Por que Elon Musk não é mais o “queridinho” de Wall Street
Empresa enfrentou problemas de desempenho com atrasos e paralisações na cadeia de suprimentos na China, levando a um decepcionante relatório de vendas do terceiro trimestre
O caso de amor de Wall Street com Elon Musk, CEO da Tesla, poderia ter acabado?
Seis meses atrás, as ações da Tesla estavam em alta. A empresa foi avaliada em US$ 1,1 trilhão – mais de uma dúzia de outras grandes montadoras combinadas – e anunciou planos para uma proposta de desdobramento de ações.
Então Musk revelou que se tornou o maior investidor no Twitter, seguido logo por um anúncio de seus planos de comprar a empresa de mídia social. Desde então, as coisas não foram as mesmas para as ações da Tesla.
E, embora os esforços de Musk para comprar o Twitter – e depois rever a compra – tenham levantado preocupações dos investidores sobre a perda de foco do importante CEO da fabricante de veículos elétricos.
A empresa enfrentou problemas de desempenho com atrasos e paralisações na cadeia de suprimentos na China, causando gargalos na produção e levando a um decepcionante relatório de vendas do terceiro trimestre no domingo, que ficou bem aquém das expectativas de Wall Street.
Na sexta-feira (30), as ações caíram 27% em relação a 1º de abril, um dia antes da divulgação do investimento de Musk no Twitter. E eles caíram mais 8% nas negociações do meio-dia de segunda-feira após o relatório de vendas.
Os críticos da Tesla há muito argumentam que a incrível valorização das ações – as ações subiram quase 1.900% desde quando a empresa finalmente alcançou a lucratividade no outono de 2018 até seu preço máximo no início de abril – nunca foi justificada. E eles dizem que os problemas atuais são um sinal de reveses futuros que virão com as ações.
“Em geral, coisas muito ruins acontecem quando a produção diminui, os preços caem e o mercado está creditando a você um preço futuro para ganhos múltiplos de 45,3 vezes as estimativas de ganhos”, disse o analista Gordon Johnson, um dos maiores ursos da Tesla em Wall Street.
Mas os fãs da montadora em Wall Street preveem que a empresa ainda está bem posicionada à medida que a demanda por veículos elétricos cresce.
“Em poucas palavras, este trimestre não foi nada para escrever e o mercado ficará desapontado com o número de entregas mais suave no terceiro trimestre”, disse Daniel Ives, analista de tecnologia da Wedbush Securities. “Dito isso, vemos mais como uma lombada logística do que o início de uma trajetória de entrega mais suave”.
A empresa passou a última sexta-feira exibindo seus robôs mais recentes e, em uma série de tweets no fim de semana, o bilionário voltou a prometer que seu negócio de robôs transformaria as vendas e a lucratividade da empresa. Ives disse que o momento do dia da IA da empresa foi ruim para a avaliação das ações.
“Mesmo sendo visionário, acho que não está lendo a sala. Há uma visão de que ele não está focado no que precisa ser feito agora”, disse Ives. “Não é uma ótima aparência para Wall Street quando você faz um dia de IA na sexta-feira e perde uma entrega no domingo”.
Mas esta não é a primeira vez que os comentários do empresário causam problemas para o valor das ações nos últimos seis meses.
Duas novas fábricas que a Tesla abriu no Texas e na Alemanha foram descritas por Musk como “gigantescas fornalhas de dinheiro”, queimando bilhões em dinheiro enquanto lutavam para aumentar a produção. Ele até mencionou o risco de falência em uma entrevista.
Como se tudo isso não tivesse sido um vento contrário suficiente para as ações da Tesla, Musk saiu e disse em junho que tinha um “sentimento super ruim” sobre a economia e anunciou planos de cortar funcionários assalariados.
“Musk colocou combustível em um incêndio, e o fiasco do Twitter aumentou o que tem sido um pesadelo de seis meses para as ações”, disse Ives.
Mas os problemas para as ações da companhia não são únicos.
Muitas das outras ações de alta tecnologia sofreram declínios semelhantes nos últimos seis meses. O mercado tornou-se baixista quando os bancos centrais de todo o mundo elevaram as taxas de juros, provocando preocupações sobre uma possível recessão global.
As ações da Apple caíram 21% no segundo e terceiro trimestres, enquanto as ações da Alphabet, controladora do Google, caíram 31%, e as ações da controladora do Facebook, Meta, caíram 39%. As ações da Amazon perderam 31%.
Esse ambiente de mercado torna ainda mais crítico que a Tesla melhore sua execução como forma de garantir aos investidores que o valor das ações não é tudo fumaça e espelhos.
“Você precisa executar para manter a fé entre os investidores em crescimento”, disse Ives. “Nos últimos dois trimestres, eles não cumpriram esse padrão”.
