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    Reaberturas fazem ações dispararem: quais os melhores setores para apostar?

    Aéreas, varejo, construção, educação e seguros têm tendência semelhante: queda na pandemia, e alta com espera de retomada; afinal, é hora de comprar ou vender?

    Operador durante sessão da bolsa de valores de São Paulo 18/05/2017
    Operador durante sessão da bolsa de valores de São Paulo 18/05/2017 Foto: REUTERS/Paulo Whitaker

    Luís Lima,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A esperada reabertura econômica na cidade de São Paulo fomentou o otimismo dos investidores e catapultou a valorização de ações de empresas outrora castigadas pela Covid-19. Em março, quando o Ibovespa afundou 39%, papéis de setores impactados com a quarentena imposta pela pandemia também amargaram quedas, que se estenderam até que uma perspectiva de retomada dos negócios ficasse mais clara.

    Na lista de setores mais afetados estão o aéreo, o varejo físico, construção civil, educação e seguros, destacam especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business. Cada setor foi impactado em distintos graus, mas todos estão no mesmo barco: dependem da reação do consumo e da economia em crescimento.

    O anúncio de uma reabertura gradual na capital mais populosa do país inverteu essa trajetória de baixa, também favorecida por expectativas mais calibradas dos impactos econômicos da pandemia, além do cenário de juro baixo e farta liquidez internacional.

    “É esperado que empresas mais voláteis, que caíram muito na crise, devolvam parte das perdas em um momento de mais otimismo”, diz Lucas Carvalho, analista da corretora Toro Investimentos.

    Com os aviões em solo, o setor de viagens foi um dos que mais sangrou na Bolsa — e também o que mais devolveu perdas nos últimos dias, mostram dados compilados pela consultoria Economatica. Gol e Azul tiveram baixas de 20,96% e de 50,84%, no intervalo entre os dias 11 de março, em que Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia global pelo novo coronavírus, até o dia 27 de maio, anúncio da reabertura em São Paulo.

    Porém, deste dia até a última segunda-feira (8), os papéis preferenciais dispararam 93,94% e 83,93%, respectivamente. Foram impulsionados por fatores como a perspectiva de retomada de voos, planos para proteção do emprego e ajuda do governo federal. Ainda no setor de viagens, Smiles e CVC tiveram comportamento parecido (veja gráfico abaixo).

     

    Na mesma base de comparação, o Ibovespa subiu 3,26% no primeiro intervalo e teve alta de 11,03% no segundo. “A reabertura nas principais economias do mundo, e planos nas principais cidades brasileiras, motivou a Bolsa. O sentimento positivo de volta da normalidade, faz com que a Bolsa se recupere em ‘V’: de forma forte e rápida”, define José Falcão Castro, analista da Easynvest. 

    No varejo, as mais impactadas foram as que não são tão associadas ao comércio eletrônico — ainda que ofereçam essa possibilidade. Na lista das que seguiram a mesma tendência das companhias aéreas estão as ações da C&A, Marisa, Renner e Le Lis Blanc. Outras, com canais digitais mais fortalecidos, atravessaram a primeira fase pandemia com maior resiliência, como B2W e Magazine Luiza, com altas no primeiro intervalo, e leves quedas no segundo.

    No caso da construção civil, o otimismo visto em dezembro, com um rali motivado por estimativas de melhores vendas, também foi neutralizado pelas incertezas do novo coronavírus. “O setor ficou completamente descompassado. No auge da crise, empresas chegaram a perder até 70% do valor de mercado”, exemplifica Henrique Esteter, analista da Guide. Algumas empresas da lista, que caíram e depois subiram, são: Gafisa, Cyrela, Lopes e Eztec.

    Esteter também destaca o setor de educação, que foi afetado num primeiro momento por sua relação com o desemprego. “A partir do momento que aumentou a expectativa do desemprego, muitas empresas como a Cogna chegou a valer menos de R$ 4, contra mais de R$ 10 antes”, pontua. Carvalho, da Toro, diz que o setor está entre os queridinhos da retomada, sobretudo devido à Educação à Distância (EAD), com o incremento de alunos via canais digitais na quarentena. 

    No caso de empresas de seguros, houve queda — relativamente menor em comparação aos outros setores, e que ainda não conseguiram retomar os mesmos patamares do período pré-crise. Reúne, portanto, potenciais oportunidades de compra, dizem os analistas.

    Comprar ou vender? 

    O baque no valor das ações gerou oportunidades para o investir disposto a pechinchar valores mais atrativos, que precificam o risco da instabilidade. O timing da compra do ativo —  se em março, na baixa, ou em dezembro, quando muitos estavam valorizados — é a variável chave que os investidores devem levar em conta para saber o que fazer no cenário atual.

    “Um ponto muito importante é saber exatamente quando comprou o papel. Se, por exemplo, o investidor comprou uma ação das Lojas Marisa, desde antes da crise, talvez valha segurar um pouco mais, porque a perspectiva é favorável, de reabertura, e de maior valorização do ativo, consequentemente”, exemplifica Esteter.

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    O ideal, segundo os analistas, é que a decisão de comprar ou vender seja acompanhada uma estratégia de médio ou longo prazo, que leva em conta o perfil de risco do investidor. Mas, se o anseio for por lucros imediatos, a recomendação de venda se aplica a quem comprou os papéis entre março e abril, de quaisquer um dos setores citados acima.

    O potencial de ganho, no entanto, pode ser maior, já que muitas dessas ações não atingiram o chamado “preço-alvo”, que é patamar médio atingido nos últimos meses, calculado a partir de análise fundamentalista. 

    Entre as empresas dos setores citados com potencial de ganho indicadas pela Toro estão Via Varejo e Lojas Renner. “Percebemos que há uma certa demanda represada. Com a reabertura das lojas, o consumo deve se mostrar de forma maior”, avalia Carvalho. 

    Mais apetite por risco 

    Atualmente o apetite por risco é significativamente maior do que há dois meses, atestam os analistas. O horizonte de incertezas sobre quando e como será a retomada ainda existe, mas a partir de expectativas mais calibradas.

    Pesa a favor da renda variável a baixa atratividade da renda fixa, em um cenário de juros baixos e ampla liquidez global, estimulada, sobretudo, por ações de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano).

    “Se fizermos uma relação entre a quantidade de ativos que o Fed compra e o preço dos ativos norte-americanos, vemos uma correlação bem factível. Quanto mais o Fed compra os ativos mais o preço (das ações) tende a crescer”, avalia Igor Cavaca, analista de renda variável da Warren.

    A expectativa comum é de que Bolsa retome e se firme no patamar dos 100 mil pontos nos “próximos meses”, ainda este ano, a depender de como se comportam algumas variáveis. Entre elas, estão a celeridade de reação da economia no pós-pandemia; as eleições norte-americanas, em 13 de novembro, além das turbulências políticas no Brasil.

    Se comparado ao cenário exterior, analistas ressaltam que a recuperação potencial da Bolsa, que atingiu 120 mil pontos em janeiro, é significativa. No ano, a B3 ainda acumula desvalorização de 16%, e fechou aos  96.746 pontos nesta terça-feira (10), em baixa de 0,92%, após sete pregões seguidos de alta. Ainda assim, a palavra “cautela” deve ser considerada, sobretudo ao investidor menos afeito a turbulências.

    “Ainda existem cenários de risco, com uma possível retomada do vírus, e dúvidas sobre a retomada das empresas no futuro (…) A partir do segundo semestre teremos uma posição melhor de como está a saúde financeira das empresas e se conseguem sustentar a perda que tiveram no período”, pondera Cavaca.

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