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    Só duas empresas do Ibovespa têm CEO mulher e 85% dos conselheiros são homens

    Para especialistas, há evolução, mas avanço da diversidade de gênero nos cargos de liderança ainda é lento

    Consideradas todas as empresas listadas na B3, um universo de mais de 400 companhias, 14,3% das posições dos conselhos estavam com mulheres em 2021. Em 2020, essa proporção era de 11,5%
    Consideradas todas as empresas listadas na B3, um universo de mais de 400 companhias, 14,3% das posições dos conselhos estavam com mulheres em 2021. Em 2020, essa proporção era de 11,5% Benjamin Child/Unplash

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business em São Paulo

    A presença das mulheres nos principais cargos de gestão das maiores empresas do país vem crescendo, mas esse crescimento é lento e a participação ainda é baixa.

    Consideradas as 90 companhias de capital aberto que compõem atualmente o Ibovespa, principal índice acionário da B3, a bolsa de valores brasileira, 71 (78,9% do total) têm mulheres no Conselho de Administração, o colegiado responsável por referendar as decisões da direção e fazer a ponte com os acionistas.

    Na maioria delas, porém, são bem poucas as cadeiras reservadas para as conselheiras mulheres: as companhias do Ibovespa reúnem hoje, no total, 777 conselheiros. Destes, 658 ainda são homens, o equivalente a 84,7% das vagas.

    Os 15,3% restantes ficam com as executivas do sexo feminino, de acordo com levantamento feito pela Teva Índices a pedido do CNN Brasil Business.

    Ainda dentro do Ibovespa, apenas duas das 90 companhias (2,2%) têm hoje uma presidente mulher: a rede de laboratórios Fleury e o grupo de shopping centers Iguatemi.

    Ambas estão no cargo há menos de um ano: Cristina Betts foi de diretora financeira a CEO do Iguatemi em janeiro deste ano, tornando-se tanto a primeira mulher quanto a primeira pessoa fora da família fundadora, os Jereissatis, a chefiar a empresa.

    Já a cardiologista Jeane Tsutsui, que já vinha de uma carreira executiva dentro do Fleury há mais de uma década, assumiu o comando dos laboratórios em abril do ano passado.

    “Assumi o cargo de CEO do Grupo Fleury no segundo ano da pandemia, em um cenário que demonstrou a importância do cuidado com a saúde na vida das pessoas”, disse Tsutsui ao CNN Brasil Business, por meio de nota.

    “Poder, agora, como gestora de uma empresa que é referência no setor, trabalhar pela construção de um ecossistema sustentável e mais acessível na saúde tem sido uma evolução natural e gratificante na minha carreira”, acrescentou.

    Evolução lenta

    Mesmo pequenos, os números já são uma evolução em relação a um passado não muito remoto do mundo corporativo tanto brasileiro quanto global.

    O Brasil Board Index, um mapeamento feito pela consultoria SpencerStuart, mostrou que, consideradas todas as empresas listadas na B3, um universo de mais de 400 companhias, 14,3% das posições dos conselhos estavam com mulheres em 2021. Em 2020, essa proporção era de 11,5%.

    A proporção já bate a de alguns outros países, como Colômbia (14%), Japão (11%) e Rússia (10,5%), mas ainda está atrás, inclusive, de emergentes como Índia (16,3%), Turquia (19,2%) e África do Sul (22,3%).

    Líderes globais na igualdade de gênero na liderança das empresas, as companhias da bolsa francesa têm 44,6% das posições de conselhos ocupados por mulheres e, na Suécia, são 44,2% – em ambos os casos, com ajuda de programas de cotas promovidos pelos países.

    “Há um movimento no sentido de ampliar a diversidade na liderança [no Brasil], mas o ritmo ainda é lento. Se continuarmos nessa mesma velocidade, vamos demorar cem anos para chegar à igualdade de gênero”, diz Valeria Café, diretora de vocalização e influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

    Desde 2014 o IBGC coordena um programa de mentoria a executivas com o objetivo de ampliar sua participação nos conselhos corporativos. A iniciativa é feita em parceria com a Spencer Stuart, a B3, a International Finance Corporation (IFC) e a Women Corporate Directors Foundation (WCD).

    “A empresa tem que ser um retrato da sociedade e ponto. Ela tem que ter dentro dela mulheres e homens brancos, negros, indígenas, com deficiência”, afirma Valeria.

    “Há uma cobrança dos consumidores por isso e os investidores também já entenderam que uma empresa diversa significa uma empresa mais longeva, mais criativa, mais inovadora, que é que vai trazer crescimento e menos risco no longo prazo.”

    A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, assumiu, no ano passado, o compromisso “Equidade é Prioridade”, do Pacto Global da ONU, de ter 30% de mulheres em posições de alta liderança até 2025. Em dezembro de 2021, eram 24% —ante 15% em 2018, por exemplo.

    “Temos consciência do nosso papel como agente transformador para mudanças positivas, principalmente em nosso setor. Por isso, o tema faz parte da essência da nossa cultura”, afirma Alessandro Bonorino, vice-presidente global de Gente, Gestão e Transformação Digital na BRF.

    Para atingir os objetivos, a empresa implantou um programa de aceleração de carreira, chamado “Lidere como uma Mulher”, em que promove encontros para discutir temas como equidade de gênero e mentoria, e o “Elas em foco”, para empoderar, desenvolver e dar voz às mulheres. Ainda, segundo a empresa, em 2021, as mulheres representaram 55% de trainees.

    ESG e investidores atentos

    A diversidade, incluindo de gênero, é um dos vários pilares que compõem o chamado ESG, a sigla em inglês para meio ambiente, sociedade e governança. Tratam-se de frentes de comprometimento cada vez mais exigidas pelos grandes investidores globais das empresas onde vão deixar o seu capital.

    “Há uma quantidade absurda de dinheiro que está mudando de mãos para a próxima geração”, diz Carlos Miranda, sócio-fundador da X8 Investimentos, gestora de venture capital que investe em empresas crescentes com negócios alinhados aos princípios ESG.

    Foi a X8, por exemplo, que aportou capital na rede de alimentos naturais Mãe Terra em 2013 para, em 2017, vê-la comprada pela gigante Unilever.

    “São netos de fundadores que estão começando a se envolver nas decisões da família e estão pressionando os family offices por mais investimentos limpos, conscientes e com diversidade”, diz Miranda.

    “Em mercados mais desenvolvidos, os CEOs das grandes corporações já perceberam que tanto os consumidores quanto os investidores estão dispostos a pagar um prêmio maior por negócios e produtos que gerem um impacto positivo para a sociedade, ou que, em algum momento, vão puni-los por não faze-lo.”