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    Risco de crise no varejo aumenta e governo decide agir

    Grandes bancos sugerem extensão de programa para ajudar fornecedores; Fazenda e BNDES já atuam em desenho preliminar

    Socorro direto às empresas de varejo em processo de reestruturação das dívidas está completamente descartado
    Socorro direto às empresas de varejo em processo de reestruturação das dívidas está completamente descartado 16/06/2022 REUTERS/Lucy Nicholson

    Daniel Rittnerda CNN

    em Brasília

    A possibilidade de uma crise de crédito no varejo se ampliou nas últimas semanas e eleva o risco de que o crescimento abaixo de 1% atualmente projetado para 2023 se transforme em “PIB zero” ou até negativo, conforme avaliações de fontes do governo e altos executivos de bancos ouvidos em caráter reservado pela CNN.

    As instituições financeiras já sugeriram ao BNDES, inclusive, que haja “funding” do banco de desenvolvimento ou garantias do Tesouro Nacional para manter o crédito à cadeia de fornecedores das grandes varejistas.

    A sugestão foi feita, na quarta-feira (22), em reunião virtual de dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) — a primeira que teve o próprio BNDES, representado no encontro por Aloizio Mercadante, como um dos associados.

    Além da Americanas, que divulgou “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões, houve uma sequência de notícias negativas no setor: reestruturação de dívidas da Marisa, pedido de despejo de um centro de distribuição da Tok&Stok, a falência da Livraria Cultura e outras recuperações judiciais em andamento (como a da Máquina de Vendas, dona da Ricardo Eletro, e da Saraiva).

    Nas palavras de um interlocutor da área econômica, é preciso agir porque “isso não vai virar um tsunami, mas pode ser um maremoto” com efeito cascata na economia como um todo. Fala-se até, com total prudência, em risco de recessão. O boletim Focus, do Banco Central, prevê crescimento de 0,80% do PIB em 2023.

    Um socorro direto às empresas de varejo em processo de reestruturação das dívidas está completamente descartado. No entanto, a elaboração de um plano para irrigar fornecedores com capital de giro e garantir fluxo de caixa para essas companhias — sobretudo pequenas e médias — começa a evoluir nos bastidores.

    Seria válido para os fornecedores de todas as varejistas, não apenas aqueles que abastecem a Americanas. Há sintonia entre Ministério da Fazenda e BNDES no desenho preliminar. Para as fontes consultadas pela CNN, o problema atual deve ser dividido em três frentes:

    1. A taxa Selic subiu de 2% para 13,75% ao ano em um período de aproximadamente um ano e meio. Isso encareceu o custo do crédito não só para consumidores, mas para as empresas.

    2. O caso Americanas provocou desconfiança geral do setor financeiro com as empresas de varejo. Os bancos passaram a revisar, para baixo, seus limites de crédito para o segmento varejista.

    3. A rede de fornecedores passou a enfrentar mais atrasos nos pagamentos. Há quebra do fluxo de caixa das companhias, incluindo indústrias de aparelhos eletrônicos, de têxteis, de produtos alimentícios. Essa desorganização, se ampliada, pode causar demissões no setor industrial e provocar desequilíbrio na oferta. Sem receber, um fabricante de chocolates passa a entregar só metade das caixas de bombons que fornecia anteriormente. A demanda continuará igual, mas a oferta pode secar. Os preços sobem.

    Por isso, a decisão do governo é atuar. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, já declarou publicamente que sua intenção de abrir uma linha de crédito para fornecedores “vítimas dessa fraude” — em referência ao escândalo contábil da Americanas.

    Neste momento, as discussões envolvem uma possibilidade de prorrogação do FGI-Peac, um fundo garantidor que sustenta o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito, criado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no auge da pandemia.

    Segundo um alto funcionário do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar das críticas à gestão Bolsonaro e do ex-ministro Paulo Guedes, há um reconhecimento na atual equipe econômica de que esse foi um programa bem estruturado e que deu certo.

    O FGI-Peac recebeu um aporte de R$ 20 bilhões do Tesouro Nacional. Com esse dinheiro, havia garantia de até 80% do valor da operação de instituições financeiras em crédito oferecido para pequenas, médias e grandes empresas.

    De acordo com um integrante da equipe econômica, para cada R$ 1 de garantia, liberam-se R$ 5 em financiamentos pelos bancos comerciais, que se sentem mais confiantes para emprestar — pois são reembolsados em até 80% do valor em caso de inadimplência.

    Problema: o programa, que já foi renovado uma vez, acaba em dezembro de 2023. Como faltam apenas dez meses para expirar, hoje existe certa dificuldade de enquadramento.

    A ideia em gestação, ainda preliminar, é estender novamente a vigência do Peac e fazer um novo aporte no fundo garantidor. Desta vez, o foco estaria em fornecedores do varejo.