Shell tira “Royal Dutch” do nome e vai transferir escritório para Londres
Impostos sobre dividendos e decisão judicial sobre a política climática da empresa a afastaram da Holanda, sua sede atual
A Royal Dutch Shell anunciou nesta segunda-feira (15) que vai abandonar sua estrutura de ações duplas e mudar sua sede da Holanda para o Reino Unido, afastada pelos impostos holandeses e enfrentando a pressão ligada a ações climáticas na Justiça enquanto a gigante da energia tenta se afastar do petróleo e do gás natural.
A empresa, que por muito tempo enfrentou dúvidas de investidores sobre sua estrutura dupla e recentemente foi atingida por uma ordem judicial holandesa sobre suas metas climáticas, pretende retirar o “Royal Dutch” de seu nome – parte de sua identidade desde 1907 – para se tornar Shell Plc. Dutch, em inglês, significa holandês.
A empresa anglo-holandesa está em uma longa disputa com as autoridades da Holanda por causa do imposto do país de 15% sobre dividendos, que a Shell procurou evitar pagar com suas duas classes de ações. Sua nova estrutura única resolveria esse problema e permitiria à Shell fechar negócios de venda ou aquisição mais rapidamente.
Em mais um golpe em suas relações com a Holanda, o ABP, maior fundo de pensão estatal holandês, disse no mês passado que retiraria a Shell e todas as empresas ligadas a combustíveis fósseis de seu portfólio.
O governo holandês disse na segunda-feira que estava “desagradavelmente surpreso” com os planos da Shell de se mudar de Haia para Londres.
A decisão, no entanto, será vista como um voto de confiança em Londres, depois que a saída do Reino Unido da União Europeia desencadeou uma mudança de bilhões de euros nas negociações diárias de ações que saíram da capital do Reino Unido para Amsterdã.
As ações da Shell, que ainda serão negociadas em Amsterdã e em Nova York, subiram mais de 2% em Londres na manhã de segunda-feira após a notícia.
“A complexa estrutura acionária atual está sujeita a restrições e pode não ser sustentável no longo prazo”, disse a Shell, ao anunciar seu plano de mudar a estrutura. A mudança requer pelo menos 75% dos votos dos acionistas em uma assembleia geral a ser realizada em 10 de dezembro, afirmou a empresa.
“Vemos méritos na proposta de reestruturação da estrutura de ações e residência fiscal da Shell. Entre outros benefícios, as mudanças propostas aumentarão a capacidade da Shell de recomprar ações”, disse Jefferies em nota de pesquisa.
A Shell disse que retornaria US$ 7 bilhões com a venda de ativos nos Estados Unidos para a ConocoPhillips, além de um programa de recompra de ações em andamento.
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Confira algumas empresas que passaram por alteração de nome nos últimos anos • Amador Loureiro/Unsplash
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Facebook anunciou que passará a se chamar Meta. O nome simboliza um novo foco de atuação da gigante de tecnologia: o desenvolvimento do chamado metaverso • Divulgação/Facebook
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Em 2015, o Google anunciou uma reestruturação, com a criação da Alphabet. A empresa se tornou a responsável por administrar o próprio Google e antigas subsidiárias, na tentativa de dar mais independência e transparência aos negócios • SOPA Images/LightRocket via Gett
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Dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, a Via Varejo revelou em 2021 que decidiu mudar de nome para Via. O movimento representa uma busca da empresa de atuar em múltiplos setores, incluindo o e-commerce, indo além do varejo físico • Via/Divulgação
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Outra varejista que mudou de nome há pouco tempo foi a Magazine Luiza. Em 2018, as lojas mantiveram o nome, mas a empresa passou a se chamar Magalu. A mudança também refletiu uma aproximação com o comércio digital • Divulgação/ Magazine Luiza
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A BRF surgiu em 2013, resultado da fusão de duas gigantes do setor de alimentos: a Perdigão e a Sadia. O nome vem da BR Foods, dona da Sadia • BR Foods/Divulgação
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Em 2006, surgiu a B2W, empresa resultante da fusão dos sites Americanas, Submarino e Shoptime. O nome permaneceria até 2021, quando a Lojas Americanas anunciou a fusão com a empresa, que passou a se chamar apenas Americanas • SOPA Images/LightRocket via Gett
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A BR Distribuidora também mudou de nome em 2021 para Vibra. A alteração ocorreu depois de a Petrobras vender sua participação na empresa • Divulgação
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Ainda em 2021, foi a vez da Duratex mudar de nome. A empresa, que atua na área de decoração, passou a se chamar Dexco, simbolizando uma nova estratégia de negócios voltada para a expansão na área de construção civil • Duratex/Divulgação
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Envolvida em denúncias de corrupção no âmbito da Operação Lava Jato, a construtora Odebrecht, fundada há mais de 70 anos, informou em 2020 que passaria a se chamar Novonor • Rovena Rosa/ Agência Brasil
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Também envolvida em denúncias no âmbito da Operação Lava Jato, a construtura Camargo Corrêa anunciou em 2018 que sua controladora mudaria de nome, passando a se chamar Mover • Camargo Corrêa/Divulgação
Transição
A mudança de segunda-feira segue uma grande reforma que a Shell concluiu neste verão no Hemisfério Norte como parte de sua estratégia de mudar do petróleo e gás para energias renováveis e energias de baixa emissão de carbono. O movimento incluiu milhares de cortes de empregos em todo o mundo.
Em maio, um tribunal holandês ordenou que a Shell aprofundasse seus planejados cortes nas emissões de gases de efeito estufa, a fim de se alinhar com o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5ºC. A Shell disse que apelará da decisão.
“Se essa decisão permitir que a empresa seja mais ágil para executar sua transição para emissões líquidas zero, então ela deve ser vista de forma positiva”, disse Adam Matthews, diretor de investimentos responsável pelo Church of England Pensions Board, um acionista da Shell.
Matthews, que está liderando as negociações com a Shell em nome do grupo de investidores Climate Action 100+, disse que o grupo não deve retirar a responsabilidade da empresa de implementar a decisão do tribunal holandês.
A Shell também está lutando contra os pedidos feitos no mês passado pelo investidor ativista Third Point para que a empresa seja dividida em várias companhias. Os principais executivos da Shell responderam, dizendo que os negócios da empresa funcionavam melhor juntos.
Gigantes corporativos estão sob crescente pressão para simplificar suas estruturas, com General Electric, Toshiba e Johnson & Johnson anunciando planos na semana passada de se dividir em empresas diferentes.
As listagens duplas, que são mais caras de manter, também estão caindo em desuso.
A gigante de produtos de consumo Unilever abandonou sua estrutura dupla anglo-holandesa no ano passado em favor de uma única entidade com sede em Londres. A mineradora BHP Group também encerrou essa estrutura.
*(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)