À CNN, Lúcia França defende ampliação de horário das creches e inclusão de alunos com deficiência
A candidata do PSB a vice-prefeita de São Paulo na chapa de Tabata Amaral falou sobre saúde mental nas escolas e capacitação profissional para dependentes químicos
A professora Lúcia França (PSB), candidata a vice-prefeita na chapa de Tabata Amaral (PSB), defendeu a ampliação do horário de funcionamento das creches municipais e uma inclusão “de verdade” dos alunos com deficiência.
A declaração ocorreu nesta quinta-feira (26) em entrevista à CNN, conduzida pela jornalista Muriel Porfiro ao lado dos analistas de Política Julliana Lopes e Pedro Duran.
“Uma mulher não consegue trabalhar oito horas por dia, como a nossa legislação prevê, deixar o filho lá às 7h e buscar às 16h. Só de ônibus, de transporte coletivo, ela fica duas horas”, afirmou.
“A gente está falando de creche aberta até as 19h”, ela disse, explicando que o aumento seria possível com alternância de turnos. “Os funcionários não vão ficar lá 12h por dia”, de acordo com a candidata.
Lúcia França, que é formada em Educação Especial, também comentou a proposta de capacitação de professores nessa área com a criação de equipes especializadas.
“Eu tenho um sonho, de que a gente possa fazer na maior cidade do Brasil, [que tem] um orçamento riquíssimo como esse, uma inclusão de verdade. Não simplesmente o promotor ter que… É obrigada aquela criança a ficar na sala de aula. E os professores, com a maior boa vontade que a gente tem, a gente não tem preparo para lidar com isso”, disse.
“A gente precisa de laudo, a gente precisa de especialistas, a gente precisa de psicólogo, a gente precisa de uma equipe multidisciplinar para essa inclusão ser verdadeira”, completou.
Saúde mental e escolas cívico-militares
A candidata falou sobre o projeto de governo de dar atenção à saúde mental dos estudantes.
“Eu sou super favorável à escola em tempo integral, com rodas de conversa, com equipes de psicólogos em cada unidade escolar”, disse.
Durante a entrevista, Lúcia França se posicionou contra a criação de escolas cívico-militares na capital paulista.
“Nós não somos favoráveis à escola cívico-militar, primeiro, por um motivo básico: não existe registro de escola cívico-militar que seja melhor, que tenham tido mais rendimento, que os alunos sejam mais realizados, mais felizes. Na nossa concepção, escola é lugar do afeto, escola é o lugar do diálogo, é também o lugar das divergências. Mas é lá que a gente aprende a lidar com as diferenças”, afirmou.
“A gente é a favorável à escola voltada para a paz e não policial militar dentro da sala de aula, dentro das escolas. É claro que a gente tem que ter disciplina, é claro. Mas a gente consegue fazer isso”, segundo ela.
A candidata disse estar de acordo com as rondas escolares feitas por agentes da Guarda Civil Metropolitana, mas apenas fora das unidades e sem armamento pesado.
“Eu não sou contra que tenha um guarda municipal fazendo a ronda escolar, estando lá por perto, do lado de fora, né? E, se necessário, entra e vai nos ajudar. Mas eu sou totalmente contrária a um guarda municipal na porta de uma escola com uma metralhadora. Eu não posso imaginar isso assim. Educação não conversa com isso”, segundo ela.
Celulares e pautas identitárias
Lúcia França, que é mantenedora de uma escola particular, defendeu o uso controlado do aparelho celular – apenas nos intervalos das aulas e para alunos a caminho da pré-adolescência.
“Nem deve dar para a criança o celular, quando eles estão no 6º ano, até o 5º ano. Só em torno de nove, dez anos”, afirmou.
“Todas as nossas salas de aula têm um painel onde eles colocam o celular. Está certo, o celular fica nesse painel. E aí, na hora do intervalo, eles podem usar o celular e, voltando do intervalo, eles põem o celular lá. Dá certo? Dá. É fácil? Não, é com muita conversa”, pontuou.
Em relação ao tratamento de pautas consideradas identitárias nas escolas, a candidata disse que é preciso respeitar a maturidade dos alunos, mas que não vê a possibilidade de os professores não tocarem em determinados assuntos.
“É fundamental falar que existem relacionamentos homoafetivos. Não dá para a gente fugir disso, né? Então, a diretriz é essa, é o bom senso e a grade curricular. E, em cada idade… Para a gente falar para uma criança do Jardim, sei lá, quatro anos, sobre racismo, a gente não vai falar sobre racismo. Olha, agora senta, que eu vou falar para vocês. Mas, sim, a gente pode falar trazendo livros para as crianças onde o personagem, a personagem principal é um rei negro, é uma rainha negra. E isso a gente vai progredindo conforme a idade e a maturidade das crianças”, segundo ela.
Cracolândia
A candidata também falou sobre a proposta de governo de extinguir a Cracolândia, região que concentra dependentes químicos no centro de São Paulo.
“A Cracolândia é um sistema criminoso que usa pessoas doentes para ganhar dinheiro”, segundo ela.
Lúcia França disse que irá “cuidar e tratar dos doentes”, caso seja eleita, porque sabe “o que é você procurar lugar para internar [um dependente químico] e não ter”.
“A gente tem que olhar de frente, aumentar o número de médicos psiquiatras para fazer isso, leitos psiquiátricos, equipes multidisciplinares para cuidar deles e para poder a gente fazer a volta dele para a família. Ver se isso é possível, porque, às vezes, não é possível. E a gente tem que ter solução. Quando não for possível, dar uma moradia social para essa pessoa, capacitação para essa pessoa para ela poder voltar para o mercado de trabalho”, completou.
A representante do PSB ainda defendeu o acompanhamento dos usuários por parte do poder público para evitar recaídas.
“A gente ter com essas pessoas uma ligação de pelo menos um ano direto, para que a gente possa ver o que ele está fazendo, senão ele vai ficar na porta giratória”, afirmou.
Aborto legal
Quando questionada sobre o procedimento de interrupção da gestação, a candidata se declarou pessoalmente contra por vir de uma “criação religiosa”, porém defendeu a proteção de meninas e mulheres nos casos previstos em lei.
“Tudo que estiver dentro da legislação, nós vamos fazer, inclusive, para proteger as nossas meninas, as nossas mulheres”, segundo ela.
“Não condeno uma mulher nessas condições que prevê a legislação, num abuso ou correndo risco de vida, que ela faça o procedimento com segurança, com médicos, com pessoas competentes, para que a sua vida seja preservada”, afirmou.
Alianças políticas
Sobre a aproximação com outros partidos durante sua trajetória política, a candidata disse entender que a postura é necessária para “furar essa polarização”.
“É importante que as pessoas saibam o PSB, que é o meu partido há 38 anos, não anda com a direita, não pensa em extremismo”, afirmou.
Já a respeito do PT e do PSDB, ela falou que “foram dois partidos fundamentais para que a gente derrotasse o [ex-presidente Jair] Bolsonaro (PL), para que a gente não tivesse deixado escorrer das nossas mãos uma coisa tão importante para o nosso país que que é a democracia”.
Agressões em debates
Durante a entrevista, a candidata também opinou sobre os recentes episódios de violência durante a disputa eleitoral para a prefeitura paulistana.
Ela afirmou nunca ter visto “nada nem parecido com o que a gente está vivendo” e disse ainda que os comportamentos demonstrados são de “uma tremenda falta de respeito com o eleitor”.
Segundo Lúcia França, a equipe de Pablo Marçal, candidato do PRTB, fica nos bastidores dos debates “como crianças de 5º ano que ninguém controla, irritando, cutucando, ironizando o outro o tempo inteirinho” até “conseguir tirar alguém fora do sério”.
“Enquanto eles estão fazendo nas redes sociais, ganhando dinheiro com isso, aí é problema deles. Mas quando eles vêm, entram na política e falam isso com o eleitor, com o cidadão, com a cidadã, isso me entristece”, completou.
Violência política contra mulheres
Após sua companheira de chapa, Tabata Amaral, ter tido sua imagem utilizada em montagens de cunho sexual, a candidata Lúcia França afirmou que violência política de gênero se combate com “representatividade”.
“A gente ter mais mulheres eleitas. Não é mais mulheres na política, porque eu penso, eu acredito que mulher faz política desde sempre, mas a gente precisa estar eleita. Nós precisamos ter essa representatividade com o poder na mão para a gente poder mudar mais rápido isso”, ela disse.
De acordo com a representante do PSB, o partido tem procurado montar chapas meio a meio – para além da obrigatoriedade mínima de 30% e máxima de 70% em candidaturas de cada sexo.
Segundo Lúcia França, que já se declarou “feminista sem radicalismos”, os homens têm “que estar com a gente nesse movimento” de lutar por mais espaços.
Chapa feminina e resultados nas pesquisas
A candidata a vice-prefeita de São Paulo chamou a dupla com Tabata Amaral de “chapa dos sonhos” e lembrou a semelhança entre as histórias familiares das duas.
“Uma chapa dos sonhos, duas mulheres. Uma mulher jovem, que traz a energia, que carrega a vontade de mudar, a vontade de quem tem uma vida inteira pela frente para querer fazer uma baita de uma carreira. E uma mulher mais experiente, que tem consigo, traz consigo 62 anos de batalha”, segundo ela.
“Sou nascida aqui em São Paulo, vim de uma família muito pobre, com muita dificuldade, com uma mãe professora, dessas histórias que a gente ouve. Trabalhava de manhã, à tarde, à noite para trazer alimento para dentro de casa. Um pai com alcoolismo, com problema de dependência química”, relembrou.
Apesar da posição nas sondagens de intenção de voto, Lúcia França disse confiar em uma mudança de cenário.
“Estou convicta de que nós vamos chegar no segundo turno. Nós estaremos no segundo turno. Inclusive, a gente lendo um pouco as pesquisas, a Tabata é a que tem a menor rejeição. E a rejeição dela vem diminuindo nas pesquisas”, afirmou.
Ao ser perguntada se gostaria de assumir alguma secretaria, caso a chapa saia vencedora da eleição, ela falou que o sonho “hoje é ser vice-prefeita da cidade de São Paulo”.
Entrevistas com candidatos
A CNN exibe uma série de entrevistas com os candidatos a vice-prefeito de São Paulo.
Cada entrevista será transmitida primeiramente ao vivo no canal da CNN Brasil no YouTube, às 15h30, com exibição na televisão no mesmo dia, às 23h30.
Participarão os candidatos mais bem colocados no agregador de pesquisas eleitorais Índice CNN, selecionados de acordo com o resultado mais recente, com sete dias de antecedência.
Já foram entrevistados:
- 24 de setembro – Coronel Mello Araújo (PL), vice de Ricardo Nunes (MDB);
- 26 de setembro – Lúcia França (PSB), vice de Tabata Amaral (PSB).
Ainda serão entrevistados:
- 27 de setembro – José Anibal (PSDB), vice de José Luiz Datena (PSDB);
- 30 de setembro – Coronel Priell Neto (Novo), vice de Marina Helena (Novo).
As candidatas Marta Suplicy (PT), vice de Guilherme Boulos (PSOL), e Antônia de Jesus (PRTB), vice de Pablo Marçal (PRTB), decidiram não participar. Suas entrevistas foram marcadas, respectivamente, para os dias 23 e 25 de setembro.
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