo, Tarcísio de Freiras (Republicanos), e Bolsonaro.

    “Circunstâncias políticas”

    Aníbal criticou à CNN a relação dos agora ex-tucanos com o atual prefeito.

    A bancada do PSDB está muito alinhada com o Nunes. Ela nem discute outra alternativa, que não o próprio Nunes. A bancada do PSDB não fez nada para que tivéssemos candidatura a vice. Então, é difícil conversar com eles sobre o protagonismo do PSDB

    José Aníbal

    Para Aníbal, seguir com Nunes é ir por um caminho “sem protagonismo” aos tucanos, que só tende a “piorar e se agravar”. “O PSDB não vai ficar sendo apenas apoio e entrega da legenda. Queremos ter protagonismo. Nossa sigla ainda representa muito, ainda que estejamos fragilizados”, pontua.

    Misasi, porém, defende a aliança com a direita bolsonarista. “A aproximação é resultado de um quadro político. As circunstâncias políticas se alteraram. Quem imaginaria o Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente do Lula (PT)?”.

    Segundo o secretário e dirigente partidário, Nunes busca uma “frente ampla contra uma extrema esquerda que não consegue avançar para o centro” na capital – e não vê os tucanos fora dela. “O PSDB sempre foi um contraponto ao PT e uma resistência à esquerda”, afirma.

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