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    O teto de gastos é o que permite inflação e juros baixos, diz Mesquita, do Itaú

    Em entrevista ao Economia Pós-Pandemia, o economista-chefe do Itaú não acredita que o auxílio emergencial possa ser continuado sem uma reforma administrativa

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As discussões sobre uma reforma no teto de gastos têm ganhado espaço em Brasília. Mesmo negando oficialmente que qualquer mudança será feita na regra, que limita o crescimento das despesas do governo federal à inflação do ano anterior, o governo tem ventilado alterações que devem, sim, aumentar o gasto público. 

    A extensão do auxílio emergencial (que pode passar para o Renda Brasil) e o programa Pró-Brasil, que quer incentivar obras de infraestrutura com dinheiro público, são apenas duas delas.

    A falta de equilíbrio entre o teto e os benefícios sociais, no entanto, preocupam bastante o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita. Em entrevista ao CNN Business para a série Economia Pós-Pandemia, Mesquita afirma que sinalizações contrárias a manutenção do teto podem fazer com que o Brasil perca algo que nunca teve em sua história: inflação controlada e juros baixos ao mesmo tempo. 

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    E não é que ele não entende a importância do auxílio emergencial para que o tombo da economia não seja menor em 2020. Ao contrário. Mesquita afirma que faz todo o sentido esse tipo de benefício para combater a pobreza e a desigualdade. 

    Ao mesmo tempo, contudo, o economista não acredita que o auxílio possa ser estendido sem ser acompanhado de mudanças estruturais do governo, como uma reforma administrativa, que visa diminuir os gastos do governo – especialmente os custos com servidores públicos. 

    “O discurso meritório de consolidar e ampliar os mecanismos de transferência de renda faz sentido, mas como conseguiremos compatibilizar com o teto de gastos? Ele que nos permite ter inflação baixa com juros baixos, como temos hoje”, diz Mesquita.

    Não por acaso, o Itaú Unibanco piorou as estimativas para o déficit primário de 2020. De R$ 740 bilhões, o rombo foi para R$ 800 bilhões – o equivalente a 11% do PIB. Para a queda da economia, o número se manteve: queda de 4,5%, com 10,6%. Mas Mesquita acredita que pelos dados do Itaú Daily Activity Tracker (IDAT), que é um índice diário do Itaú, que o fundo do poço pode até ser menor.

    O índice começa na base de 100 pontos em março, mas despencou para 55 pontos em março. Em agosto, já está circulando entre 80 e 85 pontos. “A boa notícia é que, por esse indicador, já recuperamos boa parte do terreno perdido, mas a má notícia é que a melhora perdeu consistência e começou a andar mais de lado”, diz o economista-chefe.

    Reformas? Só em 2021

    Há alguns meses, o mercado de capitais já demonstra boa animação, com a bolsa ultrapassando os 100.000 pontos novamente – e por lá ficando, mesmo com certa volatilidade. Com o juro baixo, a entrada de pessoas físicas na bolsa e alta liquidez no mercado internacional ajudaram a esse cenário.

    Mas isso pode mudar, na visão de Mesquita, se as reformas não passarem. Além da administrativa, o economista destaca a tributária e os marcos legais de infraestrutura. Porém, ele não consegue enxergar uma possibilidade de projetos importantes serem aprovados em 2020, ainda mais com eleições municipais.

    Com isso, a única janela que sobra é o ano de 2021. Segundo o economista, se não for nesse ano, ficará para o próximo mandato presidencial (seja quem for o presidente). 

    “Acho que 2021 é o consenso. Em 2022, com eleições presidenciais e para o Congresso e a classe política fica mais voltada para isso”, diz ele. 

    Um risco que o economista do Itaú pontua é o aumento da instabilidade global. A guerra comercial entre Estados Unidos e China, piorando, não ajuda em nada ao Brasil. Na verdade, atrapalha. “Crescimento mundial menor significa crescimento menor no Brasil. Não tem como ter benefício com essa situação”, diz Mesquita.

    As eleições americanas, por sua vez, devem ter um efeito menor na volatilidade dos mercados em 2020 se comparado a 2016. Isso porque, de acordo com Mesquita, as coisas estão se caminhando para uma vitória do democrata e ex-vice-presidente Joe Biden, mais ligado ao “mainstream” político dos Estados Unidos. 

    Obviamente, o presidente Donald Trump pode virar o jogo, mas Mesquita pontua modo de agir de Trump já é conhecido.  “Bem ou mal, o Trump já conhecemos”, diz ele. Por isso, o foco de incerteza está mesmo no Brasil.

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