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    Urna eletrônica, lâmpadas inteligentes e notebooks: a retomada da Positivo

    A empresa registrou alta de 455% em seu lucro no terceiro trimestre - com os ganhos superando R$ 50 milhões

    Matheus Prado,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    É certo que a pandemia do novo coronavírus bagunçou o mercado, mas o setor de tecnologia (especialmente o segmento de produtos) variou como poucos durante o ano. Começou 2020 como o segmento mais promissor da bolsa; depois viveu meses de terror com a falta de matéria-prima; estabilizou a cadeia e ganhou status de ativo defensivo; e finalmente tem leve desvalorização com rotação de portfólios.

    Seguindo este roteiro, a Positivo Tecnologia registrou alta de 455% em seu lucro no terceiro trimestre – com os ganhos superando R$ 50 milhões. Este resultado é atribuído principalmente à alta de 40,5% nas vendas em notebooks – reflexo principalmente das vendas no varejo, motivadas tanto pelo home office quanto pelo ensino a distância.

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    Hélio Rotenberg, CEO da empresa, disse em entrevista ao CNN Brasil Business que o setor viveu efeito dominó. “Vimos as primeira notícias da Covid-19 na Ásia e as fábricas se fechando no Oriente”, diz. “Só que logo a pandemia veio para cá e passamos a ter não só o problema da oferta, como também de procura.”

    A primeira preocupação do setor era de que, sem o varejo presencial, as empresas não conseguissem escoar suas produções. Exatamente o contrário do que ocorreu. A demanda disparou e as empresas passaram a enfrentar leilões para conseguir componentes para montar seus produtos.

    “Hoje é uma briga, uma disputa de foice para que os contratos sejam respeitados. Além disso, quando precisamos de mais produtos, é preciso comprar a preços de mercado”, diz. “E, se falta, o preço sobe sem sem qualquer lógica. Aquele LCD que custava 28 passar a valer 50.”

    Rotenberg aposta, inclusive, que este mercado não deve cair tão cedo. A empresa estima que as vendas de computadores cresceram de 30% a 40% no período, com home office e homeschooling mantendo o setor aquecido. Para ele, o futuro trará modelo híbrido, o que deve seguir sustentando a procura pelo produto.

    Diversificação

    O boom do terceiro tri veio principalmente dos computadores, mas a Positivo vem criando outras avenidas de crescimento para continuar mudando o rumo da empresa, que sofreu nos últimos anos. 

    A companhia investiu em setores como: educação (voltando às origens da empresa); urnas eletrônicas (venceu licitação para 2022); internet das coisas (casa inteligente); aluguel de hardware; e aceleração de startups.

    “Casa inteligente foi outro setor que cresceu em demasia, porque as pessoas em casa começaram a olhar para pequenos mimos”, diz. “Uma varejista online (Amazon), por exemplo, fez uma promoção (Prime Day), e em dois dias vendemos 45.000 lâmpadas inteligentes.”

    Sobre as urnas, produto com potencial de polêmica a longo prazo, o gestor afirma que todas as especificações são enviadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Além disso, acredita ser essencial essa produção ficar com uma empresa brasileira e atesta a segurança do mecanismo.

    Bolsa de valores

    Durante muitos anos, quando o mercado de computadores estava em baixa, as ações da Positivo sofreram. Hélio assume, inclusive, que não se comunicavam muito com o mercado porque não tinham o que dizer.

    No fim de 2019, com o plano de diversificação já em curso, a empresa voltou a conversar com investidores e seus papéis chegaram a subir 18% em um dia. Mas a alegria durou pouco e a pandemia voltou a derrubar os papéis.

    “O que vai acontecer no futuro eu não posso comentar. Posso dizer o que eu espero e torço muito para que tenhamos uma ação valorizada. Estamos mostrando resultados, que é o que importa”, diz.

    Em relatório, o BTG afirmou que os resultados da empresa foram melhores do que o esperado no período. Com isso, o banco mantém recomendação de compra para a marca, com preço-alvo de R$ 9,00. O preço atual da ação é de R$ 5,02.

    Confira a entrevista completa:

    Como se adaptaram às mudanças do mercado em 2020?

    Você disse que é um ano conturbado, eu acho que foi caótico, totalmente imprevisível. Começou com um temor muito grande quando nós ainda estávamos no processo de follow-on no final de janeiro. 

    Eu me lembro de estar em Nova York quando tivemos as primeiras notícias da China sobre a Covid-19. Investidores perguntavam “e aí, como isso vai afetar vocês” e a gente correndo atrás de informações.

    Nisso, as fábricas do Oriente se fecharam e muitos dos nossos componentes vêm de lá. Os ecossistemas de celular e de computador são da China e de Taiwan. Então, o que poderíamos fazer? Ficamos temerosos de não ter matéria-prima.

    Só que logo a pandemia veio para cá e passamos a ter não só o problema da oferta, como também de procura. As lojas fecharam e nós somos eminentemente uma empresa que vende através do canal varejista. Como é que os nossos consumidores vão comprar se as lojas estarão fechadas? 

    Não imaginávamos que o comércio online ia crescer tanto na crise e não imaginávamos que as pessoas iriam ficar em casa e as escolas iriam fechar, estabelecendo o home office e o homeschooling. 

    Isso trouxe uma explosão de consumo de computadores no mundo, o que fez com que começasse a faltar matéria-prima. Hoje é uma loucura para conseguir comprar cada componente. É um leilão e os contratos às vezes não são cumpridos. 

    A demanda por notebooks cresceu de 30% a 40% no mundo, e achamos que este valor não volta para o patamar anterior. Este uso doméstico tende a ficar, porque o trabalho não deve voltar a ser como antes, deve ser um híbrido.

    Isso culminou em um resultado muito bom no terceiro trimestre, porque conseguimos repassar o salto do dólar. Nossos componentes, mesmo aqueles que são nacionais, são dolarizados, são commodities internacionais. 

    Ainda tivemos um movimento de vendas represadas, porque não tínhamos produto no segundo trimestre. Todo esse contexto trouxe os resultados que a empresa apresentou no terceiro trimestre.

    Quais foram as maiores dificuldades para atender à demanda?

    A crise começou com as fábricas fechadas. Quando China, Coreia e Taiwan reabrem, as coisas vão voltando, mas já tínhamos um mês e meio com falta de componentes. Neste momento, achamos que não conseguiríamos vender porque ninguém o que iria acontecer.

    Em um primeiro momento, a empresa queria preservar caixa, sobreviver. Com isso, suspendemos as compras. Mas em abril o mercado estava bombando e existia uma falta generalizada de dispositivos.

    Todos os fabricantes do mundo de computadores, de smartphones começam a colocar suas ordens e a inflar suas as ordens porque a coisa está bombando. Com isso, os fornecedores fornecem o que têm e projetam ampliações de produção.

    Mas determinados componentes são mais difíceis, como as telas de LCD. São fábricas muito grandes, que exigem um investimento forte com maquinários. Por isso, não aumentam a capacidade produtiva de uma hora para a outra, o que vai gerando gargalos na cadeia. 

    É uma briga, uma disputa de foice para que os contratos sejam respeitados. Além disso, quando precisamos de mais produtos, é preciso comprar a preços de mercado, regulado pela lei da oferta e da procura.

    E, se falta, o preço sobe sobe sem sem qualquer lógica. Aquele LCD que custava 28 passar a valer 50. Ainda temos muitos meses complicados pela frente, porque a demanda está muito mais alta do que se pode imaginar. 

    Apesar do boom na venda de computadores, a empresa já havia diversificado sua operação, certo?

    Nós começamos a fazer smartphones; investimos na Positivo Casa Inteligente, que é toda automação residencial; trabalhamos maquininhas inteligentes (fizemos a Cielo Lio); ganhamos licitação da urna eletrônica. Também trouxemos outras marcas, como a Vaio, que foi um grande divisor de águas esse ano porque as classes A e B compraram muito. 

    Positivo Casa Inteligente foi outro setor que cresceu em demasia, porque as pessoas em casa começaram a olhar para pequenos mimos. Uma varejista online (Amazon), por exemplo, fez uma promoção (Prime Day), e em dois dias vendemos 45.000 lâmpadas inteligentes. 

    No mercado corporativo, estamos indo para a questão da locação, hardware as service. Muitas empresas não tinham dinheiro para investir e precisavam de computadores para emprestar para os seus colaboradores levarem para casa. Deixamos de ser uma empresa só de computadores para ser uma empresa de várias tecnologias.

    Como o setor de educação cresceu?

    Estamos diversificando há alguns anos e até mudamos o nome da empresa de Positivo Informática para Positivo Tecnologia, para designar esse novo momento em que deixamos de ser um fabricante de computador e ampliamos o escopo. 

    Nós temos uma área dentro da Positivo Tecnologia, que é a nossa tecnologia educacional. Fazemos isso há muitos anos, o grupo nasceu com essa vocação há 50 anos atrás. Esse mercado teve momentos difíceis no final dos anos 2000, então tivemos que nos reinventar.

    Trouxemos um pouquinho mais de componentes de hardware para o nosso portfólio; lançamos um sistema de segurança escolar em que o diretor sabe onde os alunos estão a qualquer momento; entre outras coisas.

    Mas o que fez sucesso durante a pandemia foram os softwares educacionais, principalmente aqueles de ensino adaptativo, que respeitam o ritmo de aprendizado dos alunos. 

    Por exemplo: o software (Aprimora) dá um exercício para uma criança 11, 12 anos. Se ela acertar, o programa dá um exercício mais difícil. Se errar, dá outro do mesmo nível. Se continuar errando, vai facilitando mais, até mostrar uma animação de um professor dando aula sobre o tema. 

    Nós liberamos isso principalmente para escolas públicas, para que os alunos mantenham contato com as matérias que precisam ser estudadas. E, na volta às aulas, se torna muito importante também para nivelar estes alunos. Foi liberado gratuitamente e mais de 100 mil alunos utilizaram.

    E o segmento de dispositivos inteligentes?

    Essa uma área que requer muita inovação. Isso vai desde os roteadores Mesh, que melhoram a qualidade da internet, até os gadgets, que permitem o do it yourself, como a lâmpada, por exemplo. 

    Nessa linha, estamos lançando uma série de produtos. Já trouxemos várias linhas de iluminação. Na área de segurança, teremos alarmes eletrônicos, doorbell (para ver quem está chegando em casa), fechadura eletrônica. 

    A Inovação está na facilidade de uso e, como sensores e comunicações caíram de preço, isso se tornou muito viável. Uma lâmpada custa R$ 99. Não é uma coisa absurda e você pode ter esse conforto da automação. 

    Também entraram no mercado de urnas eletrônicas. Teme as polêmicas?

    Nós temos uma competência de engenharia muito grande, algo pouco explorado até 2, 3 anos atrás. Nós fazíamos computadores e toda nossa engenharia era aplicada nisso. Quando começamos a pensar na diversificação de mercado, procuramos a Cielo e fizemos a maquininha Lio. E, quando vimos que haveria uma licitação de urnas, também buscamos desenvolver isso. 

    Toda a especificação técnica é do TSE, não somos nós que especificamos. É o orgão que diz qual deve ser o tipo de processador, quantos processadores, qual é a criptografia que deve ser usada. Diante disso, fizemos o projeto de urna eletrônica. Esse projeto foi homologado e ganhamos a disputa de preço.

    Não temos qualquer dúvida da segurança da urna. Ela é uma coisa auto-contida, não tem tráfego de dados. Além disso, o software que vai ali não é nosso, é fornecido pelo próprio TSE. Nós estamos orgulhosos do resultado e julgamos esse processo como muito seguro.

    As ações da Positivo saltaram no final de 2019 e agora estão patinando. Acredita que isso pode mudar?

    Nós começamos, no ano passado, a divulgar quem éramos. Ficamos muito afastados do Mercado, muito tímidos, porque tivemos realmente anos difíceis na empresa, com aquela do mercado de computadores.

    Vínhamos com a ação desvalorizada e vimos que não valeria a pena investir numa comunicação mais forte porque a gente não tinha muito o que contar realmente. Quando começamos a nos recuperar, resolvemos voltar a comunicar de maneira mais forte o que estava acontecendo com a empresa.

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    Começamos a fazer isso no final do ano passado e realmente o mercado entendeu que a gente tava contando. A ação chegou a R$ 12. Foi subindo, subindo, subindo e fizemos o follow-on em janeiro. 

    Ali já teve uma desvalorização por conta da pandemia. E depois entraram muitos fundos grandes que acabaram vendendo posições de small caps, não obrigatoriamente da nossa empresa. Agora, aos poucos, estamos recuperando valor.

    Agora, o que vai acontecer no futuro eu não posso comentar. Posso dizer o que eu espero e torço muito para que tenhamos uma ação valorizada. Estamos mostrando resultados, que é o que importa. 

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