Por que o Fed provavelmente vai aumentar os juros dois dias após o colapso do First Republic?
Maior parte do mercado aposta em nova elevação de 0,25 ponto percentual na taxa básica nesta quarta-feira (3)
Pela segunda vez neste ano, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) está se preparando para aumentar as taxas de juros logo após a falência de um banco.
Nesse caso, a decisão do Fed nesta quarta-feira (3) ocorrerá apenas dois dias após o colapso do First Republic Bank, a segunda maior falência bancária da história dos EUA.
Como o Silicon Valley Bank e o Signature Bank, a falência do First Republic foi precipitada pela campanha de aumento de juros do banco central, que já se estende por um ano.
À medida que as taxas sobem, os investimentos feitos pelos bancos — particularmente em títulos de longo prazo — desvalorizam, deixando os credores sentados em bilhões de dólares em perdas não realizadas.
Quando o Fed aumenta as taxas de juros, os bancos precisam aumentar as taxas de suas contas de poupança para atrair clientes de seus concorrentes. Isso pode colocar uma quantidade desproporcional de pressão sobre os bancos médios e regionais — como aqueles que viram os correntistas retirarem seu dinheiro quando a crise bancária começou, em março.
Por que, então, o Fed provavelmente aumentará as taxas de juros nesta quarta-feira?
Mercados já precificaram aumento da taxa
É muito mais fácil para o Fed aumentar as taxas de juros quando os mercados já estão esperando por isso, disse Jonathan Ernest, professor de economia da Weatherhead School of Management, da Case Western Reserve University.
Os operadores de futuros de fundos do Fed veem uma chance de 80% de o banco central aumentar sua taxa básica de juros em um 0,25 ponto percentual. Se o Fed não continuasse com o aumento das taxas, isso assustaria os mercados e “levaria mais pessoas a acreditar que as taxas subiriam em períodos futuros”, disse Ernest.
O Fed quer evitar aumentos “para e vai”
O Fed está aumentando as taxas de juros para reduzir a inflação. Para fazer isso, ele precisa desacelerar intencionalmente partes da economia, tornando mais caro para os bancos e, portanto, para os consumidores, tomar dinheiro emprestado.
Mas é um ato de equilíbrio delicado entre reduzir a inflação e causar uma recessão.
Nos anos 1970 e início da década de 1980, o Fed oscilou entre aumentar as taxas de juros para controlar a inflação e reduzi-las para estimular a atividade econômica.
Essa forma de política monetária, muitas vezes chamada pelos economistas de “para e vai”, foi desastrosa para a economia. O Fed não conseguiu domar a inflação nem fazer a economia crescer.
Embora a inflação esteja diminuindo, ela permanece mais do que o dobro da meta de 2% do Fed. É por isso que o banco central está focado em reduzir a inflação acima de tudo por enquanto, disse Ernest.
Os preços dos serviços não estão caindo tão facilmente quanto os de bens
Uma das razões pelas quais o Fed está lutando para reduzir a inflação é que os preços dos serviços não estão respondendo bem aos aumentos das taxas.
Os preços dos serviços medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor aumentaram 7,1% no ano. Enquanto isso, os preços de bens e serviços aumentaram 5% no mesmo período.
Os preços dos serviços são mais difíceis de serem influenciados pelo Fed porque geralmente estão atrelados aos salários, que aumentaram 5,1% em relação ao ano anterior, de acordo com o Índice de Custos de Emprego.
O Fed não está preocupado com uma crise bancária sistêmica
Se o Fed visse as recentes falências bancárias como um problema sistêmico, provavelmente reconsideraria o aumento das taxas novamente. Mas as autoridades não expressaram nenhuma dessas preocupações.
“A falência de um banco regional não é motivo para o Fed mudar sua estratégia”, disse Ernest à CNN. “É certamente chocante e causa flashbacks [da crise financeira em] 2008”, acrescentou, mas, até agora, não há razão para acreditar que a história se repetirá.