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    Por que big techs estão desacelerando contratações ou fazendo demissões em massa

    Se durante a pandemia as grandes empresas de tecnologia expandiram como nunca, agora momento é de corte e contenção de custos

    Expectativa é de que as gigantes da tecnologia sigam tendência de preservação de recursos
    Expectativa é de que as gigantes da tecnologia sigam tendência de preservação de recursos Divulgação

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business

    em São Paulo

    Twitter, Meta, Amazon e Apple formam o grupo das chamadas big techs, como são conhecidas as grandes empresas de tecnologia, muitas delas criadas ou com forte presença no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e com histórico de disrupções, seja em tecnologia, comunicação ou modelo de negócio.

    Mas recentemente as big techs também estão reunidas em outro grupo: o de grandes empresas em processo de demissão em massa ou pausa nas contratações. A Meta e a Amazon, por exemplo, dispensaram nas últimas semanas mais de 20 mil funcionários sob a alegação de custos crescentes e o atual ambiente macroeconômico.

    Na sexta-feira (18), centenas de funcionários do Twitter optaram por se demitir da empresa após um ultimato do novo proprietário, Elon Musk. A plataforma já havia cortado 50% de seus funcionários logo após a chegada de Musk ao comando, segundo o chefe de segurança e integridade da rede social no início deste mês.

    Para especialistas, as big techs experimentaram um cenário favorável nos últimos anos, principalmente com a pandemia, por conta do isolamento social, com empresas buscando maior presença digital.

    Nesse contexto, essas companhias do setor de tecnologia realizaram um grande volume de contratações, tendo um crescimento exponencial desde a base até os cargos de alto nível de especialização que, naturalmente, são mais custosos.

    A Meta, dona do Facebook, por exemplo, passou de 48.268 funcionários em março de 2020 para mais de 87.000 em setembro deste ano.

    Pós-pandemia e guerra

    Após esses anos de bonanças, o cenário pós-pandêmico é outro. O aumento dos preços causado pela quebra das cadeias globais e a guerra na Ucrânia, somado ao aumento das taxas de juros pelos bancos centrais ao redor do mundo impactou o setor de tecnologia. É o que explica Rafael Nobre, analista Internacional da XP.

    “Os apertos monetários acabam causando uma desaceleração econômica. Muitos países ou regiões hoje já estão até mesmo com o risco de entrar em recessão. Esta desaceleração é refletida diretamente nos balanços destas empresas, que acabam sofrendo com queda de receita e, atualmente, ainda tem o agravante da inflação que causa aumento nos custos”.

    Na segunda feira (14), o CEO da Apple, Tim Cook, em entrevista à emissora norte-americana CBS, confirmou que a empresa desacelerou as contratações por conta do atual ambiente econômico.

    Em julho, ao anunciar uma desaceleração no ritmo de contratações no restante do ano, a Alphabet, controladora do Google, escreveu: “Como todas as empresas, não estamos imunes aos ventos contrários econômicos”.

    Na quarta-feira (16), a Amazon confirmou que as demissões começaram na empresa, dois dias depois que vários pontos de venda informaram que a gigante do comércio eletrônico planejava demitir cerca de 10.000 funcionários. A varejista não confirmou – nem negou – esse número.

    Antes mesmo da confirmação das demissões, a empresa também havia informado uma pausa nas contratações corporativas e que deve manter essa política em vigor por meses.

    “Prevemos manter essa pausa nos próximos meses e continuaremos monitorando o que estamos vendo na economia e nos negócios para ajustar conforme acharmos que faz sentido”, disse Beth Galetti, vice-presidente sênior de experiência e tecnologia de pessoas da Amazon, em um memorando aos funcionários no início deste mês.

    Nobre diz que, historicamente, em casos de recessão, os lucros das companhias americanas tendem a contrair, em média, 12,1%. Consequentemente, a avaliação é de que essas empresas estão se preparando para os tempos mais duros que virão pela frente. “Nosso time de estratégia macroeconômica global trabalha com uma recessão moderada como cenário base em 2023”, completa.

    Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação lembra que as big techs dependem de licença de software ou de anunciantes, áreas que foram impactadas com a retomada das atividades presenciais e as flexibilizações das medidas restritivas anunciadas.

    Ainda neste ano, a gigante do streaming, Netflix, realizou cerca de 450 demissões – 150 em maio e 300 em junho – alegando a desaceleração do crescimento da receita e perda de anunciantes. As ações da empresa chegaram a cair cerca de 70% no primeiro semestre de 2022.

    A carta publicada pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg, para esclarecer o desligamento de 11 mil funcionários da empresa cita justamente as mudanças no comércio online e a queda nas receitas publicitárias.

    “Não apenas o comércio online voltou a suas tendências anteriores, mas a desaceleração macroeconômica, o aumento da competição e a perda de sinais na publicidade têm feito nossa receita ser muito menor do que eu esperava. Minha leitura foi errada e eu assumo a responsabilidade por isso”, diz o texto.

    O CNN Brasil Business entrou em contato com o Twitter, Meta, Apple e Amazon para um posicionamento sobre as demissões. Em resposta, a Apple informou que não comentaria sobre demissões que teriam ocorrido na empresa. Já a Meta informou que todas as informações estão presentes na carta divulgada por Zuckerberg. Por fim, Twitter e Amazon não deram retorno até o momento.

    O que esperar

    A expectativa agora é que as gigantes da tecnologia sigam tendência de preservação de recursos, acreditam os especialistas. “Provavelmente nós não viveremos um cenário de juros baixíssimos e custo de capital bem baixo como vimos na última década. Nos próximos anos, devemos lidar com uma inflação e juros estruturalmente mais altos, o que é um cenário menos favorável para as empresas de alto crescimento”, avalia Rafael Nobre.

    Os impactos dos apertos monetários vistos globalmente, principalmente aqueles anunciados pelo Federal Reserve (Fed – o banco central dos Estados Unidos), já começam a ser sentidos na economia. Logo, essa desaceleração acaba demandando uma estrutura mais eficiente e enxuta para que as empresas consigam fazer a manutenção de sua rentabilidade.

    Sendo assim, os especialistas entendem que daqui para frente é improvável observarmos investidores tomando um risco muito alto em busca de maiores retornos, uma vez que a renda fixa se torna mais atrativa.

    “Acima de tudo, estão parecendo cada vez mais com empresas padrão. As big techs tiveram uma dominância gigante na bolsa americana, especialmente, ao longo dos anos 2020 e 2021, e agora elas enfrentam as mesmas questões das demais empresas. Elas sempre foram tratadas com se fossem uma categoria absolutamente a parte e agora a realidade bateu e estão tendo que fazer esses ajustes”, resume Arthur Igreja.

    Lições para o Vale do Silício

    Segundo os especialistas, a lição que fica para as lideranças do Vale do Silício é a de que essas empresas não estão descoladas do mundo real.

    “O que fica de lição para o Vale do Silício é que nos próximos anos acabou a era do “crescimento a qualquer custo”. Empresas deverão focar em estruturas rentáveis, que geram caixa e sejam sustentáveis”, diz Rafael Nobre.

    Para Arthur Igreja, o legado desse cenário é o de que essas empresas precisam trabalhar com estimativas mais realistas e aprender que mesmo os gurus do Vale do Silício também cometem equívocos.

    “Estamos vendo isso não só com as big techs, mas com as empresas de criptoativos, onde a FTX é o grande case do momento. É uma lição de humildade, onde é importante saber que nem sempre é possível sustentar o crescimento. E essas empresas dependem muito de projeções, faturas generosas e otimistas. E agora, cada vez mais, elas têm que gerar caixa e ter uma certa austeridade”.