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    Senadores começam mobilização para que nova estatal nuclear ENBpar fique no RJ

    Carlos Portinho (PL-RJ) quer manter gestão de ativos da Eletronuclear no estado que abriga as duas usinas brasileiras

    Stéfano Sallesda CNN , no Rio de Janeiro

    Começa uma mobilização na bancada do Rio de Janeiro no Senado para evitar que a nova estatal ENBpar, que reunirá os ativos da Eletronuclear e de Itaipu Binacional, fique em Brasília.

    O movimento acontece porque as duas companhias que terão seus espólios assumidos pela nova empresa ficam em estados diferentes: Rio de Janeiro e Paraná, onde concentram suas operações.

    O senador Carlos Portinho (PL-RJ) destaca que toda a operação da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, está no Rio de Janeiro, estado que, além de abrigar a sede da empresa, sedia as duas únicas usinas do projeto nuclear brasileiro: Angra 1 e 2.

    O complexo abrigará ainda a unidade de Angra 3, que está 65% concluída e tem inauguração prevista para 2026.

    O governo criou esse ano a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), uma autarquia que ficará sediada no Rio de Janeiro, produto da divisão da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

    Portinho entende que, assim como a ANSN, a sede da ENBpar ficar no Rio de Janeiro é uma necessidade nacional.

    “Não vejo sentido nenhum em essa sede ir para Brasília. Os empregados são da Eletrobras e devem ficar no estado. Há também uma questão de segurança nacional. Não faz sentido uma empresa nuclear ficar em Brasília, o telefone vermelho tocar e todos estarem reunidos lá. É uma questão nacional, não há nenhum bairrismo nisto”, afirma o senador.

    A criação da nova estatal é parte do processo de privatização da Eletrobras, que não contemplará a operação nuclear brasileira e a participação brasileira na gestão da usina hidrelétrica de Itaipu.

    Na bancada fluminense, Portinho já obteve o apoio do senador Romário (PL-RJ) e tenta o de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) para garantir que a nova estatal fique no estado, assim como ocorreu com a ANSN.

    Ele já se reuniu com a ministra da Secretaria de Governo da Presidência da República, Flávia Arruda, e busca agora conversar com o ministro de Minas de Energia, Bento Albuquerque.

    “Estou buscando uma audiência com o ministro para tratar do tema. Tenho certeza que até o presidente Jair Bolsonaro desconhece o assunto, tendo em vista que um dos principais lemas do governo é mais Brasil e menos Brasília. O mesmo vale para Itaipu. O mais natural seria que fossem feitas duas empresas, sediadas nos locais das operações”, avalia Portinho.

    O principal desafio da Eletronuclear é a conclusão de Angra 3. Com a construção iniciada em 1984, já consumiu R$ 8 bilhões e a previsão é que demanda pelo menos outros R$ 15 bilhões para ser terminada.

    A unidade é percebida como estratégica pelo Ministério de Minas e Energia porque vai gerar eletricidade para a área que mais a consome no país, uma vez que ficará situada entre as capitais de Rio de Janeiro e São Paulo.

    Fachada da sede da Eletrobras
    Fachada da sede da Eletrobras / REUTERS

    Mão de obra

    Outro ponto encarado como preocupante na transferência da gestão dos ativos da Eletronuclear para a ENBpar sediada em Brasília é a formação de mão de obra especializada para lidar com a energia nuclear.

    No estado, ela está concentrada no curso de Engenharia Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos poucos do gênero no país, que só oferece a formação semelhante em São Paulo e no Recife.

    Ex-presidente da Eletrobras e professor do curso de Engenharia Nuclear da UFRJ, o físico Luiz Pinguelli Rosa entende que a transferência pode ser prejudicial para o estado e para o país.

    Atualmente, a Eletronuclear tem 1.642 empregados no Rio de Janeiro. Deste total, 371 na sede, na capital do estado, e 1.271 em Angra dos Reis, além de contratados e terceirizados.

    “É perda de receita de empregos qualificados. A Eletronuclear cuida dos reatores de Angra e das Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Há uma relação de projetos de estudo em que a Eletronuclear solicita o apoio do curso, que fica sediado na Coppe. Em Brasília não há nada, é um deserto nuclear, há apenas uma burocracia do estado”, avalia Luiz Rosa.

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