Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Por que a Rússia está gastando milhões de dólares em gás todos os dias

    Analistas avaliam que pode ser parte de operações de rotina ou uma mensagem para a Europa

    Anna Coobando CNN Business*

    A Rússia está queimando cerca de US$ 10 milhões em gás natural por dia perto de sua fronteira com a Finlândia, dizem analistas, mesmo enquanto ameaça empurrar a Europa para uma crise energética de inverno ao restringir as exportações para a Alemanha e outros países.

    A gigante estatal de gás Gazprom está gastando, ou “queimando”, cerca de 4,34 milhões de metros cúbicos de gás por dia em uma nova instalação de gás natural liquefeito (GNL), de acordo com a análise dos níveis de calor e dados de satélite da Rystad Energy.

    Isso equivale a 1,6 bilhão de metros cúbicos anualmente, ou cerca de 0,5% da demanda de gás do bloco, e vale cerca de US$ 10 milhões por dia com base no preço do gás spot europeu da semana passada. A análise de Rystad foi relatada pela primeira vez pela BBC na sexta-feira (26).

    A queima na fábrica de Portovaya da Gazprom é um “desastre ambiental”, disse Rystad, com cerca de 9.000 toneladas de dióxido de carbono sendo emitidas todos os dias. Essa é a mesma quantidade de emissões produzidas ao longo de um ano inteiro por mais de 1.100 lares americanos médios.

    A usina fica próxima a uma estação de compressão no início do gasoduto Nord Stream 1, uma das principais artérias de transporte de gás russo para a União Europeia.

    Rystad disse que a Rússia está queimando gás que, de outra forma, seria exportado para a Europa por meio do gasoduto, que geralmente representa mais de um terço das importações de gás da Europa, mas onde os fluxos foram reduzidos a apenas 20% dos níveis normais.

    A Gazprom, empresa estatal de energia da Rússia, não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da CNN.

    No geral, as exportações de gás da Rússia para a Europa caíram 77% até agora este ano em comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com Rystad. No ano passado, Moscou respondeu por 45% das importações totais de gás da União Europeia, mostram dados da Agência Internacional de Energia.

    O bloco vem tentando se livrar do gás russo desde a invasão da Ucrânia, há seis meses. Está correndo para encher suas instalações de armazenamento, reduzir sua demanda e garantir fontes alternativas de energia para evitar ter que racionar energia neste inverno.

    Então, por que a Rússia está enviando parte de seu precioso gás em fumaça? Pode ser parte de operações de rotina – ou pode estar enviando uma mensagem para a Europa.

    “A chama ardente é altamente visível, talvez indicando que o gás está pronto e esperando para fluir para a Europa se as relações políticas amistosas forem retomadas”, disse Rystad em sua nota.

    Procedimento de rotina?

    A instalação de GNL em Portovaya deve ser inaugurada ainda este ano, disse Rystad, e a queima geralmente ocorre como parte dos testes de segurança de rotina de novas plantas.

    Mas, “a provável magnitude e duração desse período de queima contínua é bastante extrema para que essa seja a única explicação”, acrescentou. “Esse tipo de queima nunca aconteceu na história”, disse Zongqiang Luo, analista sênior de gás e GNL da Rystad, ao CNN Brasil Business, referindo-se aos níveis de calor radiante detectados na área.

    “Para a instalação de GNL de Portovaya, esse tipo de queima é muito grande”, acrescentou.

    Henning Gloystein, diretor de Energia, Clima e Recursos do Eurasia Group, disse ao CNN Business que a Rússia provavelmente está queimando gás criado como subproduto durante a produção de petróleo.

    “Em tempos normais, muito desse gás teria sido usado para alimentar a rede de gasodutos e vendido para a Europa. Como a Rússia cortou drasticamente o fornecimento para a Europa, o gás inicialmente foi para o armazenamento doméstico russo. o gás não tem para onde ir, por isso está sendo queimado”, disse ele.

    Problemas operacionais?

    A Rússia pode estar enfrentando vários problemas.

    Mark Davis, CEO da Capterio, uma empresa que aconselha empresas de energia sobre como queimar seu gás, disse que a prática é comum em toda a Rússia. “Acho que é mais provável que seja um problema operacional com o qual a operadora Gazprom esteja lutando”, disse ele à CNN Business. Uma explicação poderia ser a falha do equipamento.

    Mas a localização levanta questões. A Gazprom provavelmente terá transportado o gás por uma grande distância do campo de gás Yamal até a usina de Portovaya, disse Rystad, quando poderia ter sido queimado mais perto da fonte.

    “O custo de compressão e transporte de gás do campo de Yamal para o Mar Báltico também deve gerar perdas desnecessárias para a Gazprom”, afirmou. Gerenciar a extensa infraestrutura de gás da Rússia é complexo, acrescentou, de modo que a escolha do local para queimar o gás pode se dever à falta de coordenação entre as operadoras.

    Uma mensagem para a Europa?

    A Rússia também pode estar enviando uma mensagem para a Europa. “[Rússia] pode estar fazendo um ponto político, tentando dizer [para a Europa] ‘olha, nós temos esse gás, e estamos queimando, você está escolhendo tornar difícil para nós colocá-lo no mercado'”, disse Davis.

    Rystad começou a investigar a queima de gás em Portovaya depois que pessoas na Finlândia avistaram grandes chamas em julho.

    A Rússia está envolvida em um impasse energético com a Europa desde que invadiu a Ucrânia no final de fevereiro. Nos últimos meses, a Gazprom reduziu os fluxos através do Nord Stream 1 devido a uma disputa com o Ocidente sobre uma turbina desaparecida. Também cortou completamente o fornecimento para outros estados da UE por sua insistência de que países “hostis” paguem pelo gás em rublos, em vez de euros ou dólares.

    “Desastre ambiental”

    Além do CO2 que a chama está liberando na atmosfera, provavelmente também está danificando o meio ambiente de outras maneiras. Davis disse que a queima provavelmente produziria fuligem que é particularmente destrutiva para a região do Ártico. Grande parte da fuligem acabará no gelo do Ártico e absorverá mais calor do sol, acelerando o derretimento do gelo.

    “Quase certamente, a chama não está operando com 100% de eficiência e, portanto, também está emitindo metano, que é 80 vezes mais potente como gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono”, disse Davis.

    *Nadine Schmidt e Mark Thompson contribuíram com reportagem

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

    versão original