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    Receita previdenciária maior sinaliza avanço do mercado de trabalho, dizem especialistas

    Previdência arrecadou R$ 44,516 bilhões em junho deste ano, registrando acréscimo real de 10,8% em relação ao mesmo período de 2021

    Movimentação no centro de Campinas, em São Paulo
    Movimentação no centro de Campinas, em São Paulo Foto: Karen Fontes/Ishoot/Estadão Conteúdo (15.fev.2021)

    Fabrício Juliãodo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A Receita Federal informou que recolheu R$ 181,040 bilhões de impostos e contribuições em junho de 2022, o melhor resultado de toda a série histórica do mês, iniciada em 1995.

    O resultado positivo foi impulsionado por combustíveis, serviços financeiros, extração mineral e extração de petróleo e gás – as atividades com os maiores aumentos de receita. No entanto, especialistas chamam a atenção para outra categoria que registrou crescimento: a receita previdenciária.

    A receita previdenciária arrecadou R$ 44,516 bilhões em junho deste ano, registrando acréscimo real de 10,8% em relação ao mesmo período de 2021. Em 2021, a administração federal arrecadou R$ 40.177 bilhões em valores reais (sem descontar a inflação o número é de R$ 35.909 bilhões).

    “É um crescimento substancial, dado que temos um volume muito grande de receitas que são ligadas à previdência”, destacou Tiago Sbardelotto, economista da XP.

    Segundo a Receita, o crescimento da arrecadação ocorreu em razão do aumento real de 4,01% da massa salarial, descontando a inflação, além do melhor desempenho da arrecadação do Simples Nacional em relação a junho do ano passado.

    A receita previdenciária é ilustrada no gráfico abaixo em valores nominais, sem descontar a inflação, que mostra o crescimento da receita ao longo dos anos, desde o início da série histórica.

    “A fotografia está melhor que a esperada. A geração de emprego e o fortalecimento do mercado de trabalho no primeiro semestre do ano tem surpreendido os analistas”, afirmou ao CNN Brasil Business Murilo Viana, economista e especialista em contas públicas.

    Segundo o economista, a melhora do mercado de trabalho na primeira parte de 2022 é um dos fatores que levaram a uma revisão na previsão do Produto Interno Bruto (PIB) mais elevada para o ano.

    O Ministério da Economia atualizou sua projeção para um crescimento de 2% do PIB, ante 1,5% na projeção anterior. A estimativa está mais alinhada com o mercado, que passou a prever um crescimento econômico de 1,75%, ante 1,59% na semana passada e 1,5% há um mês.

    “O impacto da guerra na Ucrânia gera um efeito positivo para a economia brasileira por causa da subida do preço das commodities em geral, que afeta os setores em arrecadação. O setor de petróleo gerou receitas bastantes significativas, além dos gêneros alimentícios”, explicou Viana.

    Apesar de resultados acima do esperado no primeiro semestre de 2022, o economista ressaltou que a perspectiva para o segundo semestre é menos positiva que em relação à primeira metade do ano.

    “O segundo semestre sinaliza desafios bastante relevantes, não só para o Brasil como no mundo inteiro, com o desaquecimento das commodities, a escalada dos juros e o risco de recessão global”, ponderou.

    Mercado de trabalho

    O processo de recuperação do mercado de trabalho se intensificou nos últimos meses, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

    De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a população ocupada no país somava 98,3 milhões de pessoas em maio deste ano, avançando 9,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.

    Após o ajuste sazonal, o contingente de 99,9 milhões de ocupados, em maio deste ano, foi 1,2% maior que o observado em abril, alcançando o maior patamar desde o início da série, em janeiro de 2012.

    “Quando olhamos para os dados, é possível observar uma recuperação nos últimos meses, que é que está dando força para o crescimento da receita previdenciárias. Essa recuperação ocorre junto com a elevação da massa salarial em termos reais”, declarou Tiago Sbardelotto, economista da XP.

    O especialista ressaltou que o mercado de trabalho mostra sinais de melhora, mas o trabalhador ainda mantém um rendimento real abaixo da inflação.

    “O rendimento real ainda está com uma queda acumulada de -6.8, ou seja, aquilo que os trabalhadores conseguiram de aumento nominal ainda está abaixo da inflação”, disse.

    “Mas é um número que vem melhorando gradativamente, o que quer dizer que os trabalhadores estão conseguindo ter salários melhores nos últimos meses”, acrescentou.

    A proporção de brasileiros ocupados em relação à população total em idade ativa chegou a 56,8%, em maio, acelerando 4,5 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2021. Em termos dessazonalizados, o resultado observado em maio (57,7%) é o maior já registrado desde março de 2015 (57,8%).​

    “Temos uma recuperação forte no mercado de trabalho na parte da população ocupada. Na comparação de maio com o mesmo mês no ano passado, tivermos um crescimento de 6,5% na ocupação”, afirmou Sbardelotto.

    Por fim, Sbardelotto destacou que o setor privado tem impulsionado os resultados recentes registrados, contribuindo para o aumento da receita previdenciária em junho, divulgada na quinta-feira passada.

    “No setor privado com carteira de trabalho, que é importante ao pensar em receita previdenciária, pois se trata do principal contribuinte, tivemos um crescimento de 12%. Boa parte desse crescimento da previdência ocorre pela recuperação do setor privado com carteira, conforme observamos nos últimos meses”, concluiu.