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    Por que o futuro do Oscar — como o ato de ir ao cinema — permanece incerto

    Este ano, cinco dos oito filmes que disputam o melhor filme estrearam via streaming, na Netflix, Amazon, Hulu e HBO Max

    Os tapetes vermelhos do Oscar costumam reunir celebridades, jornalistas e fotógrafos antes das premiações
    Os tapetes vermelhos do Oscar costumam reunir celebridades, jornalistas e fotógrafos antes das premiações Foto: David McNew/Getty Images

    Frank Pallotta e Brian Lowry, da CNN

    O Oscar sempre foi uma propaganda para que o público fosse ao cinema. Mas, conforme nos dirigimos para a cerimônia deste ano, o futuro da ida ao cinema e dos próprios prêmios da Academia são tão incertos como jamais estiveram nos seus 93 anos de história.

    Os sucessos populares de bilheteria têm sido poucos e distantes entre si quando se trata de ganhar a distinção de Melhor Filme nos últimos anos, então os filmes que ganharam podem não ser tão familiares para o público em geral como eram antes.

    Agora — após um ano em que o streaming emergiu como salvação para os estúdios sem outra maneira de distribuir seus filmes — isso parece ser ainda mais verdadeiro. No futuro, alguns dos maiores vencedores de uma premiação que celebra a ida ao cinema podem ser filmes que nunca viram o interior de um cinema.

    Este ano, cinco dos oito filmes que disputam o melhor filme estrearam via streaming, na Netflix, Amazon, Hulu e HBO Max, que é propriedade da WarnerMedia, empresa controladora da CNN. A Disney também contornou os cinemas com seu indicado para melhor filme de animação, “Soul”, enquanto lidava com a realidade de isolamento social e buscava construir sua plataforma de streaming nascente, Disney +.

    Se 2020 foi em alguns aspectos um ano perdido para a indústria cinematográfica — e certamente para os cinemas — ainda há pouca noção de como será o novo normal. Pode ser um futuro em que os sucessos de bilheteria sejam exibidos principalmente nos cinemas, enquanto produções menores deixem de ser exibidas nas grandes telas.

    “O Oscar sempre fará parte do brilho e do glamour de Hollywood”, disse Paul Dergarabedian, analista sênior de mídia da Comscore, ao CNN Business. “A diferença pode vir na forma como o ‘impulso’ que o prêmio fornece é medido; seja em dólares de bilheteria, visualizações em streaming, vendas e aluguel de vídeos ou curtidas nas redes sociais.”

    No entanto, Dergarabedian acrescentou: “A moeda de qualquer ‘impulso’ que o Oscar oferece provavelmente nunca será a mesma.”

    Um futuro incerto para a maior noite de Hollywood

    Mesmo antes da pandemia, o Oscar e outras cerimônias de premiação enfrentavam um futuro incerto. Suas audiências vêm caindo há anos, e uma persistente falta de diversidade fez com que os programas e as organizações por trás deles parecessem sem contato com seu público.

    A interrupção da Covid-19 levou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — o grupo que supervisiona o Oscar — a alterar suas regras para permitir que os filmes que estreavam em streaming competissem por prêmios. Era para ser uma exceção única. Mas agora que o público assistiu a filmes de estreia no conforto de suas próprias casas, as vitrines exclusivas dos cinemas parecem ainda mais tênues para títulos de prestígio.

    Ao mesmo tempo, os estúdios continuarão a testar até que ponto o lançamento simultâneo em casa pode coexistir com a distribuição nos cinemas. A Disney, por exemplo, está empregando essa estratégia com “Black Widow” e o spinoff de “101 Dálmatas”, “Cruella” — por vezes cobrando uma taxa extra.

    A Warner Bros., da mesma forma, tem visto retornos encorajadores para “Godzilla vs. Kong”, que acumulou US$ 400 milhões de bilheteria globalmente, apesar de sua estreia paralela na HBO Max. A questão é quão maior seria esse número sem que o streaming desviasse uma porção de potenciais compradores de ingressos.

    Os serviços de streaming claramente se beneficiaram com a pandemia, com a Netflix ultrapassando o limite de 200 milhões de assinantes em todo o mundo, e o Disney + alcançando 100 milhões mais rápido do que o previsto. Manter isso, enquanto reconstrói a bilheteria, é o desafio que os estúdios enfrentam de maneira única.

    “Godzilla” e “Black Widow” provavelmente não têm grandes aspirações na corrida ao Oscar do ano que vem, o que representa apenas um dos obstáculos enfrentados pelos eventos de premiação.

    “A estratégia de lançar filmes diretamente para streaming pode aumentar a exposição de filmes de prestígio devido à acessibilidade mais fácil, mas pode se tornar um futuro muito complicado”, disse Shawn Robbins, analista-chefe da Boxoffice.com, ao CNN Business.

    “Os filmes de arte já enfrentaram uma série de desafios nos últimos anos, tentando competir pelas telas em um cenário cada vez mais competitivo, com longas de grande orçamento comandando os espaços.”

    A premiação mais importante de Hollywood já celebrou os maiores sucessos de bilheteria do ano anterior. Por exemplo, “Titanic”, “The Godfather” e “Forrest Gump” foram todos sucessos, bem como vencedores de Melhor Filme.

    No entanto, apesar de alguns grandes hits como “Black Panther”, “Mad Max: Fury Road” e “American Sniper” serem indicados nos últimos anos, o maior prêmio do Oscar e os maiores vendedores de ingressos da bilheteria não se sobrepuseram desde os primeiros anos deste século.

    Como observou a Variety, nenhum vencedor da categoria de Melhor Filme ficou entre os 10 melhores em bilheteria global desde a sequência “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” em 2004, evidência de “uma lacuna crescente entre os prêmios e o público” e uma divisão mais pronunciada entre lançamentos comerciais e aqueles que cativam os eleitores do prêmio.

    Na verdade, o último filme a arrecadar mais de US$ 100 milhões de bilheteria e levar para casa o maior prêmio do Oscar foi há quase uma década com “Argo”, em 2012.

    “O destino do filme independente pode estar nas mãos da Academia”

    Mesmo com a dinâmica evoluindo em Hollywood no pós-pandemia, Robbins acredita que ainda teremos grandes sucessos de bilheteria vencendo a estatueta de Melhor Filme.

    “A base de eleitores da Academia está progredindo de uma geração para a outra. Novas vozes sempre substituem as atuais e as anteriores”, disse ele. “Vimos ‘Pantera Negra’ receber uma indicação de Melhor Filme apenas três anos atrás, e é um palpite justo dizer que algo como ‘O Cavaleiro das Trevas’ seria indicado se fosse lançado hoje, dadas as mudanças na dinâmica e gostos dos eleitores.”

    No final das contas, Robbins observou, “os indicados e vencedores de Melhor Filme costumam refletir a cultura e a sociedade do momento em que são lançados”.

    É importante notar, também, que a indústria em torno dos prêmios de cinema, como eventos promocionais e anúncios que impulsionam os meios de comunicação voltados para o entretenimento, passou por outros contratempos.

    Isso inclui o escândalo em torno da Hollywood Foreign Press Association, administradora do Globo de Ouro, que está lutando com seu futuro depois que o Los Angeles Times expôs a falta de membros negros do grupo e práticas éticas questionáveis. Mais recentemente, o HFPA expulsou o ex-presidente Philip Berk por distribuir um e-mail inflamado sobre o movimento Black Lives Matter.

    E, como outros prêmios descobriram, apresentar o Oscar não será fácil sob os protocolos de pandemia. Mas, depois que a última estatueta é distribuída, o verdadeiro trabalho para a indústria do cinema começa, que inclui encontrar um equilíbrio entre as necessidades de serviços de streaming e cinemas.

    “O destino do filme independente pode estar nas mãos da Academia”, observou Dergarabedian. “Se as regras que permitem que filmes que nunca foram exibidos nos cinemas se qualifiquem para o Oscar permanecerem, o efeito nos negócios será profundo e duradouro.”

    Texto traduzido, clique aqui para ler o conteúdo original

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