Primeiro debate após soco: troca de acusações, Marçal pedindo perdão por citar apelido e Nunes e Boulos como alvos
Candidatos encontraram-se na TV Record a uma semana do primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo
No primeiro debate após o soco nos bastidores do encontro da última segunda-feira (23), os candidatos a prefeito de São Paulo mantiveram um clima de atrito e de trocas de acusações desde o início do evento promovido pela TV Record na noite deste sábado (28).
Os alvos preferencias foram o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e Guilherme Boulos (PSOL).
O candidato Pablo Marçal (PRTB) optou por questionar Nunes relembrando o mesmo tema que terminou em confusão e briga no debate anterior: supostos desvios em merendas. Marina Helena (Novo) também direcionou ataques a Nunes quando foi perguntada pelo prefeito a respeito de supostas fraudes. O prefeito respondeu que não tinha a “mínima ideia” sobre o que a candidata falava. E, a Marçal, disse: “Minha vida é limpa e continuará limpa para sempre”.
José Luiz Datena (PSDB), ao fazer uma pergunta para Tabata Amaral (PSB), fez críticas a Nunes sobre a segurança na cidade, no que também foi seguido pela candidata do PSB.
Também houve críticas a Boulos. Tabata, ao questionar o candidato do PSOL, perguntou sobre o seu posicionamento a respeito de aborto e Venezuela. Marina Helena também perguntou sobre divergências de posicionamento entre Boulos e o PSOL.
Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, Nunes e Boulos aparecem nas primeiras colocações nas intenções de voto para o primeiro turno, que acontece em 6 de outubro.
Marçal x Nunes
Sem chamar Nunes por apelido pejorativo, como se acostumou a fazer em debates anteriores, Marçal tratou o prefeito apenas como Ricardo. Em resposta, Nunes chamou o adversário como Pablo Henrique.
Na interação, Marçal citou que a Polícia Federal (PF) indiciou 117 pessoas por suspeita de participação em um esquema envolvendo desvios de verbas de merendas das creches da cidade. Nunes não está entre os indiciados. A PF, porém, pediu em julho deste ano à Justiça Federal a abertura de um inquérito contra o prefeito. Ele nega e sua defesa diz que todos os esclarecimentos foram dados à Justiça no processo, e que os serviços foram “prestados sem quaisquer irregularidades”.
Em sua réplica, Marçal pediu que o prefeito explicasse o suposto desvio porque não queria ser “injusto” com Nunes, que respondeu: “Ô, Pablo Henrique, quem fugiu da polícia foi você. Fugiu pela sua condenação de ter integrado uma das maiores quadrilhas desse país pra poder roubar dinheiro de pessoas humildes pela internet”.
O prefeito fez referência a uma condenação de Marçal a quatro anos e cinco meses de reclusão, proferida em 2010, por ligação com um grupo condenado por desviar dinheiro de contas bancárias. Marçal nega as acusações.
Nunes lembrou que nunca teve um indiciamento. “Nunca tive uma condenação e não terei. Porque o meu passado é um passado honrado. O meu presente é um presente honrado e o meu futuro continuará honrado. Então, você tem esse hábito… Já está bem conhecido por ser um mentiroso contumaz”.
Outros ataques a Nunes
Marina Helena, escolhida por Nunes para ser questionada, aproveitou para perguntar ao prefeito sobre uma suposta denúncia a respeito do aluguel de carros em sua campanha. “Eu queria que você explicasse isso para os eleitores”.
Nunes, além de falar que não sabia sobre ao que a candidata se referia, comentou que, da parte dele, “não existe qualquer tipo de coisa errada”. “Como sempre foi a minha vida, e sempre vai continuar sendo”.
Datena, ao questionar Tabata, fez uma crítica a Nunes antes de concluir sua pergunta. “Eu acho interessante que tem gente aqui que fala coisas e nem move um músculo da face e a gente percebe que não é verdadeiro isso. Como é que pode o cara fazer uma campanha para presidente dos Estados Unidos, como prefeito de São Paulo, com esse dinheiro todo que o Ricardo tem, e que ele poderia ter aplicado dinheiro da prefeitura para os pobres, sem que haja alguma coisa errada. E a segurança, Tabata?”
A candidata, então, disse que, observando o tema segurança, “fica evidente que a prefeitura, que o prefeito perdeu o controle da cidade”.
Tabata e Marina x Boulos
Tabata, quando pôde fazer sua pergunta no primeiro bloco, escolheu questionar Boulos, e lembrou de mudanças de “posicionamentos históricos” do adversário. “Você dizia que era a favor da descriminalização das drogas. Agora é contra. Dizia que era a favor da legalização do aborto. Agora diz que defende a lei do jeito que está. Nesta semana, exatamente, mudou a sua posição em relação à Venezuela e diz agora, finalmente, que é uma ditadura”.
Boulos, então, disse que “lamentava muito” que Tabata trouxesse “questões que não procedem com a verdade para o debate”, e aproveitou o tempo para criticar a gestão do atual prefeito. “Você que vê a propaganda do Ricardo Nunes na televisão, parece um mundo paralelo. Ele diz que a saúde melhorou. Eu pergunto para você que está em casa: você acha que a saúde de São Paulo está melhor ou pior? Ele diz que o transporte está uma maravilha, que a cidade está segura. Você consegue sair tranquilo com o celular na rua?”.
No segundo bloco, Marina Helena também lembrou divergências de posicionamento entre Boulos e seu partido, o PSOL.
Boulos, dirigindo-se aos telespectadores após o questionamento de Marina, respondeu: “Quando você ouve coisas como essa, e o que que isso tem a ver, o que que isso importa para sua vida. Eu vou ser prefeito de São Paulo não pra ficar de blablablá, igual ao Ricardo Nunes”.
Número de Boulos
Em uma de suas intervenções no debate, Marçal chegou a dizer que o número de urna de Boulos seria o 13, dígitos do PT, partido aliado ao candidato do PSOL.
Depois, quando debatia com Marina Helena, Boulos reforçou que 13 não é o seu número. “A mudança é a nossa candidatura. Você tem ali o Pablo Marçal. Que mente, esbraveja… Até tentou mentir o meu número. O meu número é 50, para deixar muito claro. Quem vota na gente vota no 50, com apoio do presidente Lula, do PT, com a Marta [Suplicy, do PT] de vice”.
Nas considerações finais, Marçal voltou a falar em “13 do PT”.
Esta é a primeira eleição em que o PT não tem candidatura para a Prefeitura de São Paulo.
Interação pós-cadeirada
Após o episódio da cadeirada no debate de 15 de setembro, Marçal voltou a questionar Datena. No segundo bloco, ele escolheu perguntar ao jornalista quem ele considerava o pior prefeito da história de São Paulo.
“Primeiro lugar: é duro de responder hein? Já tivemos gente muito ruim”, comentou. “O Ricardo pode não ser o pior prefeito, mas ele está ali. Porque está prometendo coisas que não vai cumprir”.
Último a poder perguntar no mesmo bloco, Datena só tinha Marçal como opção para questionar; ele perguntou sobre insegurança alimentar. Em sua réplica, o jornalista falou que era “melhor respeitar a democracia do que apanhar”. “Isso é um dos ensinamentos maiores dessa campanha. E acho que foi cumprida a nossa palavra, respeitada a democracia aqui”.
Marçal, por sua vez, voltou a falar que está fazendo jejum, o qual será encerrado na segunda-feira (30). Hoje, foi o quinto dia sem comida, “só na água”, segundo o candidato, que diz estar “jejuando pelo povo”, como relatou na chegada ao debate.
Marina Helena x Tabata
A candidata do Novo voltou também a criticar sua adversária do PSB, como já havia feito no debate da RedeTV. Ela disse que Tabata teria plagiado um projeto “de dar bolsa para o ensino médio para as crianças”. “Tem uma outra deputada, em 2020, que falou também que você roubou a ideia dela para dar absorvente nas escolas. Então, isso é muito importante, que a gente precisa de fato vencer na vida, mas sem passar por cima de ninguém”.
Sem chance de responder na interação com Marina, Tabata reagiu quando respondia ao prefeito Ricardo Nunes, dizendo que a única forma que a adversária encontra para se aparecer “é trazer mentira, uma atrás da outra”. “Quem tiver alguma dúvida, pesquise: Pé-de-Meia. Eu tenho muita alegria de ter escrito esse projeto. Vejam qual é o nome que aparece como autora principal”.
Advertência
Marçal perdeu 30 segundos de seu tempo de considerações finais por ter chamado Boulos de “Boules”, em referência à linguagem neutra que chegou a ser usada em ato de campanha do candidato do PSOL.
Marçal pediu perdão por ter falado “Boules”, mas o mediador do debate, Eduardo Ribeiro, falou que ele seria punido da mesma forma.
A menção foi feita ainda no primeiro bloco, quando ele era questionado por Marina Helena. Todos os candidatos tiveram um minuto e meio para se despedir, menos Marçal, com um minuto.
O candidato do PRTB, então, perguntou ao eleitorado de quem ele compraria um carro usado. “Você já sabe, né? De várias pessoas aqui você não compraria jamais. Se fosse pra emprestar dinheiro, você já sabe que a maioria não vai te devolver o dinheiro. Se fosse para salvar alguém, precisasse subir um prédio em chamas, poucos aqui você poderia chamar”.
A resposta foi ironizada por Boulos nas considerações finais: “Eu fico imaginando… Imagine comprar um carro usado do Marçal”.
Marqueteiro comparece; assessor não vai
Protagonista do episódio de agressão de segunda-feira, o assessor Nahuel Medina, da campanha de Marçal, não compareceu ao evento.
Ele está proibido de ficar perto de Duda Lima, marqueteiro de Nunes, por decisão da Justiça — a distância é de dez metros para ambientes de debate e de 300 metros em outros locais.
Lima teve descolamento da retina após ser atingido com um soco por Medina. O marqueteiro acompanhou Nunes no debate, mas não falou com a imprensa.
Segurança
Os candidatos não tiveram contato entre si ao chegar à TV Record. De acordo com a emissora, as entradas foram escalonadas. Os candidatos e suas comitivas foram encaminhadas diretamente para os camarins.
Os assessores e seguranças das campanhas precisaram passar por detector de metais na entrada da emissora.
O primeiro contato entre os postulantes ocorreu apenas no estúdio — no debate anterior, houve xingamentos entre Nunes e Marçal antes mesmo do início do encontro.
Dentro do estúdio, havia dez seguranças da TV Record. Além disso, cada candidato tinha direito a um segurança própria e mais três assessores.
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