Marília com João Campos, Marta com PT: eleições de 2024 promovem reaproximações
Também há o caso do ex-vereador paulistano Mario Covas Neto, que retornou ao PSDB após seis anos
As movimentações das pré-campanhas nas eleições municipais de 2024 estão promovendo reaproximações entre antigos aliados.
O retorno da aliança entre familiares e partidos, além de quadros históricos de siglas, tem marcado este momento.
Fraturas pós-disputa
Há quatro anos, os primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (Solidariedade), então no PT, travaram uma dura disputa para a Prefeitura do Recife, com um pleito marcado por ataques e ofensas entre os dois. Na ocasião, Campos saiu vencedor no segundo turno com 56,27% dos votos válidos, contra 43,73% de Arraes.
Agora, Marília anunciou apoio ao prefeito que é pré-candidato à reeleição.
Segundo João, “quando as forças políticas se juntam, quem sai ganhando é a nossa cidade. Fico muito feliz de poder estar aqui com Marília e poder contar com seu apoio e de poder fazer essa construção política em favor do Recife”.
Briga antiga
O conflito entre os dois, no entanto, remonta há 10 anos.
Vereadora do Recife e ainda filiada ao PSB, Marília decidiu se candidatar a deputada federal em 2014. Entretanto, Eduardo Campos — candidato à Presidência pelo partido na ocasião, ex-governador de Pernambuco e pai de João — vetou familiares na corrida eleitoral para acomodar aliados e não a apoiou. Com isso, a candidatura não foi para frente.
Posteriormente, Marília se opôs à indicação de Eduardo Campos para que João assumisse o comando da Juventude do PSB. Em sua opinião, o primo desrespeitava a democracia interna do partido.
Naquele ano, um acidente aéreo tiraria a vida de Eduardo cerca de dois meses antes do primeiro turno. No segundo turno presidencial entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), João e sua mãe, Renata Campos, apoiaram o tucano, como Marina Silva, que havia assumido a candidatura do PSB. Marília, por sua vez, ficou do lado petista.
Para o governo de Pernambuco, Marília ficou ao lado de Armando Monteiro (PTB) na disputa contra Paulo Câmara (PSB), aliado dos Campos.
Com o cenário, Marília passou a fazer oposição ao próprio partido. Em 2016, deixou a sigla e se filiou ao PT, onde conseguiu seu terceiro mandato como vereadora. Posteriormente, em 2018, ela se elegeu deputada federal pelo partido.
Reaproximação
A reaproximação entre os dois aconteceu no segundo turno das eleições de 2022, quando Marília, já no Solidariedade, foi apoiada por João na disputa ao governo pernambucano contra Raquel Lyra (PSDB). Ela acabou derrotada pela tucana no segundo turno e terminou a disputa com 41,30% dos votos válidos.
Ao anunciar o apoio ao primo nas eleições deste ano, a ex-deputada disse que a união há dois anos “tinha uma causa que era das mais nobres, que era defender a democracia do Brasil, era apoiar o presidente Lula, era trazer de volta o povo brasileiro para o orçamento da República”.
Há três meses os dois se encontraram com o presidente durante uma agenda no Recife. Numa imagem publicada nas redes sociais, Lula escreveu “união e reconstrução”, que também é o slogan do governo federal.
Segundo Marília, a foto reúne “muita gente boa e de luta” e que “defende a democracia de verdade”.
União e reconstrução.🤝
📸 @ricardostuckert pic.twitter.com/6R6tMzCxbA
— Lula (@LulaOficial) April 5, 2024
Marta Suplicy, PT e Boulos
Outro reencontro aconteceu em São Paulo.
Em fevereiro de 2024, após quase nove anos, a ex-prefeita de capital Marta Suplicy voltou ao PT.
O retorno foi possível após um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lhe chamou para compor como vice a chapa de Guilherme Boulos (PSOL) para a prefeitura paulistana. Marta disse que tomou o pedido como “uma convocação”.
Inicialmente, a questão não foi bem vista por algumas alas do PT.
Entretanto, durante a sua cerimônia de refiliação, Marta disse ser “PT raiz” e que estava de volta ao partido para “caminharmos juntos”.
Também afirmou que estava voltando para seu “aconchego”, na legenda que “nunca saiu de mim: o partido dos trabalhadores e das trabalhadoras”.
A vida fora do PT
Enquanto esteve fora da sigla, Marta criticou severamente os petistas, apoiou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), aliou-se a Michel Temer (MDB) — considerado algoz da ex-presidente por membros do partido.
Quando se desfiliou do PT, em 2015, a então senadora dizia que havia sido “isolada e estigmatizada” pela direção e se sentia “constrangida” com a investigação de crimes de corrupção, no período que era marcado pelas investigações da Operação Lava Jato.
Eleições 2020
Em 2020, Marta apoiou Bruno Covas (PSDB) contra o próprio Boulos na corrida para a prefeitura paulistana, sobre quem teceu diversas críticas.
Em um dos debates do segundo turno, em comentário nas redes sociais, ela o criticou por “uma reposta absurda” em que ele comparava São Paulo e o Brasil com a China, “onde em uma canetada você fecha a cidade”, em referência a restrições durante a pandemia de Covid-19.
Posteriormente, a ex-prefeita disse que o Boulos estava “tenso, pesado, com conteúdo fraco” e que Covas tinha “conteúdo, verdade, tranquilidade de quem sabe e conhece o que faz”.
Reencontro com Lula
Assim como no caso dos primos em Pernambuco, a reaproximação de Marta com o PT começou em 2022.
No segundo turno da eleição presidencial, Marta apoiou Lula contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pregando uma “frente ampla”.
Além de participar de atos de campanha, no aniversário de Lula, três dias antes do segundo turno, afirmou que o presente dele seria a vitória que traria “dias melhores para o povo brasileiro”.
Mario Covas Neto e PSDB
O ex-vereador de São Paulo Mario Covas Neto, filho do ex-governador Mario Covas, retornou ao PSDB em maio deste ano após seis anos de sua desfiliação.
“Ontem foi o meu retorno ao PSDB, ao nosso querido Ninho Tucano. Um partido com o qual tenho uma história familiar, onde comecei minha vida e trajetória política desde a sua fundação. Foi uma noite emocionante, cercado por amigos antigos, militantes raiz e históricos do PSDB”, disse Covas Neto após sua filiação.
Em 2018, em meio a disputas com o então prefeito João Doria (sem partido), à época no PSDB, o ex-vereador pediu desfiliação, afirmando que a decisão foi dolorida e que o partido “não nasceu para ter donos”.
Na ocasião, ele acusava Doria de tentar tirá-lo da presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal.
“O partido que está aí não mais me representa. Não acredito mais que o PSDB volte às suas origens, um partido sem chefes, mas com líderes comprometidos com os compromissos firmados com o povo. Sou político com muito orgulho, mas acima de tudo, um cidadão brasileiro que quer ver esse país diferente, melhor e decente”, declarou à época.
Durante o período fora do partido, o ex-parlamentar esteve no Podemos.
Na atual eleição, Covas Neto é tratado como um plano B pelo PSDB na disputa à Prefeitura de São Paulo. Caso o apresentador José Luiz Datena desista do pleito, o ex-vereador poderia compor a chapa de Tabata Amaral (PSB) como vice, ideia defendida por uma ala do partido.