Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Preços do leite ao produtor acumulam queda de 29% em um ano com alta disponibilidade interna

    Recuperação da produção nacional somado ao aumento de importações desde o ano passado impactam cadeia do produto

    Desde o início de 2023, o preço ao produtor acumula queda real de 13,6%
    Desde o início de 2023, o preço ao produtor acumula queda real de 13,6% Foto: Couleur/ Pixabay

    Pedro Zanattada CNN

    São Paulo

    Os produtores de leite no Brasil enfrentam dificuldades com a desvalorização dos preços do produto.

    Em agosto deste ano, a média do litro do leite ao produtor chegou a R$ 2,25, um recuo de 29,4% na comparação com o ano passado, quando o produto era negociado a R$ 3,04. Desde o início de 2023, o preço ao produtor acumula queda real de 13,6%.

    Os dados são do último relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo. O resultado para aquele mês foi a quarta queda mensal consecutiva e a expectativa de um movimento baixista deve continuar.

    Pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam que a diminuição pode ser entre 5% e 10% na “média Brasil” líquida do leite captado em setembro.

    O que explica esse movimento é a alta disponibilidade interna de lácteos, o que pressiona as cotações ao longo da cadeia.

    Ao compararmos os preços, os valores médios do leite UHT, do queijo muçarela e do leite em pó, todos negociados no estado de São Paulo, registram queda de até 21% em agosto deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022.

    Disponibilidade interna

    A disponibilidade alta no mercado doméstico segue sendo mencionada pelo CPEA. Ainda que as importações de lácteos tenham registrado recuo de 22% no mês de setembro, elas continuam sendo um dos fatores pela queda nos preços.

    O cenário de aumento das importações está atrelado à maior competitividade do preço externo frente ao nacional. A invasão dos produtos estrangeiros somado à produção interna provocou a queda generalizada dos preços ao longo da cadeia produtiva brasileira.

    A pesquisadora de leite do CEPEA Natália Grigol explica que os preços ao produtor seguiam uma tendência de alta no primeiro trimestre, até o mês de março. Entretanto, de lá para cá, o recuo dos valores começou a ser observado.

    “Passamos pela pandemia. Os anos de 2021 e 2022 foram de inflação elevada e elevação dos preços dos insumos agrícolas. Isso fez o leite disparar como consequência. […] o nível de preço do ano passado era muito alto, visto que acompanhou a tendência dos insumos agrícolas”, diz Grigol.

    A pesquisadora explica ainda que, assim como no passado os custos e os preços subiram acompanhando a alta das commodities agrícolas, o mesmo ocorreu quando veio a queda desses insumos.

    “Observamos uma redução nos custos de produção, gerando sinais de melhora a partir do segundo trimestre do ano. Isso levou a uma recuperação da produção interna”.

    No entanto, essa tendência de queda nos custos não acompanhou o mesmo ritmo dos preços e, atualmente, o que se observa é um avanço de 0,56% em setembro do Custo Operacional Efetivo (COE).

    “Entramos em um período onde o custo não está mais em tendência de queda. Enquanto isso, não existe perspectiva de aumento no preço do leite. O cenário gera uma dificuldade de previsibilidade para o setor como um todo. Isso tirou um horizonte de decisão sobre investimentos”, afirma Grigol.

    Impacto na inflação

    No último dado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o leite longa vida está entre os destaques do grupo de Alimentação e Bebidas, com um recuo de 4,06%.

    Neste cenário, o governo federal busca agir. Na última quarta-feira (18), presidente Lula assinou um decreto que fortalece a cadeia produtiva do leite no Brasil.

    O texto altera o Decreto nº 8.533/2015, modificando as condições para a utilização dos créditos presumidos de PIS/Pasep e de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) concedidos no âmbito do Programa Mais Leite Saudável do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

    De acordo com a nota oficial do governo, o ato, que entra em vigor em 90 dias, tem por objetivo fomentar a produção de leite in natura e promover o desenvolvimento da cadeia produtiva leiteira do Brasil. Ainda segundo o comunicado, a medida não ocasiona renúncia de receita tributária.