Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Parceria entre Google e NYT fortalece imprensa e é sinal contra fake news, dizem especialistas

    Em acordo, buscador irá pagar R$ 100 milhões ao New York Times por três anos pelo direito de divulgar conteúdos do jornal em suas plataformas

    Sede do Google em Seattle (EUA)
    Sede do Google em Seattle (EUA) Foto: Toby Scott/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

    Juliana Eliasda CNN

    em São Paulo

    O jornal norte-americano The New York Times, um dos maiores e mais influentes do mundo, deve receber cerca de US$ 100 milhões pelos próximos três anos para permitir que o Google compartilhe suas publicações em diferentes plataformas. As informações foram reveladas na quarta-feira (10) por reportagem do Wall Street Journal.

    Para especialistas, o alto valor do contrato aponta para valorização do trabalho jornalístico, que vem aos poucos recuperando receitas globalmente nos últimos anos — depois de duas décadas em que sofreu com a perda de assinantes, com o advento da internet e a fome por conteúdo gratuito.

    Por outro lado, a união de gigantes também reflete a preocupação do Google e de sua controladora, a Alphabet, em reagir à crescente pressão de governos e da sociedade sobre as grandes plataformas digitais por maior comprometimento no combate à disseminação das “fake news”.

    “É, com certeza, uma resposta da empresa a toda essa movimentação, para ficar mais bem vista nos olhares da sociedade”, diz Lucas Cabral, analista de Business Intelligence da Play9, agência de conteúdo e impulsionamento para influencers e marcas no ambiente digital.

    Para o especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja, o contrato entre as empresas é “histórico” e deve abrir portas para que outros acordos nestes moldes sejam firmados ao redor do mundo.

    “Entendo que é um acordo histórico que pode abrir portas para inúmeros outros contratos nos moldes do que temos, por exemplo, no streaming de vídeo, em que é muito comum alguém produzir um conteúdo e depois ele ser licenciado e transmitido em inúmeros outros ambientes”, explicou.

    Acordo ocorre em meio a debate sobre fake news

    Os especialistas destacam que, entre outras questões que dizem respeito à regulação das mídias, nuances sobre conteúdos jornalísticos estão em pauta na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil.

    Atualmente é debatido no Congresso Nacional o PL 2630, que ficou conhecido como “PL das Fake News” e traz propostas para regular os limites e responsabilidades das plataformas digitais em relação aos conteúdos que veiculam.

    Entre os assuntos abordados pela proposta, estão, justamente, a remuneração ao conteúdo jornalístico, publicidade digital e regulações específicas para essas plataformas.

    Arthur Igreja aponta que o acordo fechado pelo NYT deve também ser conferida à influência e poder de barganha do jornal. Ele destaca a remuneração desigual de veículos de menor proporção e o debate sobre regulação como possível solução.

    “Esse debate [remuneração do conteúdo jornalístico e “distribuição de forças] está muito aquecido na Europa e também faz parte desse projeto de lei que está em discussão aqui no Brasil”, indica.

    “Muitos apontam, inclusive, que isso [direitos autorais e remuneração do conteúdo jornalístico] poderia ser desmembrado e não fazer parte do PL das fake news. Tenho certeza que esse acordo começa a ser visado como um potencial modelo em diversos países”, completa.

    Detalhes do acordo

    O acordo do Google com o maior jornal dos Estados Unidos foi firmado em fevereiro. O New York Times chegou a noticiar a parceria, mas não havia detalhado o valor, agora divulgados por uma fonte com conhecimento do assunto, de acordo com a reportagem do WSJ.

    Segundo o próprio NYT, as empresas trabalharão juntas em ferramentas para distribuição de conteúdo e assinaturas, usando as ferramentas do Google para marketing, experimentação de produtos publicitários e, posteriormente, no Subscribe with Google (assinatura de notícia) e no Google Ad Manager (anúncios).

    “A The Times Company e o Google já colaboraram anteriormente no uso de novas tecnologias para atender às necessidades de negócios, incluindo a transformação da infraestrutura de dados da empresa com o Google Cloud, expansão dos formatos de anúncios do The Times usando o Google Ad Manager, digitalização do arquivo de fotos e recortes do Times e aplicação de aprendizado de máquina de técnicas para moderação de comentários”, diz o comunicado do periódico.

    Para Lucas Cabral, a parceria milionária pode render frutos benéficos para ambos os atores envolvidos.

    “É mais investimentos para o jornal investir em mais redatores e mais produção de conteúdo. Para o Google, o interesse também é visível: quanto mais relevante for a notícia que ele veicula, mais ele vai atrair tráfego e mais vai poder fazer publicidade dentro das suas páginas”, completa.

    Procurado para comentar, o Google respondeu que não compartilha “detalhes de acordos comerciais confidenciais com parceiros”, mas destacou que a empresa remunera, globalmente, mais de 2.200 publicações em 21 países, por meio do Google Destaques, que é um programa de licenciamento de conteúdo.

    No Brasil, diz a plataforma, são mais de 150 veículos de notícias em 20 estados brasileiros. “Somos um dos maiores financiadores do jornalismo no mundo por meio de nossos programas, parcerias e produtos”, afirmou a empresa.

    O faturamento do New York Times foi de US$ 2,3 bilhões em 2022, um aumento de 11,3% sobre o ano anterior, impulsionado pelo crescimento das assinaturas digitais.

    Foi só em 2020 a primeira vez que o jornal, fundado em 1851, anunciou ter tido receitas maiores com suas operações digitais do que com a tradicional versão impressa da publicação.

    Publicado por Danilo Moliterno.