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    Recessão X realidade: temores de contração nos EUA colidem com dados de atividade

    Relatório do PIB dos EUA mostrou que economia encolheu pelo segundo trimestre consecutivo, mas esfriamento da inflação e geração de empregos são sinais positivos ao país

    Matt Egando CNN Business Nova York

    A economia americana ainda não recebeu o memorando de aviso que ela já deveria estar em recessão. O brutal relatório do PIB divulgado em 28 de julho, mostrando que a economia dos Estados Unidos havia se contraído pelo segundo trimestre consecutivo, levou analistas a insistirem que a temida recessão já havia chegado.

    E, de certa forma, isso faz sentido: desde 1948, todo período de trimestres consecutivos de crescimento negativo coincidiu com uma recessão.

    Mas o argumento de que a recessão já está aqui foi severamente prejudicado desde que o relatório do PIB foi publicado. Uma série de eventos nos últimos 10 dias sugere que esses sinais de recessão são, no mínimo, prematuros.

    Sim, a economia está esfriando após o crescimento do ano passado. Mas não, ela não parece estar sofrendo o tipo de queda que se qualificaria como recessão.

    Considere os seguintes desenvolvimentos:

    • A economia criou mais de meio milhão de empregos somente em julho.
    • A taxa de desemprego caiu para 3,5%, empatada no nível mais baixo desde 1969.
    • A inflação esfriou (relativamente falando) em julho tanto para os consumidores quanto para os produtores.
    • Os preços da gasolina caíram abaixo de US$ 4 o galão pela primeira vez desde março.
    • O sentimento do consumidor subiu após chegar a recordes mínimos.
    • O mercado de ações registrou sua maior sequência de vitórias semanais desde novembro.

    Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, disse que ficou mais confiante de que a recuperação econômica dos EUA está intacta.

    “Esta não é uma recessão. Não está nem no mesmo universo de uma recessão”, disse Zandi à CNN. “É apenas evidentemente errado dizer que é [recessão]”.

    Zandi disse que a única coisa que sinaliza uma recessão em andamento são os trimestres consecutivos de PIB negativo. No entanto, ele previu que esses declínios do PIB acabarão sendo revisados. E há indicadores iniciais de que o PIB ficará positivo neste trimestre.

    Claro, nada disso significa que a economia está saudável. Não está. A inflação continua muito alta. E nada disso significa que a economia está fora de perigo. Ela não está.

    Uma recessão continua sendo um risco real, especialmente no próximo ano e em 2024, à medida que a economia absorve todo o impacto dos aumentos monstruosos das taxas de juros do Federal Reserve (Fed), o sistema de banco central americano.

    E ainda é possível que a economia tropece tanto nos próximos meses que os economistas do National Bureau of Economic Research, o árbitro oficial das recessões, acabem declarando que uma recessão começou no início de 2022. Mas, por enquanto, é muito cedo para dizer que esse é o caso.

    Mercado de trabalho ainda está aquecido

    O maior problema em argumentar que uma recessão já começou é o fato de que as contratações aumentaram – dramaticamente – em julho. Os Estados Unidos adicionaram impressionantes 528 mil empregos no mês passado, retornando as folhas de pagamento aos níveis pré-Covid.

    Uma economia em recessão não cria meio milhão de empregos em um único mês.

    “Não acho que nada nos dados sobre onde estamos agora na economia seja consistente com o que normalmente consideramos uma recessão”, disse Brian Deese, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, à CNN em uma entrevista por telefone na semana passada.

    Restaurante anuncia vagas de emprego em Oceanside, California, EUA / 10/05/2021 REUTERS/Mike Blake

    Se há alguma coisa, é o mercado de trabalho que está muito aquecido. E isso é um problema para os próximos meses porque permite que o Federal Reserve aumente agressivamente as taxas de juros sem resultar em danos generalizados ao mercado de trabalho em sua tentativa de desacelerar a economia.

    O risco é que o Fed acabe pisando no freio com tanta força que desacelera a economia para uma recessão.

    A inflação está esfriando, finalmente

    Há uma sensação crescente de que talvez o pior já tenha passado em relação a inflação.

    A maior dor de cabeça da inflação – os preços da gasolina – está finalmente diminuindo e muito. A média nacional da gasolina comum caiu mais de US$ 1 desde que atingiu um recorde de US$ 5,02 o galão em meados de junho.

    Além da gasolina, os preços do diesel e do combustível de aviação também estão baixando, aliviando a pressão inflacionária no resto da economia.

    O desaquecimento da energia baixou as métricas de inflação em julho e deve fazer o mesmo, se não mais, em agosto.

    O Bureau of Labor Statistics disse na semana passada que os preços ao consumidor estavam 8,5% mais altos em julho do que no ano anterior. Embora isso permaneça alarmantemente alto, está abaixo da alta de 40 anos de 9,1% em junho. E, mês a mês, os preços pouco mudaram.

    A inflação no atacado também pode estar atingindo o pico. O índice de preços ao produtor, que mede os preços pagos aos produtores por seus bens e serviços, desacelerou em julho mais do que o previsto em relação ao ano anterior. E o índice caiu mês a mês pela primeira vez desde que a economia foi fechada em abril de 2020.

    Os relatórios de inflação acima do esperado refletem não apenas os preços mais baixos da energia, mas também o alívio do estresse nas cadeias de suprimentos atrapalhadas pela Covid-19.

    Cliente conta dinheiro no caixa de uma loja em Nova Hampshire, EUA / REUTERS/Jessica Rinaldi

    Como seria uma recessão

    De certa forma, o debate sobre a recessão é semântico.

    Com recessão ou não, os americanos estão claramente sofrendo agora, porque o custo de vida está muito alto. Os salários reais, ajustados pela inflação, estão encolhendo. E embora o sentimento do consumidor, medido pela Universidade de Michigan, tenha subido dois meses seguidos, ele permanece próximo de mínimos recordes.

    No entanto, para muitos, uma recessão real seria muito mais dolorosa do que o ambiente atual.

    Uma recessão provavelmente envolveria a perda não apenas de centenas de milhares, mas de milhões de empregos. Impossibilitadas de pagarem as hipotecas, as famílias enfrentariam a saída de suas casas. E as pequenas, médias e grandes empresas iriam à falência.

    Nenhuma dessas coisas está acontecendo de maneira significativa, pelo menos não ainda. Mas luzes vermelhas piscando no mercado de títulos sugerem que isso pode mudar.

    A curva de rendimentos – especificamente, a diferença entre os rendimentos do Tesouro de 2 e 10 anos – permanece invertida. E no passado, isso foi um preditor assustadoramente preciso de recessões. Isso tem precedido todas as recessões desde 1955.

    Ao todo, dados econômicos recentes sugerem que a possível recessão pode ter sido adiada, não cancelada por completo.

    Embora o risco de uma recessão nos próximos seis a nove meses pareça ter diminuído, disse Zandi, o risco nos próximos 12 a 18 meses aumentou.

    “As chances de recessão ainda são desconfortavelmente altas”, disse ele.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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