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    Setor agro adere ao blockchain para registrar processo de produção de grãos

    Custo é uma das principais barreiras para que pequenas empresas acessem a tecnologia

    Paulo Whitaker/Reuters

    Artur Nicocelido CNN Brasil Business

    São Paulo

    O blockchain, usado em larga escala no registro de transações financeiras, tem se espalhado para outros setores, proporcionado uma revolução na dinâmica de gestão de produtos. O setor agro é um dos mercados que tem se beneficiado com a tecnologia.

    O coordenador do MBA em agronegócios da FGV, Fabio Mizumoto, explica que a solução oferece à cadeia de fornecimento e recebimento de grãos informações que permitem o registro e a rastreabilidade dos produtos.

    “É preciso coordenar melhor as atividades para buscar a eficiência e produtividade no agronegócio, reduzindo assim a assimetria de informações. E a tecnologia tem muito a contribuir, desde processos de comercialização, a financiamentos e seguros agrícolas”.

    Há dois anos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou um estudo com a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) e a Usina Granelli para mapear a cadeia de cada-de-açúcar via blockchain.

    O resultado foi a criação do Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar), tecnologia de registro e custódia de informações agroindustriais. Com o rastreio, as embalagens dos produtos da Usina Granelli receberão um selo ‘tecnologia Embrapa’ e um QR code.

    Os clientes poderão acessar o código e ter as informações sobre a fabricação de um produto, desde a origem até à chegada nos mercados. Em nota, a Embrapa informou que “as ações atendem aos anseios da sociedade por produtos mais saudáveis, além da exigência do mercado internacional em saber como os alimentos são produzidos”.

     

    Alexandre de Castro, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e líder do estudo realizado em 2020, explicou que os dados de fabricação de produtos sucroalcooleiros são armazenados em blocos digitais, construindo uma sequência temporal e imutável de registros.

    Preço

    Apesar das vantagens da tecnologia, o coordenador da FGV aponta que um dos grandes problemas hoje na adoção do blockchain é o custo, “e as mais afetadas são as pequenas empresas”.

    A LeewayHertz, companhia de desenvolvimento de software, apontou que o preço para implementar a tecnologia é de aproximadamente US$ 1.500 por mês. Mizumoto sugere que o blockchain deveria ser pago pelo uso, não pela criação da estrutura.

    André Peretti, head da Farmbits, braço de tecnologia e inovação da Belagrícola, provedora de soluções para o produtor rural, conta que realizou um estudo, em 2017, para testar o blockchain no processo de entrada, classificação e armazenagem de grãos.

    O resultado da pesquisa apontou que seria possível implementar um sistema em que desse para ter detalhes de um produto desde sua origem até a venda. Contudo, segundo Peretti, surgiu um percalço na época: custo do blockchain.

    “Estávamos com as expectativas infladas, mas percebemos que o custo para implementar em todas as unidades era inviável”, diz Peretti. O estudo foi realizado apenas na unidade de Ribeirão do Sul, interior de São Paulo.

    “Contudo, [nós] sabemos que, em um futuro, o blockchain será ainda mais relevante, e voltaremos a olhar com carinho para a tecnologia. Queremos gerar valor com o uso”.

    Veja abaixo um levantamento sobre áreas do agronegócio que podem utilizar o blockchain e quais são as vantagens e finalidades da tecnologia, realizado pela Digital Agro, programa de captação de ideias para a cadeia do agronegócio.

    Mercado bovino

    “O setor agro como um todo adotará cada vez mais a tecnologia”, diz o coordenador do MBA da FGV. Para ele, o blockchain, assim como a inteligência artificial, vão ser processos que farão parte do cotidiano das companhias.

    No mercado bovino, por exemplo, a JBS usa o blockchain para garantir uma cadeia de fornecimento sustentável, por meio da Plataforma Pecuária Transparente, implementada em 2021.

    Um dos grandes desafios da companhia, explica Liège Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi, era garantir o controle de monitoramento, feito com fornecedores diretos há mais de dez anos, também para terceiros. E, com a tecnologia, começaram a ser aplicados os mesmos critérios socioambientais aos fornecedores dos fornecedores da JBS.

    “Não são efetuados negócios com propriedades com áreas embargadas pelo Ibama, que tenham desmatamento, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, invasão de terras indígenas ou unidades de conservação ambiental, e trabalho análogo à escravidão”, destaca a diretora.

    Por meio da Plataforma Pecuária Transparente, os fornecedores de gado da JBS realizam a gestão de seus fornecedores terceiros. A meta da companhia é de que até 2025, todos (fornecedores e terceiros) estejam integrados ao sistema.

    O total de animais inscritos na plataforma, em 2021, corresponde a 14,8% do total processado em 2020. Para 2022, o objetivo é subir para 36%.